Capítulo 4

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     Um céu azul. Um grande e belo céu azul estava em meu campo de visão. Não lembrava como nem quando tinha chegado aquele lugar... Mas agora isso não me importava, apenas conseguia ficar a admirar o céu azul, quase como se estivesse encarando-o. Ele era lindo. Eu poderia, facilmente, passar horas e mais horas admirando aquele céu.

     Um ponto branco naquele imenso azulado chamou-me atenção. Era uma andorinha. Não uma simples andorinha. Esta apresentava um branco claro e do mais puro possível. Chegava a quase se camuflar nas nuvens. Ela parecia feliz. Ter os céus todos para aventurar-se deve ser libertador, qual seria a sensação?

     Decorrido algum tempo que estava a observar a andorinha, notei uma mancha cinza em sua asa esquerda. Aquela mancha aumentava e escurecia gradativamente à medida que a andorinha perdia altitude, ao mesmo tempo em que os céus também adquiriam um tom de azul mais escuro, como se o dia se transformasse em noite, em questão de segundos. Após alguns breves instantes, a andorinha, que agora estava totalmente escura, veio a cair. Ao atingir o chão, escutou-se um barulho seco e logo em seguida os piados agonizantes da ave, tentei correr pra ajudá-la. Não importa o quanto me esforçasse e quisesse chegar a ela, todos os meus esforços eram em vão. Eu não conseguia sair do lugar. Quanto mais corria, mais distante a andorinha parecia estar. Até que por fim, a escuridão total reinava. Era como se algo estivesse cobrindo minha visão. Tudo que se via era o preto sinistro do escuro.

     —Raphael... — chamava-me uma voz em minha cabeça – Raphael... — agora, num tom mais alto, porém ainda calmo – Raphael... Acorde!

     Despertei-me. Estava deitado em minha cama. Ainda com a visão meio turva, visualizei uma pessoa sentada em minha cama. Era minha avó.

     —Raphael, acorde! – dizia-me em tom calmo, ela constantemente era assim. – Já passam das 11 horas, já está na hora de levantar.

     —Ah... Bom dia vó! – falei, dando um sorriso amoroso. Eu a amava muito. Ela era a única família que me restara, apesar de não ter traços sanguíneos, sempre considerei Alice como minha avó. Fui abandonado pelos meus pais assim que nasci, pelo visto eu não fui um bebê muito aguardado. Eles me largaram na frente da porta da casa de Alice. Embora não tenha memórias sobre a reação dela quando me achou, sempre fui tratado com respeito e amor. Ela tinha um bom coração. Jamais procurei saber sobre o paradeiro atual dos meus pais. Confesso que me pergunto o porquê deles terem me abandonado, mas nada que despertasse curiosidade de procurar pelas pessoas que me largaram. As coisas estavam bem do jeito em que se encontravam.

     — A senhora sabe dizer que dia é hoje? – perguntei ainda meio desorientado. Aquele pesadelo vinha me atormentando há algumas semanas e eu nunca conseguira alcançar a andorinha...

     — Ora, nem você sabe que dia é hoje? – riu – Levante-se! – Não sabia o motivo, mas mesmo assim a obedeci e me levantei, ainda com um pouco de dificuldade. Todos os meus ferimentos já haviam cicatrizado... Como tão rápido?

     Mal terminei de me levantar, ela me olhou com uma cara séria e, quando menos esperei, abraçou-me com força.

      —Feliz aniversário, meu filho! – assim que a escutei, caiu a ficha. Estávamos na metade de junho, perto do término das aulas. Era meu aniversário!

      —Obrigado, vó! – abracei-a firmemente – Muito obrigado por ter cuidado tão bem de mim, durante todos esses 16 anos. Eu te amo muito!

      Permanecemos abraçados por um tempo, ela me desejando todas as coisas positivas possíveis. Sempre fomos muito unidos e afetivos. Por último, ela me abraçou com mais força, ficou de ponta de pé para poder me dar um beijo na testa e então foi em direção à porta do quarto.

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