Depois do Acampamento

Capítulo 15

(Samuela)

Sempre sonhei em ter duas filhas. Duas meninas. Desde quando era criança. Duas bonecas, dois vestidos iguais, duas mamadeiras. Dois pratinhos de comida, duas cadeirinhas no carro, dois corações fora do corpo.

Minhas duas meninas. Os dois presentes que Deus me deu para criar, cuidar, ensinar e amar.

Mas nas últimas semanas... Para ser mais específica, desde que Safira entrou em coma na UTI, o Espírito Santo tem trabalhado profundamente no meu coração. E Ele tem me ensinado que nada nessa Terra é meu: a casa onde moro, as roupas que uso, o trabalho do qual ganho dinheiro, os bens que adquiri, a família da qual faço parte... Nem meu marido, nem minhas filhas!

E eu venho aprendendo, cada vez mais consciente, que Deus tem um plano para tudo. Que nós sempre iremos querer que a nossa vontade seja feita por Ele, mas que os sonhos que Ele tem são muito maiores e melhores que os nossos (Isaías 55.8); que nós podemos até fazer planos, mas que a resposta certa apenas Ele possui (Provérbios 16.1); que nós não sabemos lidar com a dor, mas podemos jogar sobre Ele todas as nossas dores, aflições, medos e ansiedades, porque é Ele quem cuida de nós (1Pedro 5.7); que nós, muita das vezes, não conseguimos aguentar perder alguém, mas que os nossos dias já foram contados por Deus muito antes de nascermos (Jó 14.5).

Ele é organizado e tem tudo sob controle, porque Ele é conhecedor de todas as coisas (1João 3.20) e de todos os tempos (Isaías 46.9-10) e de todas as vidas (Salmos 139) e de todas as circunstâncias (Jeremias 23.24)... Sua vontade é boa, agradável e perfeita (Romanos 12.2).

Deus vem me ensinando isso carinhosamente em nossas conversas, quando oro, canto ou leio a bíblia. As poucos, Ele vem acalmando meu coração e me preparando para o que quer que eu tenha que enfrentar.

Ele tem me feito entender que não posso exigir as coisas exclusivamente do meu jeito, porque tudo é dEle: todos os domínios do mundo, todas as pessoas da Terra, todas as criaturas do universo! E eu venho sentindo cada vez mais calma com isso.

Por incrível que pareça, e por mais que as outras pessoas não entendam, eu me sinto feliz! Feliz por ter Deus comigo, apesar de tudo o que estou passando! Feliz por estar em paz no meu interior, por saber que essa paz, que excede todo o entendimento, foi dada por Ele, e que não depende do que estou vivendo, mas de Quem está vivendo em mim! Jesus me faz feliz, Ele é a vida que há em mim, e essa vida não pode ser tirada com a morte de ninguém — nem mesmo a minha!

As minhas filhas são uma bênção de Deus para mim, e eu as amo! Mas sei que nunca, e em hipótese nenhuma, o meu amor por elas será maior que o Dele! E se Ele as ama mais do que eu, se Ele tem planos melhores que os meus, se Ele sabe muito mais que eu, eu sei que preciso entregá-las em Suas mãos e aceitar os Seus planos.

Nem sempre a vontade de Deus é compatível com a nossa, eu sei bem disso! E apesar da dor que estou sentindo e que ainda irei sentir, se Ele quiser levar a minha filha, eu vou aceitar. Eu vou aceitar e agradecê-lo, e continuar adorando a Ele, e vivendo para Ele, e pregando sobre Ele! Porque está Nele a minha essência, e é por Ele que respiro!

Como disse Jó: se Ele me deu, Ele pode tirar (Jó 1.21), e quem sou eu para reclamar? Quem sou eu para não aceitar seus planos? Sou apenas a poeira das solas dos Seus sapatos, não mereço o amor que Ele me oferece e não estou no direito de Lhe indagar absolutamente nada!

Pai, se essa for a Tua vontade...

Respiro fundo.

Cauã está ao meu lado, me abraçando, e as minhas lágrimas não param de correr.

Vai doer, Pai. Vai doer e eu sei que será muito difícil, mas também sei que Você estará ao meu lado em cada momento, cuidando de mim, segurando minha mão e me ajudando a continuar! Se essa é a Tua vontade, eu vou aprender com isso e prosseguir.

Se essa for a Tua vontade, Pai... Se for realmente isso que Você quiser... Eu aceito, Pai. Eu aceito!