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O domingo acordou nublado. O assobio da ventania que corria do lado de fora me acordou. Talvez o clima estivesse combinando bem com a situação lá em casa: Frio, obscuro e nebuloso. Minha mãe quase me matou no dia anterior quando descobriu que eu saí pela janela, então foi impossível sair à noite com a Katy e com o melhor amigo do meu ex.

O que foi bom, sempre que Katy levava ele para sair com a gente eu era obrigada a ficar escutando as histórias de Tom e de como ele estava feliz com sua mulher. Se bem que naquele dia aquilo nem me atingiria mais, o meu pensamento já estava tomado por outra pessoa e eu estava cada vez mais obcecada por ela.

Mas mesmo assim decidi obedecer minha mãe e não sair. Então passei a noite pensando no meu barbudo. Pera ai... MEU? Sim, meu. Quando eu quero algo eu vou até o fim. E por incrível que pareça eu sempre consegui ter todos os homens que eu quisesse, o problema é que durante o longo período que existiu entre Tom e Zayn eu não quis ninguém.

Estava açoutada pela escuridão da minha alma e talvez tivesse me esquecido como era amar alguém. Mas como tudo nessa vida passa, aquilo também passou, graças a Deus. E eu estava disposta a voltar a ser a Nicole de antes: A sedução em pessoa. Sedução não, talvez a minha segurança me desse alguma diferencial. Mas enfim, cada um trabalha com o que tem.

Depois de uma ótima noite de sono, recheada de sonhos, me levantei. Eu e minha mãe sempre fomos acostumadas a ir à missa aos domingos de manhã, mas naquele dia o tempo ameaçava chuva, então, decidimos ir à noite.

Eu passei o dia inteiro lendo os meus livros. Geralmente eu tirava os domingos para ver filmes, mas como eu já havia assistido todos os que eu achava interessante, decidi ler. Eu precisava fazer o tempo passar de alguma forma. Eu não via a hora de chegar logo segunda feira pra eu trabalhar. Eu sempre tinha a esperança de encontrar o meu Zayn lá.

E outra, eu ainda tinha que bolar um plano para acabar com a ideia maluca da minha mãe de me mandar pedir demissão. E além de tudo, ela ainda queria ir para a casa do meu avô no interior da Alemanha. Como é que eu ia sobreviver lá? Ver o Zayn passou a ser o motivo de eu acordar todos os dias. Eu tinha que ficar em Paris.

Talvez eu estivesse com um pensamento meio compulsivo. Mas eu estava mesmo. Eu queria aquele homem pra mim, e eu não estava vendo um retorno claro dele. E além de tudo, ele ainda tinha a maluquice de me mandar tirar o meu colar. E é claro que eu não iria, mas passei a esconde-lo de trás das roupas todos os dias.

Enfim, o dia passou de pressa e logo a noite caiu. Eu coloquei um vestido longo e sai com mamãe. Apesar dela não estar de bem com a vida e nem comigo, ela dirigiu a palavra a mim somente para dizer que naquele dia iriamos a igreja Saint-Pierre de Montmartre. Ela decidiu ir assistir à missa lá por que a igreja, apesar de ser historicamente preciosa, não era a das mais visadas.

Mamãe estava com muito medo dos homens encapuzados, então, eu concordei em mudar de paróquia naquele dia, afinal, as missas são iguais em qualquer lugar do mundo. Nós pegamos o nosso carrinho e seguimos em frente. Não estava chovendo, mas o tempo estava bem frio. Acho que foi por isso que não vi quase ninguém na rua do percurso da minha casa até lá.

Passou um tempo e nós já estávamos em frente ao belíssimo edifício: Uma construção gótica revertida por longas colunas de mármore renascentista. Era como entrar em um portal para o passado. Eu já tinha escutado falar da igreja, mas nunca tinha ido lá.

Quando eu estava na escola, as minhas colegas sempre brincavam, dizendo que no dia dos finados os mortos do cemitério da igreja saiam para puxar os nossos pés. Eu nunca dei atenção. Eu não tinha medo de vivo e muito menos de morto. Pra mim eles sempre estiveram mortos e enterrados e se não me fizeram mal em vida, não era em morte que iriam fazer.

Mas enfim, eu sempre tive curiosidade de visitar esse anexo de cemitério que havia na igreja. Mas como ele só era aberto aos visitantes no dia primeiro de novembro, eu nunca lembrava de ir.

Nós saímos do carro e entramos na igreja. Eu fiquei ludibriada com tanto que o lugar era bonito, repleto de quadros e de esculturas belíssimas e antigas. Um verdadeiro relicário católico.

Tudo estava perfeito até o fim da missa. Quando eu e mamãe saímos da igreja e nos deparamos com vinte e cinco homens encapuzados. As mãos cruzadas e os olhares intensos em direção a todos que saiam da igreja.

De repente um deles atirou contra alguém que tinha acabado de sair. O tiro não pegou, mas serviu para alvoroçar todas as pessoas que estavam ali. Todo mundo começou a correr desesperado.

Mamãe pegou no meu braço e saiu às pressas me puxando pelo lado direito. Ela estava desesperada e abaixou para tentar escapar do segundo tiro. Eu podia sentir o nervosismo percorrer as veias de mamãe e aquilo começou a me atingir.

Eu queria entender o que estava acontecendo e só notei que a coisa estava feia quando uma mulher caiu ensanguentada bem na minha frente. Mesmo diante de toda aquela situação eu podia perceber que eu não estava tão amedrontada quanto o resto das pessoas que estavam ali. Mas eu peguei no braço de mamãe e sai correndo mais rápido.

Ela estava desesperada e não sabia para onde correr, nem eu. Quando olhei para trás vi mais algumas pessoas agonizando no chão. Os tiros começaram a ficar mais frequentes. Um homem gritou em meio as aos choros e suplicas.

- Nós estamos indo embora. Mas vocês todos irão morrer. De um a um. Todos os católicos de Paris irão morrer. – berrou um encapuzado que estava poucos metros de mim.

Eu estava tremula. Não conseguia achar o rumo do carro. Mamãe estava tão desesperada que paralisou. Eu estava vendo a hora de vê-la sofrer um ataque cardíaco. A minha pessoa era a única que podia tomar uma atitude ali. Mas eu parei por um instante. Estava curiosa.

Queria saber quem eram aqueles homens e por que que eles estavam com tanto ódio. Só que mais um homem atirou, dessa vez, em minha direção. Foi ai que eu saí correndo e escapei da bala por um raspão. Foi por pouco. Se eu fosse dramática poderia dizer que quase morri. Mas seria mentira. Simplesmente não era pra ser, e não foi. Ninguém morre se não tiver que morrer e eu não tinha medo da morte.

Confesso que naquele momento eu tremi um pouco. Senti a adrenalina viajar em minhas veias fazendo o meu coração bater mais forte. Então eu decidi sair correndo pelo lado esquerdo puxando mamãe pela mão. Foi ai que dei de cara com outro encapuzado. Pensei conhecer aqueles olhos de algum lugar.

Mas eu não tive muito tempo para olhar. Ele saiu correndo para o lado contrário. Eu encontrei o carro e segui dirigindo pra casa.

A vigésima quinta lua (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora