Segunda feira acordei decidida. Eu tinha que entregar a carta. Olhei no relógio e já eram sete horas da manhã. Levantei e fui direto para o banheiro me lavar.
Abri o armário e escolhi um vestido cinza. Combinava perfeitamente com o clima nublado daquele dia. Coloquei um casaco de pelo preto, um cachecol e sai, pela janela. Escutei mamãe abrindo a porta, mas já era tarde. Eu já havia pulado.
Comecei a andar na rua e tentar imaginar para onde ir. Tinha esperança de fazer Zayn me seguir, como ele sempre fazia. Mas onde ele estava? Tom disse que depois da briga a polícia o tinha levado. Mas com todas aquelas habilidades imaginei que uma hora dessas ele já teria fugido. Era como se ele conseguisse passar através das paredes. Não entendia como funcionava.
Quanto mais seguia em frente, mais refletia para onde ir e mais percebia o quanto Paris estava diferente. Não havia mais vida na rua. As folhas vermelhas no chão se confundiam claramente com a mancha de sangue dos inocentes. A cidade estava triste, cinzenta e vazia.
Olhei para a estação de metrô e me lembrei o quão feliz eu fiquei naqueles dias, quando estava trabalhando no café. Pensei que finalmente estava começando a ter uma vida. E de repente tudo mudou. Me tiraram tudo o que eu tinha.
Aquilo era muito estranho, em um momento você tem tudo e em outro você não tem nada. As coisas mudam em um piscar de olhos e sem que você perceba, a vida vem e te dá uma rasteira.
Mas é preciso seguir em frente. Todos estamos sujeitos a queda, o importante é se levantar depois. E era isso que eu tentaria fazer, por mais difícil que fosse seguir sem o homem da minha vida.
Andei mais um pouco e perdi as esperanças, ele não viria até mim. Decidi, então, que iria para a cabana, o lugar onde ele me havia me levado tempos atrás. Lá era o lar dele, deixaria a carta na casa de árvore, cedo ou tarde ele apareceria por lá.
Voltei para casa e peguei o carro de mamãe. Ela não me viu. Comecei a dirigir e as lagrimas começaram a cair. Era como se eu estivesse me despedindo de Paris e deixando com ela todas as lembranças de Zayn.
Segui em frente e um tempo depois já estava na estrada de pedras que dava acesso a cabana. Quando me aproximei mais tomei o cuidado para me certificar de que não havia ninguém lá. Quando percebi que estava tudo bem, desci.
Fui andando em direção a casa da arvore e comecei a chorar ainda mais. Estar naquele lugar me trazia nostalgia. Sei que não foi muito o tempo em que passamos lá, mas a intensidade era maior do que todo o tempo do mundo que eu poderia passar.
Subi a escada e olhei pela janela. Quando olhei para frente vi Zayn, em cima da cabana. Me assustei tanto que quase cai. Fiquei assustada, ele não poderia me ver. Será que teria coragem de me matar ali? Olhei mais um pouco e notei que ele viu um movimento.
Desci correndo as escadas tão assustada, que esqueci de deixar a carta lá em cima. Quando cheguei no último degrau alguém segurou minha cintura. Me virei e percebi, era Zayn com os olhos intensos para mim.
Era impressionante a rapidez que ele tinha. Será que além de atravessar paredes, ele podia voar também? Senti o pânico circular em minhas veias sanguíneas. Eu tremia tanto que mal conseguia me mexer.
Ele me pegou no colo e seguiu comigo para dentro da cabana. Como sempre ele não me disse nada. Era tudo escuro lá dentro, não sei como conseguia andar sem ver ao menos uma meia luz. Será que além de tudo, ele ainda enxergava no escuro? Aquilo não era possível.
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A vigésima quinta lua (COMPLETO)
RomanceEssa é a história da jovem católica Nicole, que vivia uma vida tranquila até começar a trabalhar em um café no centro de Paris, onde conheceu um jovem muçulmano que passou a atordoar todos os seus dias. Medo, horror, desejo e mistério era o que o h...