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Na terça-feira acordei agitada. Olhei no relógio e eram sete horas da manhã. O dia anterior tinha sido bem difícil. Saímos da mesa do almoço já eram três horas da tarde.

Mamãe tinha ficado bem abatida com as novas notícias de Paris. Mas confesso que a história não me afetou tanto. O fato de estar apaixonada por um terrorista já tinha amortecido a queda.

De alguma forma aqueles acontecimentos atingiam muito mais mamãe do que eu. Ela nutria uma certa raiva de muçulmanos e até o dia anterior eu nunca tinha intendido o porquê. Mas depois daquele almoço ela me confessou, papai a havia deixado por causa da religião. Ele tinha que voltar para a terra dele e ela não quis acompanhar, então, ele a deixou.

Mas o que importa? Milhares de pessoas se separam todos os dias por causa de influência religiosa. Apesar de não concordar com isso, acho perfeitamente normal. O que aconteceu na minha família não foi nada de extremo. Meu pai era muçulmano, minha mãe católica e o relacionamento não deu certo, o amor foi menor que isso. E ela tinha que entender, não poderia continuar odiando todos os muçulmanos por causa disso.

Apesar de não odiar papai, também não o amava. Ele largou dela quando eu ainda estava no ventre e eu nunca o conheci. A gente não ama o que a gente não conhece, então, o fato dele nunca ter me procurado não me afetava nem um pouco.

Minha progenitora ficou um tanto abalada quando me viu envolvida com Zayn. Querendo ou não, ainda restava um pouco de carinho pelo único homem com quem ela teve algum tipo de relacionamento. E desse envolvimento nasceu quem ela mais amava na vida: EU. Então, ela não queria me ver envolvida com um muçulmano, temia que eu tivesse o mesmo destino que ela. E além de tudo, o meu ainda era terrorista, o que agrava a situação, aumentando ainda mais o seu ódio.

Na conversa que tivemos no dia anterior, depois do almoço, ela me implorou para que eu esquecesse Zayn. Disse que jamais poderia existir um relacionamento entre uma cristã e um muçulmano. Chegou até a falar que tinha passado esse fardo pra mim, como se fosse uma espécie de carma hereditário.

Falei pra ela que não tinha nada a ver. Paris é cheia de muçulmanos e a probabilidade de uma francesa se apaixonar por um deles é enorme. O único azar é se deparar com um terrorista, mas são coisas da vida. Acontece. Eu já estava segura e nada de mal poderia acontecer para nós.

Mas confesso que remexer nessa história me fez pensar em Zayn. Talvez ele realmente tivesse gostando de mim. Tudo bem que ele era um terrorista, mas os terroristas também podem amar, ou não? Acontece que eu nunca iria saber, fui covarde e fugi, sem nem me dar a oportunidade de o conhecer.

Enfim. Parei de pensar nessas coisas e tentei tranquilizar mamãe, ela estava muito abatida, tinha muito medo de me perder. Saímos para dar uma volta em Oslo e acabamos jantando fora. Fiquei feliz, por que tudo ficou bem.

Depois que ela já estava tranquila, fui ler um pouco no jardim e me recolhi. E foi nessa hora que tudo o que tinha acontecido voltou para a minha mente. Comecei a pensar em Zayn novamente. Talvez eu tenha sido injusta com ele. Talvez ele somente queria me proteger e eu simplesmente não dei espaço para que ele me mostrasse isso. Aceitei fugir e me confirmei com a separação.

Sei que é estranho falar em separação. Nem tivemos muitos dias juntos. Mas confesso que o pouco que tive com ele bastou para eu saber o quando eu gostava. O tanto que eu estava conectada. E o mais interessante é que a conexão não foi de corpo, foi de alma, algo que não consigo explicar e nem falar. Nossos momentos mais intensos aconteceram justamente no silencio ensurdecedor, por que era nessa hora que eu conseguia escutar o pulsar do seu coração.

A vigésima quinta lua (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora