Acordei desesperada, quando abri os olhos notei que estava no mesmo lugar do sonho. Na cabana onde meu pai tentara me matar dias atrás. Olhei no relógio e já era domingo, oito horas da manhã. Tinha acontecido de novo, mais uma vez fiquei desacordada e sabe lá Deus como tinha chegado até ali.
Pensei em mamãe, pensei em Tom e comecei a ficar ainda mais desesperada. Será que eles conseguiram escapar? Será que estavam mortos? Senti as lagrimas descerem no meu rosto. Mas tentei alimentar minha fé, nutrindo a ideia de que Tom tivesse protegendo a pessoa com quem eu mais me importava na vida.
Olhei para o lado e vi Zayn entrando, logo atrás vinha papai. Fechei os olhos para que não soubessem que eu estava acordada e tentei conter meus nervos. Não podiam notar o quanto eu estrava tremendo. Me examinaram e começaram a conversar algo em Árabe. Não entendi nada do que eles disseram, exceto uma palavra que eu havia aprendido com uma amiga. Escutei eles dizendo Morte.
Pensei estar vivendo um dejavu, como se já tivesse vivenciado aquilo em algum pesadelo. Será que o que sonhei era realmente real? Será que Zayn era meu irmão? Será que teria que me matar?
Me desesperei ainda mais com a ideia. E apesar de ele ter me respeitado sem sequer tentar tocar em mim, nós tivemos algo que significou alguma coisa, pelo menos para mim.
Eles saíram do quarto e fiquei ainda mais confusa e amedrontada. Se queriam me aterrorizar estavam conseguindo. Levaram tudo de mim, até a minha coragem.
Comecei a me remoer tentando entender o que estava acontecendo. Quem me levou para lá? Quem me tirou da água? Certamente queriam me torturar antes de me matar. Me desesperei e olhei para os lados na tentativa de achar um meio de escapar. Quando ia levantando Zayn entrou no quarto.
Nos entreolhamos e eu fiquei paralisada. Ele veio chegando mais perto com os olhos penetrados em mim, era como se ele estivesse entrando dentro da minha alma. De repente todo o medo que estava sentindo se esvaiu, como se estivesse hipnotizada.
Quando ele chegou na minha frente, me pegou no colo, me colocou no colchão e me cobriu. Era como se seus olhos dissessem: "não vai a lugar nenhum!" Depois disso seguiu em direção a uma mesa que havia atrás de alguns entulhos. Segundos depois se aproximou de novo com um copo de leite quente.
Me levantei e ele me deu de beber na boca, como tinha feito dias atrás no deserto. Seu olhar era intenso e interrompível. Era como se eles me segassem e me levassem para outra dimensão, tirando toda a minha noção de realidade.
Quando terminei de beber o leite ele colocou o copo no chão e se deitou ao meu lado, como se também estivesse hipnotizado. Ficamos por várias horas ali, deitados um do lado do outro sem dizer sequer uma única palavra.
O silencio era ensurdecedor. A única coisa que escutava era o som dos passarinhos e a respiração de Zayn. E por mais que não estivéssemos nos encostando, eu podia sentir a alma dele. De alguma forma me sentia conectada, como se uma energia maior do que nós tentasse nos unir.
Virei para o lado e esperei ele virar para mim. Seu olhar já não estava mais intenso, estava frio e congelado. Vi o horror por de trás dos olhos verdes, como se um monstro enorme tivesse prestes a sair. Senti medo, não conseguia saber quem ele realmente era. Por um momento achei até que fosse me matar ali mesmo.
Me apavorei e recuei um pouco, mas ele puxou minha mão e me fez levantar. Pegou sua mochila no chão e tirou uma roupa para mim. Eram roupas árabes, assim como as que tinha vestido no deserto.
Olhei para ele com os olhos perdidos, como se não entendesse o que estava acontecendo. Mas minha voz faltou, eu estava travada e não conseguia fazer nada que não obedecer. Ele conseguia me fazer segui-lo sem ter que dizer nada, como se me puxasse por uma corrente invisível.
Vesti a roupa e o segui. Ele me levou para um outro galpão a alguns passos do antigo. Não havia nada lá, nem ao menos um colchão. De repente ele me sentou no chão e fez gestos para que um outro homem viesse até mim e, antes que eu pudesse perceber, o carrasco me amarrou, Zayn me olhou nos olhos, virou as costas e saiu.
Fiquei horas amarrada, sozinha com meu desespero. O medo me cercava e não havia mais lagrimas para cair. Olhava as frestas da janela do galpão escuro, com a esperança de que alguém chegaria para me salvar. Mas as únicas coisas que escutava eram os gritos de horror, vindo das novas vítimas que eles traziam ao seu terror.
Depois de muitas horas escutei um barulho. Quando olhei para o lado vi a porta se abrir, era Zayn. Seu olhar era seco e suas expressões vazias, como se não estivesse ali. Quando se aproximou, me desamarrou friamente, me colocou em um carro e seguiu viagem.
Tentei falar algo dentro do carro mas não consegui, estava perseguida pelo terror. Não sabia distinguir o que havia por detrás daqueles olhos carregados de ódio e amor.
Meus sentimentos começaram a ficar contraditórios. Já não era mais capaz de diferenciar se estava sentindo medo, horror ou amor. As vezes era tudo junto. Um junto que me travava e não me deixava pensar direito.
Passado um tempo estávamos no meio de Paris. Quando olhei para frente vi a Torre Eiffel. Já era fim de tarde e o tempo estava nublado. As arvores secas ao lado denunciavam que o outono já estava concentrado. Algumas outras arvores ainda estavam com suas folhas amarelas, que teimavam em cair
Descemos do carro e fomos segundo em direção ao monumento. Ele me puxava pela mão sem me dizer nada. E eu o seguia do mesmo jeito. Minutos depois já estávamos no alto da torre, lado a lado, calados, contemplando a paisagem que, mais tarde, seria congelada por um inverno gelado, tão frio quanto os corpos sangrentos que habitavam o chão.
Ver Paris de cima, com toda aquela beleza, quase me fez esquecer o quanto o chão estava vermelho, manchado com o sangue de milhares de inocentes. Eles tinham tomado a nossa liberdade e não era justo eu me apaixonar por um deles.
Olhei para o lado decidida. Não podia mais me calar. Eu tinha que falar umas verdades para aquele monstro. Eles tinham que ser punidos. Eles tinham que parar. Aquilo não estava certo. As pessoas não deveriam morrer por causas as quais não acreditavam ser o certo.
Depois de segundos olhando para ele, tomando coragem para rebater um assassino, correndo o risco de ser morta ali em cima, abri minha boca para falar, mas foi em vão. No momento em que ia descarregar minha ira ele me olhou e, sem dizer nada, pegou no meu pescoço com toda a força e me beijou.
Se alguém tivesse tirado fotos, as fotografias estariam repletas de ódio e amor, em meio a folhas amarelas no alto de uma torre, sobre corpos mortos e uma tropa de assassinos para o seu terror.
Eu não sabia mais o que fazer. Estava extremamente confusa. Não sabia exatamente com quem estava lidando. Talvez ele fosse louco mesmo, completamente instável emocionalmente. Ou talvez quisesse apenas me torturar, para ver até onde eu aguentaria.
Parei de beija-lo. Meu sangue fervia. Olhei nos olhos dele e tentei achar uma resposta, mas não consegui nada. Estavam penetrantes e intensos em mim. Só que a escuridão do mistério não o havia deixado e, por mais que eu tentasse enxergar sua alma, havia algo oculto, algo que nem mesmo eu poderia tocar.
Uma lagrima desceu em meu rosto e Zayn levantou a mão. Não sei exatamente o que ele iria fazer. Antes que ele pudesse me tocar Tom chegou enlouquecido e sem pensar em nada acertou a cara dele com um soco. Ele revidou e os dois começaram a se agredir.
Mamãe vinha logo atrás com um policial. Ela me abraçou como uma galinha que choca seus ovos e o homem que vinha com ela me pegou no colo e desceu comigo, levando eu e mamãe embora.
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A vigésima quinta lua (COMPLETO)
RomanceEssa é a história da jovem católica Nicole, que vivia uma vida tranquila até começar a trabalhar em um café no centro de Paris, onde conheceu um jovem muçulmano que passou a atordoar todos os seus dias. Medo, horror, desejo e mistério era o que o h...