19

151 13 3
                                    


Na quinta feira acordei amordaçada. Estava sentada em um chão nojento com as mãos amarradas para trás. Comecei a me mexer agonizando, mas nada adiantou. As cordas tinham sido amarradas com muita força e meus pulsos quase rasgaram quando tentei me soltar.

Procurei gritar mas a fita na minha boca não me deixou falar. Olhei para os lados e a única coisa que vi foram entulhos e muita sujeira. Estava em um galpão, sozinha, e completamente desnorteada.

Me esforcei para lembrar o que havia acontecido no dia anterior mas só me lembrei da porta do avião vazia. Com certeza eles colocaram aquela coisa para eu cheirar de novo e eu desmaiei.

Comecei a me desesperar ao pensar que Zayn tivesse alguma coisa a ver com aquilo. O que eles pretendiam comigo? Por que ele me iludiu? Fez tudo aquilo comigo para depois me fuzilar? Se o objetivo sempre foi me matar devia ter matado logo.

De tantas pessoas em Paris, por que eu? Imaginei que tudo tivesse sido premeditado. Ele passou a ir no café para me perturbar. Fez jogo duro no início e me envolveu depois para poder me matar. Mas por que eu? Não poderia ser outra pessoa?

Já não estava entendendo mais nada. Por mais que as evidencias estivessem nítidas, parte de mim não queria acreditar naquilo. No fundo no fundo eu ainda tinha fé, uma fé tão grande que me impulsionava a acreditar que nada de mal iria acontecer comigo.

Só que eu estava em cima do muro, minha coragem estava indo embora. Ao mesmo tempo em que me sentia confiante, sentia o medo querer tomar conta de mim. Tentei resistir, tentei ser forte, mas não há fortaleza que não tenha uma fraqueza.

Fechei os olhos e comecei a rezar, somente Jesus poderia me acalmar naquele momento. Pedi a ele para tirar de mim todo o sentimento de medo e angustia. E no meio da oração comecei a chorar, não sabia exatamente por que, talvez fosse a emoção ou as vezes era só o medo. Mas o que importava? Precisava desabafar e o lugar que encontrei para isso foi o colo de Nossa senhora, era ali que eu sentia o aconchego do lar. E sabia que nela eu poderia confiar.

Enfim, em meio a lagrimas e lamentações, escutei um barulho. Alguém tinha acabado de chutar a porta. Quando olhei para frente vi um homem barbado. O mesmo que havia me sequestrado em Oslo. Ele entrou grosseiramente e parou na minha frente. Eu podia ver o ódio saindo do olhar dele e indo em direção a mim. Parecia querer me fuzilar.

Comecei a me mexer e gemer. Minha vontade era de xinga-lo, mas a fita na minha boca não permitiu. Esperneei mais um pouco e ele foi se aproximando de mim. De repente ele chegou perto e, com rispidez, arrancou a mordaça.

- Quem é você? – me atrevi, gritando – O que quer comigo? Cadê o Zayn?

- Quer que o Zayn venha me ajudar a te matar? – disse com uma voz sarcástica. – Não precisa, o trabalho dele ele já fez. – agachou na minha frente, com um olhar frio e psicopata.

- O que é isso no seu pescoço? – enrugou as sobrancelhas, encarando meu colar.

- É o meu crucifixo. – respondi, frágil, ao esconde-lo com as mãos.

- TIRE! – gritou.

- Não vou tirar! – enfrentei.

- Prefere a morte? – disse, com ódio.

- Prefiro a morte ao ter que negar o meu Deus.

- Todos que seguirem o caminho do ocidente e que negarem Maomé como o ultimo profeta divino irão morrer! – disse, firme. – O mundo inteiro deve seguir o Califado.

A vigésima quinta lua (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora