Fantasmas do Passado - Parte I

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Segurei a respiração, comecei a puxar o gatilho lentamente, meu alvo não tinha ciência de minha presença, o gatilho parecia duro demais e com isso o disparo demorava a ocorrer. Talvez fosse o frio, nevava por horas sem parar, quando senti uma mão em minhas costas e acabei disparando. Olhei para trás assustado, era a Jully.

- Buuu! – disse olhando para minha cara assustada – Te assustei?

Olhei novamente para minha presa que já havia sumido, a lebre desaparecerá, acabei errando o tiro. Olhei para ela que dava um sorriso estranho para mim como soubesse o que tinha feito.

- Você me fez perder minha presa!

Ela ficou a olhar para a neve, na palma de sua mão, que retirou de cima das minhas costas como fosse um objeto precioso.

- Sabia que no passado esse lugar foi muito, muito quente? – falava ainda observando a neve que estava em sua mão.

- Quente quanto? – perguntei, não que estivesse curioso para saber apenas para manter a conversa.

- Dizem que fazia mais de trinta graus! – ela jogou a neve que estava em suas mãos no meu rosto, desviei para que não me acertasse.

- Impossível, ninguém conseguiria viver numa temperatura dessas.

- Fico pensando como seria! Imagina poderíamos correr por essas terras pelados! – ela ficou observando minha reação.

Jully era dois anos mais nova que eu, tinha um sorriso bobo, mas que me deixava sem graça. Aquela garota adorava me provocar e não demorou a continuar.

- Seu tarado! Aposto que ficou me imaginando pelada!

- Não comece. – sabia onde aquilo ia dar.

Ela aproximou-se e me beijou rapidamente.

- Agora eu te passei a peste! Ambos iremos morrer! – Jully disparou a rir.

- Pare de ser idiota, se alguém nos ver fazendo isso seremos exilados!

- Talvez não seja tão ruim! – ela começou a correr – Consegue me alcançar?

Corri atrás dela, voltávamos para aldeia, ela era rápida demais como uma lebre nunca a alcançaria. Por fim parei frente a aldeia, estava ofegante. Ela parará e abraçará alguém.

- Irmão!

- Por que está correndo? Você não devia estar apreendendo a caçar?

Olhei para o seu rosto, imediatamente parei de correr, meu coração em vez de voltar a calma começou a acelerar mais ainda, então disse o seu nome:

- Egon!

Sua cabeça estava toda deformada, coberta de sangue, comecei a voltar para trás, mas ele me perguntava, teimava em perguntar:

- Por que? Por que irmão?

Acordei assustado.

- Pesadelo de novo? – acabei acordando Thalia sem querer – Se fosse para ficar assim, devia ter deixado que eu o matasse! – como tivesse sido uma decisão fácil.

Havia se passado uma semana desde a morte de Egon, mesmo assim os detalhes não saiam de minha cabeça. Cesar achou que eu mudei de ideia no último segundo, por outro lado Thalia entendeu que jamais o deixaria sair vivo. O risco maior não era para a tribo de Rhuda e sim para a de Tupã. Egon conhecia aquelas terras como eu. Não adiantava tentar se justificar para a minha consciência. Ela não aceitava minhas justificativas e me punia sem parar. Egon estava morto e minhas mãos cobertas de sangue, de seu sangue, alguém que ele um dia confiou, que ele chamou de amigo, de irmão. Será que Jully me perdoaria?

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