Minhas pernas estavam pesadas, a dor na perna esquerda não me abandonará, mesmo assim sabia que não podia parar de caminhar, porque se o fizesse morreria congelado. Podia aceitar a morte e o meu sofrimento teria fim, porém o desejo de retornar para Thalia movia-me, tirava forças de onde não existia. Às vezes via a imagem dela a minha frente, tinha noção de ser apenas um delírio, mesmo assim tentava abraça-la e nessas tentativas vinha ao chão.
Fofo não me perdia de vista, no fundo ele sabia do meu estado fúnebre, não entendia o motivo dele não me abandonar. Voltaria muito mais rápido e em segurança para casa se o fizesse, e sim ele sabia como voltar para casa, porque ele nos guiava mesmo sobe a neve sem hesitar.
- Diga-me cão infernal porque não volta para casa? Thalia está lhe esperando! – melhor nos esperando.
O cão ficou a me olhar de forma curiosa, será que ele entendia minhas palavras? Ele sentou-se a minha frente, passei minha mão pelo seu pelo e senti que estava gelado e húmido. Não sabia se ele também sentia o frio, quando pequeno gostava de ficar perto da lareira para se aquecer, agora não tínhamos lareira nem sequer um teto para nos cobrir.
- Vamos não podemos parar. – tinha perdido as contas quantas vezes falei essa frase.
Não demorou para o sol começar a se levantar, comecei a me orientar, devia estar perto de onde lutei com o Ciclope. As arvores em volta pareciam todas iguais o que dificultava saber exatamente onde estava, foi quando fofo começou a farejar e começou a cavar na neve até achar o corpo de um veado. Pelos sinais no animal havia sido alvejado no momento dos tiros, alguns caçadores começaram a abater alguns dos animais, de certo pensavam em retornar para ali quando as coisas se acalmassem. Não parecia que o fizeram.
Peguei a faca, a mesma que havia matado Colosso, dei uma passada da lâmina na minha calça, em seguida comecei a destrinchar o animal. A carne estava cru e congelada, fofo parecia não se importar nem eu. Depois que terminamos cortei algumas tiras, e as coloquei por baixo da minha capa, senti o frio arrepiar até a alma. Voltamos a caminhar, apoiava-me sobre o cajado do velho, reconheci a arvore a minha frente foi ali que matará Ciclope. Havia a marca de um tiro na arma, comecei a revirar a neve na esperança de encontrar o meu fuzil, não adiantava, tinha o perdido. Aproveitei um pouco para descansar o sol brilhava naquele dia mesmo assim apenas sentia o vento gelado me cortando.
- Vamos não podemos parar. – falei novamente.
Levantei escorado sobre a arvore, peguei o cajado e continuei, continuei, continuei. Até que caí, devia estar por volta de meio dia e agora o sol brilhava o suficiente para senti-lo. Fechei os olhos e dormi, não sei por quanto tempo, talvez não faça sentido para você caminhar a noite e dormir de dia. O fato que agora não morreria congelado o sol deixará digamos "menos frio". Contudo, aquilo não seria por muito tempo, logo o sol começará a se esconder e anunciar uma longa noite.
Acordei com fofo lambendo meu rosto, parecia nervoso e não demorou para que eu entendesse o motivo escutei passos não muito longes. Pus-me de pé e escondi-me entre a neve e uma arvore. Fiquei observando, um grupo de pele de cobras, estavam seguindo o meu rastro e aqui não teria a feiticeira nem o ancião para me salvar. Puxei fofo para junto de mim e segurei o seu fuço para que não pudesse fazer barulho, para diminuir o seu nervosismo coçava a sua cabeça.
Eles pararam diante do meu rastro e ficaram tentando adivinhar para onde deveria ter ido, não conversavam apenas gesticulavam. Dentro deles haviam um homem ruivo, barbudo, com certeza não pertencia a tribo dos Kanhanduras, seu rosto estava intacto sem nenhuma tatuagem. Suas roupas também chamavam a atenção, calça, japona e gorro preto, somente um idiota usaria tais roupas na neve, amenos que ele fosse um sodomita. Nesse caso os sodomitas teriam buscado apoio com as tribos rivais ou até mesmo com as aliadas, o que explicaria o comportamento do "pela saco". Não! Aquilo parecia ser obra de Augustos! Mas, por que? Qual o motivo para ele me querer morto? Um deles fez sinal que eu deveria estar perto e se dividiram, o que passou mais perto de nós foi a vinte metros e não nos viu. Aos poucos foram se afastando, esperei o breu nos cobrir por completo para retorna nossa caminhada.
Os peles de cobras estavam confiantes que facilmente poderiam me alcançar e por isso interromperam a sua busca pela noite. Precisava se livrar deles o mais rápido possível ou correria o risco de leva-los até nossa aldeia. Foi quando tive uma ideia leva-los até onde Jeremias construiria as armadilhas, podia dar certo, a neve cairá quase a noite inteira e se acumularia por elas, o único problema se eu também caísse numa delas. De dia seria fácil identificar os sinais deixados propositalmente para nós, já a noite teria que contar com a sorte.
Demorei quase a noite inteira para chegar até elas, um trajeto que faria em poucas horas se minha perna estivesse boa. Quando cheguei finalmente ao lugar senti que a sorte havia me abandonado.
- Droga! Droga! Droga! Maldição!
A cena digna de uma guerra. Cadáveres por todos os lados, comecei a procurar por conhecidos e não demorei para encontrar o corpo de Jeremias. De início achei que os Ayiaras haviam nos traído, apesar de corpos de ambas as tribos, podiam ter lutado supunha. Foi quando achei o corpo de alguns sodomitas, não precisava ser um gênio para saber o que acontecerá ali. Procurei pelo corpo de Ale e não o encontrei, nem do "pela saco" ou daqueles que foram conosco.
- Eles foram emboscados!
O estranho que poucas coisas foram levadas, isso queria dizer que foi uma ação rápida, mas o que eles temiam? Reforços? Nada fazia sentido! Tomei o fuzil de um morto, três carregadores plenos, encontrei minha mochila estava no mesmo lugar que a deixei. Encontrei um pouco de comida, alguns pães duros e um pouco de vinho no pertence dos mortos. Forrei aqueles pães com uma das tiras de carne que trazia comigo e devorei. Alimentei fofo também, precisávamos estar fortes para esse novo dia. Peguei um dos trenos que estavam abandonados, os trouxemos para carregar nossas presas agora carregaria minha mochila, meu fuzil e uma coberta que encontrará. Amarrei uma corda na sua ponta e comecei a puxa-lo.
A nossa frente se estendia uma longa subida, o trenó mais atrapalhava do que ajudava e atrás de mim vinham meus perseguidores. Agora os mesmos mantinha em média a distância de um quilometro, o motivo? Simples, um fuzil tem em média o alcance útil a metade disso. Alcance útil é a capacidade de mirar com a arma e acertar em seu alvo, claro se fosse tiver uma luneta ou for uma arma especial esse alcance melhora de forma significativa. Se tomaram essa precaução presumiam que eu estava agora na posse de um fuzil, nesse caso deviam saber da emboscada.
Fofo arfava parecia que meu amigo também estava cansado e quando mais subíamos mais o vento aumentava, mas aquele vento não trouxe apenas o frio, também vozes, uma conversa animada. Aproximamos com cuidado, não demorou para que víssemos grandes fogueiras erguidas como se não temessem serem vistos, o cheiro de carne assada tomava o ar gelado. Contei-os devia ser uma dúzia deles, a maioria em volta do fogo, o restante parecia cuidar da comida. A roupa deixava claro que se tratava de sodomitas, no entanto existia uma grande quantidade de barracas espalhadas, barracas demais para apenas doze pessoas.
Não fazia sentido, por qual motivo estariam tão longe da ilha? Escutei mais barulho cerca de quarenta homens chegaram ao acampamento, pareciam exaustos, o líder do grupamento começou a conversar com um dos homens que preparava a comida não conseguia ouvir sobre o que conversavam. A única certeza que tive fora que encontrará os homens que emboscaram Jeremias, não mesmo aquela quantidade era pouca para o número de barracas devia ter no mínimo mais dois tantos desse.
De repente uma garota saiu de uma das barracas, mesmo distante o seu rosto parecia familiar, mas quem?
- Kira? – resmunguei.
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As Sete Tribos
AdventureNum futuro não muito distante a Terra entrou numa nova era glacial, com isso todo o mundo que conhecemos sumiu. Com o passar dos anos quase toda nossa tecnologia desapareceu e agora resta muita pouca coisa como armas de fogo. Além disso uma doença s...