Capítulo 4

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Entrei na igreja aos prantos, a música falando comigo profundamente, me sentei no último banco, percebo que a igreja está vazia, o coral estava ensaiando.

"Pai eu quero te amar, tocar o teu coração, e me derramar aos teus pés, mais perto eu quero estar Senhor, e te adorar com tudo que sou, e te render Glória e Aleluia..."

Me lembrei de quando vovó me levava a Igreja aos domingos. Eu amava ir com ela aos cultos, mas quando Antony descobriu a proibiu de me levar, a maltratou com palavras e a ameaçou de que se me levasse novamente a Igreja, ela não entraria mas em sua casa. Disse que não queria sua família envolvida com esses "crentinhos", me bateu e me deixou de castigo por um mês.

Patrick tentou me defender, mas quando o Senhor Antony fala, ninguém pode contradize-lo. Minha mãe como sempre, ficou ao seu lado, talvez por medo de sua reação. Antony sempre teve o temperamento muito forte, nessa parte puxei a ele.

Vovó faleceu pouco tempo depois, acho que ela era a única pessoa que me amava de verdade naquela família. Meu mundo desabou, me senti sozinha e desamparada.

Antony nunca foi um pai amoroso comigo, a única pessoa que ele realmente se importa naquela casa, é meu irmão, e um pouco com minha mãe.

Ele foi atencioso comigo quando eu era criança, mas me amar de verdade, isso nunca aconteceu, depois que cresci, ele só me via como um instrumento para usar, em favor de suas ambições. 

Me lembro de quando ele quis me casar com um homem que era mais velho que ele, só para conseguir mais ações na empresa. Eu estava com apenas 16 anos na época. Por sorte Patrick descobriu a tempo. Foi a última vez que ele disse não para Antony, faz tudo que o mandam fazer, e ele obedece igual um cachorrinho.

Patrick é seu queridinho, sempre foi.
Tenho pena de meu irmão, por não viver sua vida e sim de Antony.
Patrick é o seu sucessor na empresa, coisa que não invejo, já que aquilo é um ninho de cobras. Penso que Antony quer transformar meu irmão, em sua cópia, só torço para que ele seje um homem melhor.

Minha mãe só se importa comigo enquanto estamos a sós, na frente de Antony eu não existo.

Tenho inveja de minhas amigas que tem pais amorosos, e que se importam com elas, que as amam de verdade.

Saio de casa todos os dias porque não suporto meu pai, ele também quase não para em casa, ou está na empresa destilando seu veneno, ou em casa infernizando a vida dos empregados.

Estou cansada dessa vida, daquela casa sem amor, de ninguém se importar comigo de verdade.

Quando percebo o coral já acabou o ensaio, me levanto para ir embora, mas trombro em alguém na saída.

Meu rosto está doendo pelo tapa que levei, tento arrumar meu vestido rasgado.

- Me desculpe moça.

Aceno com a cabeça.

-  Você está bem querida? Precisa de algo?

Minha vontade é de ir embora, mas meu coração me manda ficar. Ele se senta em um banco próximo, me aproximo e me sento ao seu lado.

- Você quer compartilhar comigo o que a está preocupando?

Fico em dúvidas se conto ou não, nunca vi esse homem, mas alguma coisa nele o torna famíliar.

- Percebo que você não é muito de conversar. Estou certo?

- Desculpe - Murmuro baixinho.

- Eu sou o reverendo Frederick Johnson.

Estende a mão me cumprimentando, e eu retribuo.

- Sou Celeste.

- Então Celeste... Me conte o que está te angustiando.

Fico um minuto em silêncio, por fim decido contar o que houve.

- Fui em uma festa hoje com minhas amigas. Tinha várias pessoas bebendo e dançando. E havia um rapaz que estava me olhando de um jeito estranho, e aquilo estava me deixando desconfortável, para falar a verdade já faz um tempo desde que ele fica meio que atrás de mim, mas alguma coisa nele me dá medo. Decidi fugir daquele loucura por uns minutinhos, eu não estava me sentindo muito bem. Aquela festa estava me sufocando, decidi ir para o jardim tomar um pouco de ar fresco - Meus olhos então ardendo pelas lágrimas que estou segurando, mas decido continuar a contar o que houve - Foi então que ele apareceu, e... e... ten...  tentou me agarrar a força. Eu pedi para ele parar mas... mas ele não parou, comecei a gritar pedindo socorro, mas a música estava alta, ninguém me escutava. Fiquei apavorada, e em meio a minha angustia, pedi a ajuda de Deus. Fiquei tão desesperada, mordi a sua mão, e o empurrei com toda as minhas forças, saí correndo sem olhar para trás. Quando dei por mim, estava em frente a igreja, ouvi o coral cantando e decidi entrar, pois a música estava falando profundamente comigo, e eu precisa encontrar um pouco de paz no momento.

- Você foi a polícia minha filha?

- Não. E não adiantaria em nada, ninguém acreditaria em mim, só quero esquecer esse dia, e seguir em frente.

- Mas isso não pode ficar impune.

- Ele é um rapaz bem educado, de família rica, que se faz de bom samaritano. Quem acreditaria em mim? Uma garota fútil e mimada?

- Mas você deveria fazer o que é      certo - Ele diz.

- Eu sei.

Ficamos em silêncio por um tempo, por fim decido quebrar o silêncio.

- Quando eu era criança, minha vó me levava a Igreja, mas acabei me afastando, não por opção - sorrio com as lembranças - Foi a melhor fase da minha vida.

- O que te levou a afastar dos caminhos do senhor?

- Meu pai sempre foi um homem rigoroso, que não gosta de cristãos, minha vó me levava escondido a igreja, quando ele descobriu, a proibiu.

- Depois disso você nunca mais foi a igreja?

- Não. Minha vó que me levava, mas ela faleceu poucos meses depois. Eu fui crescendo, sem incentivo. E me distanciei cada vez mais.

- Sabe, nunca é tarde demais para nos arrependemos, e voltarmos para os braços do pai.

- Eu fiz tantas coisas terríveis, não sei se Jesus me aceitaria de volta - Digo sem esperanças.

- Jesus está sempre de braços abertos para nos receber, mas temos que dar o primeiro passo, em busca de reconciliação com o Pai. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.

Lágrimas quentes correm pelo meu rosto.

- Você quer aceitar Jesus Celeste, como seu Salvador?

- Sim. Eu quero - Digo emocionada, sentindo um amor sobrenatural me envolver.

Amparada Por DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora