Capítulo 4: O médico.

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Logo pela manhã do dia seguinte, sou surpreendido por uma suposta visita matinal — nada agradável — dos meus pais

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Logo pela manhã do dia seguinte, sou surpreendido por uma suposta visita matinal — nada agradável — dos meus pais.

— Eu não quero saber, Liam, quando você sair desse maldito hospital, você ficará de castigo por tempo indeterminado. Considere-se avisado! — grita minha mãe soltando fumaça pelas orelhas.

Pais normais demonstrariam afeto e preocupação pelos seus filhos numa situação como esta, mas meus pais são insanos demais para isso.

— E a sua candidatura, Liam? Você por acaso pensou nela quando se jogou em cima daquele meliante? — a voz do meu pai parecia controlada, enquanto ele massageava suas têmporas sem parar.

— Sério que é nisso que você está pensando? Um ferimento na barriga pode ser fatal. Eu poderia estar morto agora e a única coisa que você consegue pensar é na minha candidatura? — comento incrédulo. Isso é inacreditável.

— Pensasse nisso antes de arriscar sua vida por uma qualquer — diz minha mãe batendo os pés pelo piso de mármore do quarto insistentemente.

— Essa "qualquer" é nossa vizinha e estava com uma criança.— Rebato me sentando na cama com dificuldade. A dor já não me incomodava tanto.

— Poderia ser o papa sendo assaltado e o que você fez continuaria sendo estúpido e insensato. — As palavras saem da boca do meu pai como um cuspe.

Reviro os olhos.

— Pelo visto, eu não sou o único estúpido e insensato nesse quarto. — Resmungo. 

— O que disse? — questiona meu pai e eu arregalo os olhos.

— Uhm, nada... — Desconverso.

— Isso é tudo culpa daquele bastardo, eu já deixei bem claro que não era para ele procurar e olha só o que deu. Ele se acha muito dono de si e acha que pode te convencer do mesmo. — Continua minha mãe e até meu pai parece incomodado com o que ela havia dito.

— O que o Cody tem haver com isso? Ele não manda em mim, se eu fiz aquilo foi porque eu quis. Não é porque vocês falharam como pais que tudo que acontecesse de ruim agora tem que ser culpa do Cody — digo e só depois percebo a merda que eu tinha feito.

O rosto da minha mãe se contorce em desaprovação e eu agora era incapaz de deduzir o que meu pai estava sentindo por trás das suas feições neutras e extremamente inexpressivas.

— Eu preciso ir trabalhar. — Comunica meu pai engolindo em seco.

Ele caminha até a poltrona no canto da sala e pega sua maleta. Logo em seguida, se vira e vai até a porta do quarto para sair. Ele abre a porta e se vira para olhar para mim, ele parececo cogitar dizer alguma coisa, mas logo se vira e saí do quarto.

— Viu o que você fez? — diz minha mãe. Ele respira fundo, pega sua bolsa e rapidamente segue meu pai para fora do quarto.

Depois eu sou o infantil, estúpido e insensato. Eles agem como se fossem dois lunáticos e ainda se acham no direito de me julgar por dizer o que está engasgado na minha garganta faz séculos. Só pode ser brincadeira.

[•••]

Não sei se devo me sentir traído ou iludido por ter acreditado que hospitais são interessantes.

Obs: Não acredite em Grey's Anatomy, hospitais são entediantes e eu estou aqui a quase três dias e não vi nenhum médico bonitão. Tudo bem, talvez eu esteja exagerando, eu nem ao menos saí do quarto para ter uma opinião concreta sobre hospitais.

Ou pelo menos era isso que eu pensava e sentia até a porta do meu quarto se abrir e um cara ruivo carregando uma prancheta entrar.

— Então você é o famoso Liam? Eu sou Connor, o seu médico. Que bom que nós finalmente pudemos nos conhecer formalmente e sem você estar desacordado e todo ensanguentado  numa mesa cirúrgica — ele diz caminhando até mim em passos relaxados.

Faço uma careta ao imaginar Connor me operando.

Coloco de lado o controle remoto da tv que estava na minha mão e olho desconfiado para o ruivo. Ele apenas sorri em resposta.

— Você que estava discutindo com o meu irmão lá fora ontem ?

— Seu irmão é bem insistente — ele responde envergonhado, antes começar a examinar o que quer que tinha na prancheta que ele carregava. — Reagiu a um assalto, uhm? Só não me diga que foi para impressionar sua namorada. — Continua Connor levantando o olhar para mim novamente.

Faço um muxoxo e dou de ombros.

— Ex-namorada. — Corrijo. — E não, não foi para impressiona-la. Ela nem se quer vale o esforço. Quem estava sendo assaltada era a minha vizinha, eu apenas... Não consegui deixar de lado. Eu tive que fazer alguma coisa.

— Nobre da sua parte — ele comenta.

— Talvez, mas olha aonde eu fui parar — falo apontando para a minha barriga ainda enfaixada. — Eu nem ao menos consegui recuperar a bolsa roubada.

— Sabe, eu li num livro uma vez que os heróis nem sempre são aqueles vencem, mas também aqueles que perdem e mesmo assim continuam lutando. E é exatamente isso que os tornam heróis.

— Você é muito sábio para alguém da sua idade, mas não acho que eu seja um herói.

— Faço o meu melhor.

Sorrio e olho Connor de cima a baixo. Por trás dos cabelos ruivos, olhos verdes e sorriso gentil, Connor aparentava não ter muito mais que 25 anos. Imagino que ele seja novo no trabalho, pois o peso da medicina ainda não havia caído sobre ele.

— Bom, eu só vim ver como você estava, e pelo visto você está ótimo. Na medida do possível, é claro.

— Então você já vai? — pergunto meio triste. — É que você é meio que a coisa mais interessante que me aconteceu hoje.

— Eu gostaria de poder ficar mais, mas eu já tenho um paciente para atender quando sair daqui — menciona Connor fazendo uma  careta — Um garoto da sua idade, inclusive, olhos azuis e cabelos pretos. Caiu de moto e aparentemente não tinha carteira de motorista. Um desastre.

Olhos azuis e cabelos pretos? Da minha idade? E que tem uma moto? Bate perfeitamente com a descrição de Ethan Reed e eu duvido muito que seja pura coincidência.

— E por acaso o nome desse garoto é Ethan Reed?

— É, você o conhece? — pergunta Connor surpreso.

— Nós somos conhecidos de longa data.

Inimigos de infância (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora