Capítulo 10: A revelação.

5.4K 551 97
                                    

É uma conversa estranha e sútil

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

É uma conversa estranha e sútil. Quase não percebo que estou em uma - quase - sessão de psicanálise.

Ir até o apartamento de Cody depois da aula, não fazia parte dos meus planos. Sendo sincero, nada do que eu costumo fazer faz parte dos meus planos. Mas quando dei por mim, meus dedos já tocavam a campainha irritante do apartamento de dele e Thomas já havia aberto a porta.

Quando Thomas - estudante de psicologia com problemas de limpeza e colega de quarto do Cody nas horas vagas - abriu a porta e disse que Cody havia saído para resolver um problema da faculdade, eu imaginei que esperar por Cody na sala de estar era uma boa ideia - spoiler: não foi. Eu só não contava que aquela conversa casual e meramente por educação que eu havia iniciado com Thomas, acabaria de alguma forma comigo num divã, contando todos os meus problemas para um futuro psicólogo.

Ethan é a única pessoa que sabe sobre o nosso beijo e essa é a única certeza que eu tenho. Ele é o único que pode usar isso contra mim, mas nunca o fará sem colocar a si mesmo na linha de tiro - o que acabaria com a reputação perfeitamente criada dele. Sabe disso pode ser tranquilizador, mas confesso que esse beijo me deixou bastante confuso e talvez falar com alguém sobre isso possa ser o ponto de partida para eu o esquecer.

- Então você é gay? - pergunta Thomas com o semblante confuso.

- Eu acho que não.

- Mas você beijou o seu vizinho?

- É, mas isso não me torna gay.

Eu gostaria de poder acreditar nas minhas próprias palavras, mas ultimamente elas andam mais confusas do que eu mesmo. Não que eu ache eu seja gay, é claro, eu apenas não tenho mais certeza de nada

- Você é um cara complicado, Liam, mas se quer um conselho, elimine Ethan Reed da sua vida e todos os seus problemas acabaram - comenta Thomas sorrindo.

Porque isso me soa como uma propaganda da Tv?

- E você não acha que eu já pensei nisso? Mas é difícil eliminar uma pessoa da sua vida quando ela parece estar em todos os lugares - falo voltando a me sentar no sofá. - Tudo sempre acaba voltando para ele, não importa o que eu faça.

- O universo pode ter um plano para vocês dois.

- Ou o universo apenas quer me ferrar. - Rebato. - Quer saber, você é a primeira pessoa com quem eu falo sobre isso. É claro que eu pretendia que essa pessoa fosse o Cody, mas acho que é mais fácil falar sobre esse tipo de coisa com um desconhecido.

- Não deveria ser o contrário? - ele questiona.

- Não, porque você não me conhece direito, então o que você vai pensar de mim não é tão importante. Contar isso para meus melhores amigos ou para os meus pais seria completamente diferente.

Ouço o som de chaves e da porta sendo aberta. Me viro para olhar e vejo Cody entrar na sala.

- Liam?- ele fala baixo, parecendo surpreso ao me ver.

Os olhos de Cody estavam vermelhos e seu semblante estava triste. Algo estava muito errado.

- Eu pensei em avisar que viria, mas preferi fazer uma surpresa - digo e Cody sorri triste. - Está tudo bem?

Ele fita o chão e parece relutante.

- Christopher parou de pagar a minha faculdade - ele suspira e passa as mãos pelos cabelos loiros. - Fiz algumas horas extras no trabalho para conseguir uma grana e não consegui estudar para algumas provas. Acabei repetindo em duas matérias e Christopher não gostou muito.

Quando Cody foi expulso de casa, ele cogitou desistir da faculdade de medicina por não poder pagar por ela, mas pouco tempo depois, nosso pai se ofereceu para pagá-la contando que Cody se esforçasse para se sair bem. Eu particulamente acho que ele se sentiu culpado e fez aquilo para conseguir dormir a noite.

- Ele não pode fazer isso.

- Não só pode, como fez. Eu não sei o que vou fazer agora. Não tenho dinheiro para pagar as mensalidades.

- Você pode trancar a matrícula e tentar juntar um dinheiro... - Sugere Thomas sentado numa poltrona à nossa frente.

- Eu posso falar com os nossos pais, eles vão me ouvir.

- Seus pais. - Corrige Cody se sentar ao meu lado. - E não, não quero você se envolvendo nisso.

- Você nunca quer que eu me envolva, mas eu já sou grandinho o suficiente para tomar minhas próprias decisões - bufo me levantando e olhando Cody bem nos olhos.

- Eu acho que vou para o meu quarto estudar. - Comunica Thomas se levantando e caminhando em direção ao corredor do apartamento.

- Se é tão maduro assim, acho que você já é capaz de entender certas coisas.

- Como assim?

- Eu não fui expulso de casa, Liam, eu saí de casa por conta própria, depois de descobrir uma coisa que um garoto de 18 anos não deveria ter que descobrir - revela Cody.

- Eu não entendo...

"Eles não te contaram" A voz de Ethan Reed ecooa na minha cabeça e só agora que eu pude entender o que ele queria dizer com aquilo.

- Nossa mãe teve um caso com o pai do Ethan há quatro anos, eu descobri e não quis mais viver na mesma casa que eles. Eu não poderia olhar na cara deles todas as manhãs e fingir que estava tudo bem, quando tudo estava desmoronando.

Agora tudo faz realmente sentido, eu sempre achei estranho a ideia do meu pai ter expulsado Cody apenas por não querer seguir os seus passos. E ainda tinha Ethan, que sempre me odiou e eu nunca entendi o porquê, mas agora eu sou capaz de entender seus motivos.

- Então foi por causa da nossa mãe que os pais do Ethan se separaram... - falo incrédulo. - Por isso ele me odeia tanto, por causa de uma maldita traição que eu nem sequer sabia sobre.

- Eu queria ter te contado assim que descobri, mas você era só uma criança na época - justifica Cody.

Porque essa é sempre a desculpa das pessoas?

- Mas não contou - falo serrando o maxilar. - Eu passei quase a minha vida toda acreditando que o nosso pai era o grande vilão da história, quando na verdade a causa de todos os nossos problemas era a nossa mãe. Como eu pude ser tão tolo?

- Não seja tão duro consigo mesmo. Você não tinha como saber.

- Mas agora eu sei e preciso fazer algo sobre isso - falo me abaixando para pegar minha mochila que estava no chão e caminhando até a porta da sala.

- Para onde você vai? - ele pergunta, soando exausto de tudo aquilo.

- Para casa.

Saia do apartamento batendo a porta com força.

Inimigos de infância (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora