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Como o tempo voava! Eden Calloway fitou o rosto sereno da criança que dormia em seus braços, surpreendendo-se com rapidez com que haviam se passado os dois anos desde o nascimento de Molly. A menina loira de sorriso fácil sempre ficara sob os cuidados de Eden durante três dias por semana, enquanto a mãe tra­balhava em seu emprego de meio-período como secretária.

Molly agitou-se e Eden deu impulso na cadeira de balanço com seu pé descalço. Era a mesma cadeira em que sua mãe, Grace Calloway, havia embalado seus bebês. Sentada na varanda da grande casa branca de venezianas verdes que era o seu lar há trinta e quatro anos, Eden viu a criança adormecer de novo. Sabia que deveria colocar Molly na cama mas, ultimamente, vinha sentindo necessidade de mais contato humano. Mais toques. Mais amor.

E fora isso que a levara a sentar-se com Molly no colo logo depois que mãe da menina a deixara ali, com a ir­mãzinha Jamie de cinco anos. Como de hábito, Jamie fora direto para a sala assistir desenhos animados na televisão, enquanto Eden e Molly conversavam e balançavam na ca­deira.

Ela suspirou. Seus olhos cor de jade fitaram a extensão verde de pastos que se estendia para além da cerca até a distante estrada de ferro que seguia paralela à rodovia.

Haughton, Bossier City e Shreveport ficavam a oeste. Calloway Corners, um pequeno entroncamento onde havia ape­nas a casa da família, uma madeireira e um armazém geral, localizava-se a meio caminho entre Haughton e a cidade­zinha de Doyline a leste.

Eden fechou os olhos, recostou a cabeça no espaldar da cadeira e imaginou a faixa cinzenta da estrada interestadual que passava a alguns quilômetros ao norte dali, desejando ter a coragem de ver até onde ela levava. A verdade, porém, era que nunca tivera o ímpeto necessário para sair em busca do excitamento que faltava em sua vida.

Num momento de franqueza, admitiu a si própria que aquela súbita agitação, a sensação de que precisava fazer alguma coisa com sua vida além de cuidar do jardim e das crianças da vizinhança, devia-se muito ao fato de suas três irmãs mais novas terem se casado nos últimos meses.

Mariah, a mais jovem e estourada, a irrequieta que ra­ramente parava num mesmo lugar por mais de duas semanas desde que se formara no colégio, surpreendera a todos ao se apaixonar e casar com Ford Dunning, o pastor da pequena igreja local. Agora, estava grávida de seis meses e o brilho de seu sorriso chegava a ofuscar o sol quente de setembro.

Grávida. O coração de Eden contraiu-se e ela olhou para a criança descansando em seus braços. Como seria ter uma nova vida crescendo dentro do corpo? Como seria cuidar de um bebê por tempo integral e não apenas durante poucas horas por semana? Qual seria a sensação de ouvir uma crian­ça a chamando de "mãe" em vez de "tia Eden"? De repente, lágrimas quentes juntaram-se em seus olhos. A maternidade era uma das muitas coisas que sempre desejara e nunca tivera a chance de experimentar.

Até a noite anterior.

Dan Morgan lhe propusera casamento na véspera. O viúvo tinha duas filhas bem-comportadas de dez e treze anos e, desde a morte da esposa, sempre alimentara esperanças em relação a Eden. Se ela aceitasse a proposta, poderia ter tudo aquilo de que sentia falta: gravidez, um lar, o contato com um homem que a amava.

Por que hesitava, então? Por que pedira um tempo para pensar em vez de aceitar de uma vez? Afinal, os anos es­tavam passando...

Inquieta, Eden levantou-se com a criança e entrou em casa para levá-la até o quarto. Colocou-a sobre a colcha de cores suaves, com cuidado para não acordá-la. Ligou o ven­tilador sobre a cômoda para aliviar o calor da manhã e saiu sem fazer barulho.

O assoalho de madeira que rangia no corredor ainda era o mesmo da época em que seu pai construíra a casa, antes de casar-se. Eden afastou dos olhos uma mecha frisada de seus cabelos loiro-avermelhados. Como sempre, a lembran­ça do pai a enchia de tristeza e solidão. Ben Calloway fa­lecera no último dezembro e Eden sentia que, no fundo, a morte física lhe trouxera a paz que ele nunca mais experi­mentara desde que perdera a esposa durante o parto de Mariah, vinte e seis anos antes.

EDEN Quatro Destinos 4Onde histórias criam vida. Descubra agora