CAPÍTULO XXXV - DESCENDÊNCIA SANGRENTA

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A noite logo caiu. Fiquei recluso no meu quarto tentando entender tudo que estava acontecendo. Pensei no parentesco de Kasumi e Amaterasu. O que Kasumi quis dizer que Hana morreu? Quem era Hana? O que Kasumi tinha feito de tão ruim? Eu estava a ponto de enlouquecer com tantas perguntas, quando Kristofer entra no quarto e senta ao meu lado. Virei o rosto para ele, em uma tentativa de dizer a ele que queria ficar sozinho(eu confesso que fui um pouco deselegante em meu gesto). Contudo, ele toca levemente em meu ombro e fala:

- Eu sei que tudo isso deve ser difícil pra você. Mas você não é o único que está confuso. Já que você não tem mais o Lorenzo para conversar, se quiser, pode conversar comigo. - Ele deita em sua cama.

Eu não respondi, pois fingi que estava dormindo. Porém o que ele me dissera me fez piorar ainda mais. Pois além das coisas não estarem bem com a Kasumi, lembrei-me dos sentimentos de Lorenzo em relação a ela. Também recordei de nossa boa amizade que foi destruída por causa disso.

Logo depois, Lorenzo entra silenciosamente no quarto. Ele vai para a cama sem fazer nenhum barulho. Espero por alguns minutos até ele pegar no sono e me levanto para tomar um pouco de ar. Passo pelo corredor dos quartos e pela porta do pequeno santuário onde toda aquela cena aconteceu. Vou em direção a cozinha, para ver se encontro água, mas infelizmente, encontro a Mestra Amaterasu. Ela estava preparando um chá em um bule de porcelana, adornado com árvores que me pareciam cerejeiras. Meu corpo automaticamente se dirige de volta ao quarto, mas ela pede gentilmente que eu tome chá com ela. Amanterasu me serve um pouco chá e logo começamos então a conversar:

- Escute com atenção garoto. Antes de tudo, gostaria de me desculpar pela recepção que vocês receberam. Irei pessoalmente me desculpar com cada membro do grupo. Mas não é isso que eu quero conversar com você.

- Mestra, não me interprete mal, mas eu não gosto de rodeios. Pode ser direta comigo. - Ela me observa com um olhar de curiosidade.

- Que bom ver alguém tão jovem quanto você ser tão determinado. Eu gostaria de falar sobre a Kasumi. - Neste momento, senti um arrepio na espinha. - Ela é uma garota difícil, mas você e ela tem um fluxo energético muito íntimo. Isso me chama muita atenção, pois ela nunca foi assim com ninguém. Eu queria saber o que acontece entre vocês.

Comecei a contar uma história fictícia a Amaterasu, cheia de detalhes. Usei a mais fina e apurada arte da oratória unida ao meu grande dom de mentir; ambos eram minhas especialidades. Ela ouvia atentamente e tomava seu chá. Por que não contar a verdade? Por dois motivos: Primeiro, é muito difícil(pelo menos pra mim) contar minha vida para uma velha careca esquisita; Segundo, eu queria proteger Kasumi dessa mulher.

Termino de contar minha bela história a Amaterasu. Ela toma um longo gole de chá e diz:

- Entendo. Agora, o que você acha de me contar a verdadeira história?

- Mas eu contei-lhe a verdade.

- Meu garoto, você é muito esperto. Eu sei que você não confia em mim e que quer proteger minha neta e acho sua atitude louvável. Por isso, vou ensinar você a ocultar todos seus sentimentos.

- Como você sabe que eu estou realmente mentindo?

- Vou mostrar a você. Me siga.

Saímos então em direção a porta do templo. Havia um grande pátio que dava uma vista deslumbrante para as montanhas do Himalaia. O frio esta intenso, mas Amaterasu parecia não se incomodar, ao contrário de mim. Ela logo começa a falar:

- O vento parece ser um elemento fraco por não possuir variações, mas não é bem assim que funciona. Observe o céu por exemplo, o que você vê?

- A lua, as nuvens, as estrelas.

- Peço que preste atenção nas nuvens. O que você acha que está fazendo elas se moverem?

- As correntes de ar.

- Exatamente. Olhe agora para esse pátio. Olhe para a poeira. O vento está a carregando para longe. - Amaterasu abaixa e pega uma folha rosada no chão - Veja esta folha. Pus uma pequena brasa inofensiva, mas quando eu começo a soprar, a chama logo se intensifica. Consegue perceber?

- Que todos os elementos usam o ar como meio de locomoção?

- Muito bem. Mas não só isso. O seu chi também faz a mesma coisa. Veja. - Amaterasu fecha os olhos e une suas mãos como se fizesse uma oração. Logo, uma pequena luz branca começa a envolver seu corpo. A luz para repentinamente e ela abre os olhos. - Foi vendo isso que descobri sua mentira.

Fico impressionado com aquilo, e quase que imediatamente eu peço para que ela me ensine. Ela faz que sim, não da forma que eu estou esperando. Não entendi o que ela quis dizer, mas antes que eu perguntasse, ela disse:

- Garoto, o sol já vai nascer. Mas tenho que dizer uma coisa: Kasumi oculta um passado sombrio, marcado por muito sofrimento. Isso é culpa do legado familiar que ela optou por carregar.

- Que legado?

- Isso você terá que perguntar a ela. Só lhe peço uma coisa: Por favor, cuide e proteja minha neta. - Neste momento, uma nuvem de folhas de cerejeira cobre Amaterasu e ela desaparece.

Sento-me no chão do pátio e mais uma vez minha mente começa a ser bombardeada por questionamentos. Mas paro ao admirar o esplendoroso nascer do sol aquecendo as frias montanhas imponentes.

ORIGEM DOS ELEMENTOS - JORNADA DA ÁGUAOnde histórias criam vida. Descubra agora