CAPÍTULO XIV - ILUSÕES PODEM SER BEM REAIS

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Após algumas horas de descanso merecido, voltamos a caminhar. Lorenzo disse que mudaríamos de posicionamento. Eu e Kristofer ficaríamos na frente, Kasumi no meio e ele atrás. Kasumi quis protestar, mas Lorenzo lhe lançou um olhar tão frio que ela calou-se. Kristofer e eu caminhávamos na frente. Tentava puxar conversa, mas ele sempre me respondia com gestos ou frases curtas. Então percebi que ele não estava muito disposto a conversar. E como sempre, tentava desviar o olhar e estava trêmulo por minha presença. Tracei várias teorias para tentar justificar isso, mas simplesmente deixei para lá e me concentrei em Lorenzo. Ele passou todo tempo da caminhada lançando-me um olhar furioso. Formulei mais teorias e não encontrei respostas.

Concentrei-me então em analisar o ambiente. Notei que mesmo sendo tudo fruto de uma eterna ilusão, aquele lugar parecia vivo. Passava por várias mudanças. Usando o feitiço de localização de Lorenzo, estávamos nos aproximando cada vez mais do limite da ilusão. Quando estávamos prestes a chegar no fim, um grande abalo sísmico nos fez recuar, além de abrir um grande buraco no chão. Aquele evento serviu para confirmar minha teoria, e resolvi relatar isso a Lorenzo:

- Lorenzo, pela análise que fiz do ambiente, parece que esta ilusão é mutável. A medida que nos movimentamos, tudo ao nosso redor vai mudando de forma. Então devemos ficar atentos a tudo que está ao nosso redor.

- Escuta garoto, você acha que eu não sei o que estou fazendo? - Perguntou-me Lorenzo em um tom de pura ira.

- Não é isso, só fiz esta observação e achei que poderia contribuir para o bom andamento da missão. Mas não se preocupe Lorenzo, não irei mais fazer este tipo de intervenção, já que lhe é bastante incomodo.

Os olhos de Kasumi e Kristofer quase saltam para fora de seus respectivos lugares.  Mas, não satisfeito com a expressão energúmena de Lorenzo, disse aos outros que devíamos tomar nosso rumo. E simplesmente dei as costas e comecei a andar aleatoriamente por uma área pantanosa. Kasumi e Kristofer me seguiram, e por conseguinte, Lorenzo fez o mesmo.

Aquele lugar claramente não queria ver nosso êxito. Cada vez que nos aproximávamos  do fim, algo surgia para atrapalhar. Árvores com galhos cheios de espinhos que atrapalhavam nossa passagem, áreas pantanosas com buracos profundos, nevoeiros que impossibilitavam a visão, mesmo com a luz das chamas de Kristofer. Até que, por fim, após Kasumi quase morrer afogada em um pântano profundo, Lorenzo decide bolar uma estratégia. Porém, não conseguiu pensar em nada e nos pediu sugestões. E eu disse o seguinte:

- Como havia dito anteriormente, o pântano muda de acordo com nossa movimentação. Mas Surt afirmou que tudo isso não passa de uma ilusão. Então ao invés de fugirmos das adversidades, porque não enfrentá-las?

- Essa foi a ideia mais idiota que eu já vi. - disse Lorenzo em um tom enérgico.

- Lorenzo, sua atitude não está ajudando em nada. Então caso você tenha um plano melhor, vou por em prática o meu. - E saí em direção ao próximo limite mapeado por Lorenzo.

Todos me seguiram mais uma vez. Chegamos em um lugar relativamente normal (em relação àquele lugar). Então mais um tremor de terra começou e mais um enorme vale se abriu perante nossos pés. E eu, em um ato de loucura e idiotice, comecei a caminhar em direção as erosões que surgiam no chão. Para minha surpresa, eu conseguia sentir o chão firme, mesmo um grande buraco estando debaixo de meus pés. Os outros ficaram abismados. Mas logo começaram a andar em minha direção, com exceção de Lorenzo, que demorou um pouco para acreditar no que estava acontecendo.

Mas como tudo nessa vida são flores, vimos uma grande nuvem negra aumentando exponencialmente. Vimos que a nuvem se movia de uma forma estranha. O que não era inesperado, pois aquela era uma multidão de morcegos de olhos vermelho escarlate que vinham em nossa direção.


Próximo capítulo:

CAPÍTULO XV - AÇÃO E REAÇÃO









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