Evoquei rapidamente meu chicote de água. O desespero fez com que eu conseguisse evocar sem usar o cântico. Lorenzo já sacara seu martelo e estava pronto para o combate. Lancei o chicote na direção do anjo que segurava Kristofer, mas não consegui acertá-lo porque um dos anjos se fez de escudo, fazendo com que o chicote enroscasse em sua perna. Fiquei tão furioso que comecei a puxar o anjo pelo pé, o que fez com que ele começasse a alçar voo na tentativa de se livrar, mas enrosquei o chicote no meu braço e usei a outra mão para evocar outro cântico. Usei minha metralhadora de gelo( foi assim que eu apelidei o cântico número XI) na direção do anjo, que virou poeira em questão de segundos.
Nesse meio tempo em que estava cego pela fúria, esqueci que a estátua dourada do campanário estava preparando um ataque. Este ataque teria pegado em cheio se Lorenzo não fizesse aparecer uma rocha enorme na minha frente, que neutralizou o ataque inimigo. Agradeci rapidamente e saí correndo em direção a estátua. Lorenzo me segurou e disse para eu manter a calma e que precisávamos traçar um plano. Gritei freneticamente:
- Plano?! Quem precisa de plano quando se sabe o que deve ser feito. Vamos ajudar ao Kristofer!
- Correr feito um idiota e tentar derrotar os inimigos dessa forma não vai ajudar a trazer o Kristofer de volta. Olha só para aquilo. - E ele apontou em direção ao campanário
A estátua dourada usou um feitiço e acorrentou Kristofer no sino do campanário. Os outros dois anjos estavam voando ao redor como se fossem dois abutres. A estátua evocou um novo feitiço, que fez uma pequena explosão de energia escura ao seu redor, que transformou os dois anjos em gárgulas. Ao perceber o que estava acontecendo, vi que Lorenzo tinha razão e pedi desculpas a ele.
Logo toda a raiva que eu sentia foi se transformando em preocupação. Comecei a dizer ao Lorenzo:
- Tudo isso é minha culpa. Não devia ter trazido vocês aqui. Você e Kristofer estavam sobre minha responsabilidade, e olha o que aconteceu. - Soltei um suspiro de frustração.
- Calma Luke, vai ficar tudo bem. E não esqueça dos momentos maravilhosos que você nos proporcionou. Você me ofertou um dos melhores dias da minha vida, e isso não tem preço. Agora precisamos bolar um plano. - E deu um leve tapa sobre meu ombro.
As palavras de Lorenzo me fizeram por a cabeça no lugar. Começamos então a planejar algo. A estátua dourada estava evocando um feitiço a sua frente, que segundo Lorenzo, era um portal. As gárgulas continuavam voando em círculos, como dois guardas. Observando aquilo, Lorenzo me explicou o que tinha em mente:
- Iremos fazer o seguinte. Irei fazer um elevador de terra que nos levará até Kristofer. Mas temos um problema. As gárgulas. E é ai que você entra. Não gaste suas energias tentando derrotá-las, apenas as mantenha afastadas. Deixe seus espinhos de gelo prontos para essa situação. Ao chegarmos lá em cima, vamos atacar as correntes juntos para libertar Kristofer. E por fim, você deve evocar junto comigo o cântico das nuvens que nos ajudará a descer rapidamente.
Saímos então para executar o plano. Lorenzo fez sair da lateral da torre um batente de terra. Nós subimos e Lorenzo disse para eu me preparar. Fiquei com dois pentagramas, um em cada mão, e disse ao Lorenzo que podíamos continuar. Um pentagrama verde surgiu no batente. Lorenzo ergueu as duas mãos para cima e começamos a subir. Quando chegamos na metade da torre, uma das gárgulas veio em nossa direção, e eu acertei uma chicotada em seu rosto, que fez com que ela recuasse. Estávamos chegando muito próximos ao sino onde Kristofer estava, e as duas gárgulas resolveram atacar juntas. Estava apaziguando ambas usando dois chicotes, mas já sentia o cansaço em meus braços. Chegamos no topo da torre, e ao mesmo tempo, a estátua dourada conseguiu terminar de conjurar o portal.
Chegamos perto de Kristofer e já estávamos prontos para libertá-lo quando ouvimos uma voz que nos deixou paralisados:
- Não deixem que eles escapem com o garoto do fogo!!!
Conhecia muito bem aquela voz. Era a voz de Goethe. Quando finalmente recuperamos o controle de nossos músculos, a estátua dourada saltou sobre nós. Conseguimos nos esquivar facilmente, mas assim que ela se pôs de pé, foi envolvida por uma energia negra de lhe deu mais dois braços e quatro espadas.
Gritei para que Lorenzo atacasse as correntes de Kristofer como se não houvesse amanhã. Mas para nossa sorte, eu desviei de um dos golpes da espada da estátua, que literalmente partiu o sino ao meio, e consequentemente, as correntes. Mas em contrapartida, estávamos totalmente cercados pelos inimigos. Foi nesse momento que fiz uma das maiores loucuras da minha vida. Agarrei Lorenzo e Kristofer pelo pulso e saltei com os dois por uma das laterais da torre. Ainda bem que meus instintos nunca me deixaram na mão, pois um enorme dragão de água(o mesmo que Surt evocou em meu rito de passagem) apareceu e nós caímos em suas costas. O dragão voou em direção a estátua e as gárgulas e começou a cuspir uma enorme quantidade de cristais de gelo que desintegrou os monstros.
Voamos então nas costas do dragão até o hotel. Descemos em uma rua vazia para que ninguém visse. Entramos em silêncio no hotel. Ao chegar no quarto, Lorenzo me deu um soco e disse:
- Eu já disse para não agir como um idiota quando vocês estivesse lutando em equipe. - Kristofer o empurrou para trás e disse.
- Calma Lorenzo. Só estamos aqui vivos graças a ele. - E ele me ajudou a me levantar do chão e me pôs na cama dele.
Kristofer tentou tirar meu casaco para usar o feitiço de cura, mas disse a ele que não era necessário. Me levantei e pedi desculpas ao Lorenzo, o que deixou claramente Kristofer irritado. Lorenzo também me pediu desculpas por ter exagerado no soco. Depois de tudo aquilo, arrumamos as malas para partir no dia seguinte e todos foram se deitar.
Não consegui dormir e fiquei um tempo na janela observando a cidade. Kristofer se levantou e veio falar comigo.
- Olá, Luke. Gostaria de agradecer por tudo e por ter me salvado hoje.
- Não tem porque me agradecer. Sei que você faria a mesma coisa e nós somos uma equipe. Não teria conseguido se não fosse o Lorenzo. - Virei as costas para ele e voltei a olhar para a janela. Ele tentou me abraçar, mas eu o impedi. Disse que estava muito cansado e fui me deitar, o deixando sozinho no quarto escuro.
As "férias" dos heróis acabaram. Como serão as coisas no Egito?
CAPÍTULO XXII - VIAGEM AO EGITO
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ORIGEM DOS ELEMENTOS - JORNADA DA ÁGUA
AvventuraNarração da história de um monarca mimado, que descobriu que tinha um poder que iria ser a salvação ou ruína do mundo. Esta decisão não iria interferir apenas em sua existência, mas em várias outras.