4.Será que minha mãe pode mesmo bater nas pessoas?

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Ponto de vista de Laura

O complexo Macedo tem uma academia incrível.

Sempre pegam no pé de todo mundo para que mantenham a forma. Não preciso que peguem no meu pé e não preciso ser treinada.

Preciso é que me deixem sozinha.

Corro na pista de dentro. Corro descalça, eu prefiro.

As solas dos meus pés fazem um som diferente, nem um pouco parecido com o som feito por aqueles tênis de corrida de trezentos dólares, resmungando enquanto a borracha de impacto faz o seu trabalho.

Meus pés são quase silenciosos.

Eu corro e faço musculação, os agachamentos, tudo isso.

Gosto de musculação.

Não há enrolação na musculação, ou você levanta aquele peso de trinta e cinco quilos ou não.

Sim ou não, nada de mais ou menos.

Depois da musculação, eu vou para a sala escura e fedorenta ao lado, onde estão os sacos de pancada. O resto do complexo da academia é impecável e aberto.

A sala de boxe — bem, há algo cru no esporte que se destaca, ainda que o designer contratado tenha insistido em acrescentar um tom agradável verde petróleo para as cordas do ringue.

O Louis está ali, pronto. Às vezes, luto com ele.

Louis é mais velho do que eu, talvez tenha uns vinte e cinco anos.

Nunca perguntei.

Mas ele é um dos nerds, por isso nos damos bem.

Falamos sobre coisas de nerd, ou falaríamos, se não estivéssemos com protetores de boca e dando socos um no outro.

Louis não é tão rápido quanto eu, e parece mais calmo também.

Mas, caramba, quando ele bate, é pra valer.

Você sente o golpe e tem que assimilá-lo enquanto seu cérebro gira dentro de seu crânio tentando reconectar todos os fios.

Eu adoro isso.

É bem doido o fato de eu gostar de apanhar.

Mas eu gosto.

Você leva um soco no lado da cabeça, um golpe que dá a impressão de que sinos tocam em seu ouvido, e então você volta, ainda meio grogue.

Para mim, é um dos melhores momentos da vida.

Bata em mim.

É sério, bata com força.

Transforme meus joelhos em geleia.

E eu recebo o golpe e rebato.

Extraordinário.

Estou acabada e coberta de suor.

Desde os cabelos até os pés, molhada, ofegante, sorrindo, tentando imaginar se vou voltar a sentir o lado esquerdo de meu rosto.

— Fracote — Louis diz.

— Molenga — respondo.

— Não me sinto bem batendo numa menininha.

— Não se sinta mal, Louis. Continue tentando e pode ser que um dia você aprenda a dar um golpe de gente.

Com a troca de provocações de sempre, nós marcamos um novo encontro para depois de amanhã.

Louis segue para o chuveiro da academia, eu sigo para meu quarto.

Meu quarto, meu lugar, meu espaço.

O DNA do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora