11.Sim, é um beijo, com certeza.

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Ponto de vista de Diana

Insiro o pen drive em meu computador. O ícone aparece na área de trabalho. Agora. Só preciso clicar nele. Só o que preciso fazer. Está tarde. Alessandra está roncando baixinho. Fingi estar dormindo para colocá-la na cama. Estou no banheiro, de calça de pijama e camiseta, sentada no vaso sanitário com o assento abaixado. A luz é muito forte para esta hora da noite. É uma luz que não esconde nada.

O ícone mostra o logo da Apple. Só é preciso dar um clique com o mouse ou um toque com o dedo na tela. Mas aí é que está. Não tem como ignorar algo que já se sabe. Quando você fica sabendo, não tem jeito. Quando fica sabendo, sente-se motivado a agir. Quando você age... Você está pensando demais, digo a mim mesma. Preocupando-se demais. E ainda assim... Por que é tão difícil? Eu não vim aqui para ver o que está escondido no drive de Laura? Não é por isso que estou sentada em um vaso sanitário duro no meio da noite?

Estico meu dedo indicador, passo o dedo sobre a tela. Toque. O arquivo se abre. Contém três outros arquivos. Um deles é um vídeo. Os outros dois parecem ter documentos ou fotos. O vídeo tem uma etiqueta na qual se lê "#1".

Respiro fundo. Encontro meus fones de ouvido — eles caíram no chão. Eu os coloco novamente. O vídeo é de Laura. Ele está de pé, saltitando de um lado para o outro. Está nervosa.

— Diana. Sou eu, a Laura.

Sorrio brevemente, apesar da situação. Como se eu não soubesse disso sem que ela precisasse dizer.

— Não sei se você vai assistir. Não sei qual será a sua reação. Você não fazia parte do plano. Mas... bem, aqui estamos. E acho que você está envolvida agora.

Agora. Parece que ela está perdendo o jeito. Ela começa a esticar a mão para a câmera, como se fosse desligá-la. Muda de ideia.

— Bem, você faz parte disso porque é quem é. É que, antes, eu não conhecia você. Sei lá, eu sabia que você existia. Sabia sobre você, mas então você se tornou uma pessoa real. Uma pessoa de quem eu gostei.

Ela olha para os pés.

— Uma pessoa de quem eu gosto muito. — Pausa. Ela se remexe. — Muito.

Olho com nervosismo para a porta trancada, como se alguém pudesse escutar. Mas sou a única escutando. A única sentindo.

— Bem, você é uma Macedo tanto quanto ela, acredito. Então, vou contar a você. — Longa pausa. Sinto que ela está em conflito, arrependendo-se. — Sinto que você merece saber tudo.

Laura pigarreia. Ela se estica em direção à câmera, e o vídeo termina. Estou envolvida demais. Clico no primeiro arquivo. Há uma dúzia de documentos individuais no arquivo. Os primeiros que abro parecem planilhas de orçamento. Não tenho interesse em orçamentos e não sei ler uma planilha. Talvez elas sejam incrivelmente importantes, mas não sou a pessoa que entende disso. Eu fico desapontada. Mas continuo olhando. O próximo arquivo é uma descrição do Projeto 88715.

Projeto 88715, Fase um: Vamos unificar diversas tecnologias novas e antigas dentro da Macedo e outras de fora da empresa. O objetivo será criar uma interface simplificada que reduza a complexidade extrema da engenharia genética a um nível no qual qualquer operador moderadamente inteligente consiga construir um ser humano desenvolvido.

Projeto 88715, Fase dois: Vamos ligar a interface aperfeiçoada descrita acima para começar a construir humanos. Olho para a página. Tem a ver com o programa que estou usando, aquele que estou utilizando para criar Alysson. Um programa que permite a criação de seres humanos simulados. Mas tem uma coisa: não diz nada sobre "simulado". Abro o arquivo que resta. As imagens surgem aos montes. Tem a foto de um porco. A pele é verde. Tem a foto de um cachorrinho com orelhas, orelhas humanas. Tem a foto de um homem com olhos inexpressivos e dobras de pele pendendo do peito como velas feitas de carne. Tem, ai, meu Deus, uma menina com um rosto no... Tem uma série de tubos gigantes, cada um com alguma coisa viva dentro. Tem...

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