9.É isso o que você veste de roupa íntima?

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Ponto de vista de Diana

Voltar foi mais fácil do que eu pensei. Ainda assim, a coisa toda me deixou agitada cansada, confusa. Laura me leva para a clínica, onde todos, aparentemente, estão meio agitados, pensando no que poderia ter acontecido com a filha da chefe. Felizmente, minha mãe passou o dia em um spa. Ela fica fora de alcance quando está passando por uma desintoxicação, rejuvenescimento ou renovação.

— Eu estava passeando por aí — digo ao Dr. Anderson.

— Você deveria estar na cama — ele diz. — Não está em condições de passear.

Nem de correr atrás de criminosos, digo para mim mesma. Quando os funcionários voltaram ao normal, Laura me leva para a estação de trabalho onde o Projeto 88715 está montado. Comecei a pensar nela como "minha" estação de trabalho. Meu projeto. As luzes estão fracas, mas as luzes brilhantes na figueira enorme estão acesas. Não tem ninguém por perto. Pigarreio.

— Obrigada — digo. — Por ajudar com a Alessandra.

— Sem problemas. — Laura enfia as mãos nos bolsos. — Está com fome? Posso ir até o refeitório, ver o que tem por lá.

— Não, estou bem. Elétrica.

— Você acha que a Alessandra vem?

— Não. Eu não tenho o charme de Maddox.

Laura ri, olha para os sapatos.

— Você é bonita. Mas não é o Maddox.

A tensão do carro parece ter passado. Ótimo. Podemos fingir que não aconteceu. Eu me conecto, aperto algumas teclas e, de repente, um par enorme de olhos gigantes — os olhos de Laura — aparece a nossa frente.

— Alysson espera — digo.

— Alysson, hein?

— Foi o nome que Alessandra deu a ela. Mas poderia ser outro. Ainda está para ser definido.

Laura trava a minha cadeira de rodas.

— Certo, então. Boa noite — ela diz.

— Boa noite. E obrigada de novo.

Eu me sinto estranhamente solitária quando ela se vai. Muitas máquinas murmuram baixo, mas, tirando isso, o silêncio reina. Aqueles olhos latejam devagar, lançando um luar castanho sobre minha mesa. Eu provavelmente tinha que fazer o restante do rosto de Alysson. Esses olhos precisam de um lar, afinal. Olho para a tela, analisando minhas opções. O software me dá um pouco de flexibilidade. Depois de alguns minutos de hesitação, clico em "mãos". Não sei por quê. Digo a mim mesma que é porque os polegares são muito importantes para a espécie Homo sapiens. Para usar ferramentas e essas coisas. Parece profundo em minha mente. O rosto? É só aparência, na verdade. Mas as mãos, bem... as mãos fazem coisas. As mãos criam.

Estou me saindo muito bem com o software agora. Quando ele lança um aviso sobre o fluxo de sangue, eu me lembro de como conectar as mãos virtuais ao fluxo temporário de sangue virtual. O software muda de posição subitamente, como fez com os olhos, e as mãos assumem uma realidade estranha. Mãos. Com tubos levando sangue de um lado a outro. Mãos, flutuando aproximadamente a setenta centímetros abaixo dos olhos que, de qualquer forma, também flutuam no nada. Eu tenho mãos. Boas mãos. E dois olhos. Bons olhos. E só o que falta são rosto, pernas, braços, ombros, peito, costas e um cérebro. Sim, só isso.

Eu enrolo um pouco. Por que estou relutante em dar a ela um rosto? Porque, sério, como se faz um rosto? É por isso. É por isso, em parte, pelo menos. Mas tem outra coisa. Com um rosto, você tem uma pessoa. Um indivíduo específico.

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