Ponto de vista de Diana
— Não tem nem cicatriz — Alessandra diz.
Ficamos olhando por um tempo. Eu estico dedos trêmulos em direção à minha perna. Preciso tocá-la para acreditar. A pele não está nem marcada. Não está só lisa. Está absolutamente igual a como era antes do acidente. Continuo retirando ainda mais os curativos. É como tirar uma calça muito justa. Desço até o joelho, para garantir, só para ter certeza de que minha memória não está de brincadeira comigo.
— Estamos acordadas, certo? — pergunto.
Laura fica de pé. Ela coloca a tesoura no balcão.
— Está assim há alguns dias. No segundo dia, tudo já estava bem. No terceiro, as cicatrizes devem ter desaparecido. No quarto? — Ela ergue os ombros. — Pode haver variações, não é nada certo.
Alessandra parece ter se esquecido de seus próprios ferimentos.
— Isso não é possível. É?
— Laura — digo.
Ela tem as respostas. Sei que tem.
— Já ralou o joelho, um ferimento que durou mais de um dia? — ela pergunta.
— Hum... não sei. — Penso na minha vida toda e nos curativos que usei. — Quem fica olhando?
— Cortes? Hematomas? — Laura se recosta na pia, com os braços cruzados no peito. — Dor de dente?
— Eu sempre passo o fio dental — digo, de modo defensivo.
— Resfriados? Gripes?
Meu coração está acelerado.
— Eu tomo vitamina C — digo, esboçando um sorriso. — Quantos resfriados você teve na vida?
Laura fica tensa. Começa a dizer algo, mas para.
— Estamos falando sobre você.
— Ela nunca fica doente — Alessandra diz suavemente. — Tipo... nunca. Ela não tem nem cólica.
Eu olho para ela. Ela ergue as mãos de modo defensivo.
— Bom, é verdade.
— Então, sou a imagem da saúde. Tenho sorte — digo. E toco minha coxa.
Laura balança a cabeça.
— Ninguém tem tanta sorte assim.
— Espere! Já sei! — digo de modo triunfante. — Quando tinha dois anos, passei por uma cirurgia do coração. — Fico estranhamente aliviada com esse fato. — Foi uma coisa envolvendo a válvula. Congênita. Mas eles consertaram. Com tecido de porco, na verdade.
Alessandra franze o cenho.
— Tipo... bacon?
— Não — Laura diz olhando para mim. — Eles não consertaram cirurgicamente.
— Claro que sim. Porque estou aqui, bem. Mais do que bem. — Mordo a unha do polegar, pensando. — E como você pode saber o que aconteceu quando eu tinha dois anos?
Laura olha para baixo.
— Você não tinha muito tempo de vida, Diana — ela diz. — As chances de conseguir um transplante de coração eram muito baixas. De certo modo, dá para entender por que eles fizeram isso. Estavam desesperados.
Seguro o braço dela.
— O que está me dizendo?
— Você é modificada. — Laura toca minha mão e eu solto o braço dela. — Você é geneticamente modificada. Aconteceu quando você tinha dois anos. Está em seu arquivo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O DNA do Amor
RomanceFilha única da poderosa Alice Macedo, Diana fica entre a vida e a morte depois de sofrer um acidente de carro. O processo de cura no misterioso laboratório Macedo transcorre com uma rapidez impressionante, o que desperta o seu lado detetive. Antes...