10. Em que ano estamos, 1952?

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Ponto de vista de Diana

— Não tem nem cicatriz — Alessandra diz.

Ficamos olhando por um tempo. Eu estico dedos trêmulos em direção à minha perna. Preciso tocá-la para acreditar. A pele não está nem marcada. Não está só lisa. Está absolutamente igual a como era antes do acidente. Continuo retirando ainda mais os curativos. É como tirar uma calça muito justa. Desço até o joelho, para garantir, só para ter certeza de que minha memória não está de brincadeira comigo.

— Estamos acordadas, certo? — pergunto.

Laura fica de pé. Ela coloca a tesoura no balcão.

— Está assim há alguns dias. No segundo dia, tudo já estava bem. No terceiro, as cicatrizes devem ter desaparecido. No quarto? — Ela ergue os ombros. — Pode haver variações, não é nada certo.

Alessandra parece ter se esquecido de seus próprios ferimentos.

— Isso não é possível. É?

— Laura — digo.

Ela tem as respostas. Sei que tem.

— Já ralou o joelho, um ferimento que durou mais de um dia? — ela pergunta.

— Hum... não sei. — Penso na minha vida toda e nos curativos que usei. — Quem fica olhando?

— Cortes? Hematomas? — Laura se recosta na pia, com os braços cruzados no peito. — Dor de dente?

— Eu sempre passo o fio dental — digo, de modo defensivo.

— Resfriados? Gripes?

Meu coração está acelerado.

— Eu tomo vitamina C — digo, esboçando um sorriso. — Quantos resfriados você teve na vida?

Laura fica tensa. Começa a dizer algo, mas para.

— Estamos falando sobre você.

— Ela nunca fica doente — Alessandra diz suavemente. — Tipo... nunca. Ela não tem nem cólica.

Eu olho para ela. Ela ergue as mãos de modo defensivo.

— Bom, é verdade.

— Então, sou a imagem da saúde. Tenho sorte — digo. E toco minha coxa.

Laura balança a cabeça.

— Ninguém tem tanta sorte assim.

— Espere! Já sei! — digo de modo triunfante. — Quando tinha dois anos, passei por uma cirurgia do coração. — Fico estranhamente aliviada com esse fato. — Foi uma coisa envolvendo a válvula. Congênita. Mas eles consertaram. Com tecido de porco, na verdade.

Alessandra franze o cenho.

— Tipo... bacon?

— Não — Laura diz olhando para mim. — Eles não consertaram cirurgicamente.

— Claro que sim. Porque estou aqui, bem. Mais do que bem. — Mordo a unha do polegar, pensando. — E como você pode saber o que aconteceu quando eu tinha dois anos?

Laura olha para baixo.

— Você não tinha muito tempo de vida, Diana — ela diz. — As chances de conseguir um transplante de coração eram muito baixas. De certo modo, dá para entender por que eles fizeram isso. Estavam desesperados.

Seguro o braço dela.

— O que está me dizendo?

— Você é modificada. — Laura toca minha mão e eu solto o braço dela. — Você é geneticamente modificada. Aconteceu quando você tinha dois anos. Está em seu arquivo.

O DNA do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora