Beneficio da dúvida

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POV Brooke

A sensação quente da água caindo em minhas costas é relaxante, mesmo que eu ainda esteja basicamente na merda. Fecho os olhos e inclino a cabeça para trás, molhando o rosto e tentando limpar os pensamentos.  Mesmo sabendo dos riscos, eu me deixo apreciar o momento, crente que Daryl nunca faria algo de realmente ruim comigo. Talvez seu grupo – definitivamente seu grupo- mas não ele.

Quando me dou por satisfeita, fecho o chuveiro e puxo a toalha enrolando-a em meu corpo.  A perna machucada tem dificuldades em aguentar o meu peso, então acabo mancando para fora do box.  O espelho está embaçado pelo vapor, e eu não me dou ao trabalho de limpar, sem vontade nenhuma de ver o meu próprio reflexo. Não acho que o Dixon pensou na possibilidade de eu quebrar o espelho e usar os cacos como arma, mas de qualquer forma não é uma opção inteligente agora.

Apoio-me na pia e visto a calcinha e sutiã novamente. Não é algo muito higiênico, mas não se tem muitas opções quando se é prisioneira ou está em um apocalipse, e no meu caso eu estou em ambos ao mesmo tempo. Arrasto-me em direção ao quarto, os dentes cerrados a cada pontada de dor que sobe pela perna, e mexo na tal bolsa que ele comentou antes. Encontro calça jeans e camiseta, e pelo tamanho creio que serviriam perfeitamente, no entanto o pensamento de apertar o machucado no jeans nesse momento me dá arrepios.  Puxo a mochila preta dele e abro-a com descaso, puxando  uma camisa preta e vestindo-a.

Pouco depois ouço batidas na porta, o que é quase fofo, levando em consideração  que ele não tem que fazer nada disso.

-Brooklyn? – pergunta através da porta

-Tudo ok- digo alto para que me escute e um momento depois ouço o click da porta sendo destrancada.

Ele entra rapidamente, chutando a porta atrás de si e a tranca, guardando a chave no bolso. Então olha para mim e parece estático.

-O que?- pergunto arqueando a sobrancelhas, notando  que seus olhos estão fixos em mim e escurecendo.

-Você está usando minha camisa- murmura entre um grunhido, o sotaque caipira mais acentuado.

-Algum problema?- pergunto cruzando os braços e me divertindo com sua expressão atordoada.

-Não- diz e ergue as mãos, como se estivesse se rendendo ou algo assim. Percebo um embrulho em sua mão, que ele joga em minha direção e eu pego por puro reflexo- Achei que estivesse na hora de você comer algo.

Afasto o guardanapo e encontro um sanduiche. Aperto os lábios, ponderando se ele poderia ter posto alguma vingança como recheio, mesmo que eu não ache que seja de seu feitio.

-Não tem nada de errado com o pão- avisa  e ergo os olhos arqueando as sobrancelhas- Eu nunca faria uma merda dessa com você, Brooklyn.

Aceno sem dizer nada e dou uma mordida, só então me dando conta da fome que sinto. Ele se senta na outra extremidade da cama, começando a comer o seu próprio, os olhos me perseguindo como o de um caçador persegue uma presa. Mesmo assim, não me sinto intimidada. Por outro lado, o silêncio me esmaga.

-Por que me deixou fugir?- pergunta bruscamente e eu termino de engolir o pedaço que mastigo calmamente.

-Por que não deixaria?- jogo a pergunta de volta e ele me olha irritado.- Você nunca seria um capanga dele. Nasceu para ser livre.

Silencio. Ele parece se afogar no meio de um milhão de pensamentos

- Não posso fazer o mesmo por você- diz depois de um longo tempo, quando eu já até acabei de comer.

-Nunca esperei que o fizesse- digo calmamente e seus olhos faíscam.

-Odeio quando banca a rainha do gelo- resmunga e eu solto uma risada fraca.

The devil's wife Onde histórias criam vida. Descubra agora