Capítulo 1

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Notando o rapaz de óculos e negros cabelos ao fim do corredor, Snape ainda tentou recuar, buscando outro caminho ou alguma entrada naquelas paredes de pedra do alto castelo. Inútil. Os olhos determinados e travessos caminhavam com passos certeiros em sua direção.

Outra vez.

Não foi preciso mais que um cruzar de olhos para James Potter descobrir o "inimigo". Fosse pelos cabelos negros e sebosos, o jeito cabisbaixo de andar, a aura revoltante... Não importava, tudo naquela pessoa lhe causava asco, raiva e uma confusão de emoções indescritíveis.

Começou com brincadeiras durante as aulas, apelidos maldosos, perseguições e punições por aquela pessoa continuar a respirar e existir. James e os marotos se empenhavam em fazer Snape se arrepender pelo momento quando seus pulmões se encheram de ar pela primeira vez.

Amaldiçoando a vida. Amaldiçoando o colégio. Amaldiçoando a si, Snape abaixava o rosto tentando passar reto e não ser notado. O medo aumentava por aquela pessoa estar sozinha, caminhando relaxado, casual, vagarosamente, conversando com uma aluna aleatória de sua casa. Daquela maldita casa.

Quase a mesma idade, alturas parecidas, histórias diferentes em casas distintas. Snape não sabia muito sobre o algoz, mas não importava. Amaldiçoava o dia que o conheceu, ou melhor, quando os olhos se cruzaram pela primeira vez, chegando a vomitar apenas pelas súbitas recordações de algumas travessuras sem limites.

Mais alguns passos.

Passo reto. Caminhos paralelos.

Um suspiro aliviado.

Relaxando os ombros intimidados, olhava para os livros refletindo se havia esquecido algo. A próxima aula começaria quando o relógio parasse de tocar, faltando apenas três badaladas, duas badaladas...

- Vai me ignorar, Ranhoso? – Perguntava o velho amigo, passando o braço em torno do seu ombro e indicando um desvio de caminho para o banheiro.

- A aula...

- Não me questione. Odeio esta aula ridícula de Defesa contra as artes das Trevas.

- Eu não quero...

- Vai mesmo me questionar? – Erguendo um pouco a cabeça, buscava os olhos fugitivos e cabisbaixos, cujo dono seguia por intimidação.

Tendo um sorriso vitorioso, passava os dedos de leve por a linha daquela trêmula mandíbula. Apreciava aqueles pálidos lábios silenciosos e obedientes.

Adentrando o banheiro, o grifinório trancou a porta, empurrando o convidado para o centro com um leve toque na omoplata. Erguendo a sobrancelha esquerda, preveniu com malícia:

- Temos que terminar o que começamos.

O cenho franzido. Expressão atordoada, logo desviada para um canto qualquer. Maleando a cabeça em negativo, implorava baixinho por piedade como se fosse fragmentar num infinito choro, talvez assim, quem sabe alguém lhe trouxesse socorro?

Mas não.

Novamente, não.

Solitária realeza. Travessuras marotasOnde histórias criam vida. Descubra agora