Capítulo 26

377 37 4
                                    


Completava o décimo dia e James permanecia na porta da sala, aguardando o tal garoto da Corvinal após a aula. O maldito que suspostamente havia entrado em seu caminho, roubando-lhe os objetivos.

Sirius e Remus sorriam, sustentando a mentira para puni-lo. Indo mal nas provas, sem comer, sem dormir, sem ânimo. Queria ficar na cama o dia inteiro, ainda assim, levantava para perseguir aquela complicada pessoa desnorteadora de suas emoções.

No primeiro momento, o sonserino teve medo da possível reação no dia seguinte. Arquitetando novos feitiços, poções, decidido a fazê-lo se arrepender pela existência, apesar do receio quanto aos sentimentos da amiga... Todavia, desta vez, Potter aparentava cumprir o prometido, assim passou a ignorá-lo completamente como a todos os demais alunos daquela escola, excetuando Lily.

Havia um rumor referente à ascensão de um bruxo das trevas se apoderando dos corredores da escola acerca de desaparecimentos, torturas e mortes recentes, sendo algumas inclusive no mundo trouxa.

James não ligava.

Nada importava.

Ressentindo até o último momento, não aguentou. Indo até o corredor, permaneceu na esquina da aula de defesa contra as artes das trevas, aguardando o rabugento aluno sair.

Precisava resolver aquilo do seu modo.

Quando este passou, puxou-o pelo braço, envolvendo-o num forte abraço, acolhendo junto a si.

Temendo o pior, o rapaz caminhou sem questionar, consciente que enquanto não saísse da escola aqueles abusos não parariam. Recostado contra a parede pelo abdômen, ali, no corredor movimentado, o insano garoto lhe tomava a frente, impedindo de fugir.

- Lily disse que vocês estão estranhos. – Arriscou, tateando o tórax e o empurrando de leve.

James fechou os olhos, estabilizando a respiração como não conseguia fazer com os pensamentos. Mantinha o punho fechado um pouco acima da cabeça do causador de problemas, reprimindo os desejos cruéis perante...

Aproximando-se, as respirações se tornavam uma. O que falar primeiro? Não conseguia encará-lo. Até tinha saudades daqueles olhos fugitivos, mas... Não conseguia fitá-lo desta vez.

- Você prometeu, Potter.

- Eu sei. Eu, infelizmente, sei.

Diante as palavras, um pouco mais de coragem para empurrá-lo, porém James não se moveu um milímetro. Maleando a cabeça em negativo, conseguiu coragem para fitar os olhos quase sem vida, vomitando aquilo que sempre estivera entalado em sua garganta:

- Eu sinto ciúmes de você. Não quero que tenha amigos. Não quero que tenha conhecidos. Não gosto quando você está sorrindo com outras pessoas, ou quando professores te elogiam. Realmente, desculpe-me, Severo. Desculpa, mas eu aceitei namorar Lily para afastá-la de você.

- Você está doente, Potter.

- Sim. E apenas você é o meu remédio. Você não entende como...

- Não. Não entendo. – Franzindo o cenho, desacreditado. Pobre Lily. - Você resolve seus ciúmes ficando com o parceiro de quem você gosta?

- Não... Quer dizer, - Pensativo. Droga. – Talvez, se eu passasse mais tempo com ela, ela passaria menos tempo com você.

- Você é um babaca, Potter. – Praguejou. Os marejados olhos lacrimejavam em fúria. – Eu não acredito... – Abaixando o rosto, o choro tornava as palavras mais baixas. – O pior de tudo é que você me deixa confuso e já não sei o que eu sinto por ti. Juro que te odeio. Eu, realmente, te desprezo muito. Aliás, eu tenho o objetivo de matá-lo um dia. Mas... Mas... O modo como você me abraça despercebido... Seu perfume... Seu beijo...

- Eu te amo, Severo...

- Não. – Criando coragem para fitá-lo, enxugava as lágrimas com o dorso da mão. – Você nem sabe o que é amor, Potter. – Tendo os lábios capturados, ele não se afastou ou tentou fugir. Um beijo salgado, ressentido, problemático. Ainda assim, necessário para ambos.

Beijando uma das pequenas gotículas cristalinas que escorria do olho direito, pediu, ou melhor, clamou num baixo sussurro próximo ao ouvido daquela tímida pessoa ruborizada e tão desnorteada quanto a si:

- Então, me ensina?

Recostando as testas, o olhar sem orgulho ou arrogância aguardava, penetrando na escuridão afrente, orbes âmbar. O lábio sibilava sem uma resposta correta, até porque esta não existia naquela ocasião. Corações igualmente acelerados pelo nervosismo, pensamentos confusos...

Snape só meneou a cabeça em positivo, temendo aquilo ser outra das inúmeras brincadeiras de mau gosto. Temendo o previsível arrependimento. Temendo o obscuro futuro, se este existiria.

Potter sorriu por aquele garoto parecer um pequeno coelho. A pele tão branca, os olhos inchados e vermelhos. O coração pulsava aliviado pela resposta positiva, temendo a si mesmo acerca do que faria se ouvisse outro "não".

Enrubescendo mais, o sonserino o empurrou, tentando escapar. Meio perdido, não compreendia o motivo do riso. Todavia, novamente lançado contra a parede, rendia-se a maldita luxúria. Ainda incerto sobre o que sentia, desfrutava aquele momento, torcendo para a vida finalizar ali.    

Solitária realeza. Travessuras marotasOnde histórias criam vida. Descubra agora