Capítulo 4

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- Qual a melhor forma de declarar seu amor por alguém? – Sirius perguntou pensativo. Recostado contra a árvore, brincava com os fios palhas da cabeça repousada em seu colo, atordoado com o calor da estação.

Após a aula de trato com as criaturas mágicas, quando tiveram que correr para capturar um animal, os dois amigos aproveitavam a brisa sob a sombra duma grande árvore.

Definitivamente, apesar dos ponteiros marcarem um pouco mais que meio-dia, Sirius não tinha ânimo para nenhuma outra aula e, após insistir bastante, Remus concordou em lhe acompanhar "só daquela vez". Ele sorriu em silêncio, afinal nunca era "só daquela vez".

Embora ausente, o lupino permanecia concentrado lendo sobre a respectiva matéria, atualizando-se sobre o possível assunto. Ao escutar a pergunta, abaixou um pouco o livro na altura do nariz, espionando os olhos cinzentos de carinho.

- James me perguntou a mesma coisa ontem à noite. – Rindo calmamente diante a expressão enciumada, brincou. – Acho que a primavera está chegando para vocês.

- Por que James te perguntou isto?

- Não sei. Ele parecia preocupado. – Ponderou. – Lily... Acho que este era o nome dela.

- Lily... – Repetiu, logo rindo. – Aquela ruiva que anda com o Ranhoso?

- É ela? – Levantou-se, sendo indescritível a surpresa. Colocando o livro sobre o colo, refletiu. – Ela é bonita... Mas, parece que o Snape gosta muito dela. Eles sempre estão juntos e...

- Então sempre está junto de alguém significa que você gosta desta pessoa?

- Sim.

- E significa que você quer beijá-la, escondê-la do mundo e fazê-la completamente sua?

- Sim. Quer dizer...

- Sempre estamos juntos, Remus... – Arriscou num pálido riso, tentando manter o nível casual e relaxado da conversa.

Um leve vermelho tingiu as orelhas do garoto lobo. Fitando a grama sem jeito, encontrou minúsculas formigas em fileira, caminhando discretamente entre os ramos esverdeados.

Percebendo a rara oportunidade, Sirius engatinhou até o amigo... Até aqueles lábios tão presentes em seus sonhos, os quais continuaram:

- Desculpa... Você tem razão... Não significa nada.

- Não! – Atrapalhou-se.

- Você está certo. Eu sou um sonhador. – Um suspiro profundo. Tão pesado como o mundo a levitar. – Mas, eu queria amar alguém como você e James... Só que... Com a minha aparência... – Utilizando o livro aberto como refúgio, ocultava o rosto, ou melhor, as cicatrizes de lembranças pela incurável maldição. – Eu sou um monstro...

- Não é verdade, Lupin. – Bronqueou indignado. – Você é um bruxo incrível. – Engatinhando para mais perto, abaixou o frágil empecilho, fitando os olhos perdidos e receosos. Perderia a amizade se revelasse a luxúria atordoando seus pensamentos? Um beijo poderia mesmo destruir tudo?

- Mas... Estas marcas...

- Eu deixaria muito mais se tivéssemos uma noite de amor.

- Sirius! – Protestou, corando efusivamente. Desviando o olhar para uma das passarelas do colégio. Aqueles olhos lhe deixavam confusos. A sonoridade daquela voz... Como poderia ter um amigo como Sirius?

Pequenas pessoas passavam pela alta torre. Lupin piscou e não demorou a reconhecer o garoto de óculos. O braço em torno o ombro de um aluno da sonserina, segredavam numa estranha amizade.

- James está indo para algum lugar, mas havia dito que não perderia a aula de poções por nada...

Sirius virou um pouco o rosto para conferir, revirando os olhos como se aquilo não tivesse salvação.

- Não sei... Ultimamente, eles sempre estão juntos... – Levando o dedo indicador aos lábios, pensativo, supôs. - Acho que ele quer pedir conselhos sobre Lily.

- Oh, claro! – Ironizou, retornando a recostar as costas contra o tronco da árvore. – Conselhos...

- Acho que ele gosta mesmo dela, Sirius. Só que... – A voz cessou, o cenho franzido em decepção...

- O que houve?

- Acho que você deveria falar com ele... Snape não merece... Quer dizer, ele quase nem tem amigos e...

Sirius nada disse.

Nem mesmo compreendia os próprios sentimentos, não queria adentrar a confusão na cabeça do melhor amigo. Fechando os olhos, suspirou densamente, também não gostava quando o jovem licantropo estava preocupado...

Reconhecia ultrapassa limites, talvez fosse seu dever fazer algo. 

Solitária realeza. Travessuras marotasOnde histórias criam vida. Descubra agora