Capítulo 29

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Aquele não era o mesmo local onde acordaram juntos, tendo as mãos enlaçadas e o medo angustiante no peito? Infelizmente, passou tanto tempo e o medo permanecia o mesmo. O inverno retornava, embora o frio jamais houvesse abandonado aqueles dois corações.

- O que posso concluir sobre nós?

O silêncio.

O angustiante silêncio que irritava o energético grifinório.

Fechando os olhos rapidamente, Severus fingia dormir. Ou, pelo menos, ansiava por isto. Uma fuga mental já que a real seria impossível.

- Então está dormindo? – Brincou.

O bobo sorriso escapava pelo canto dos malditos lábios. Acomodando-se no estreito sofá, enlaçava aquela pessoa pela cintura num cuidadoso abraço apertado como se isto o proibisse de escapar dentre seus dedos. Roçando o nariz nos escuros fios, cautelosamente, aspirava o perfume único contido naqueles escuros cabelos. O antidoto para a constante irritação. O memorável cheiro.

- É bom que posso divagar em pensamentos sem ser repreendido. – Assumindo um tom mais sério, prosseguiu. - Severus... Eu não vou desistir de você. Eu não quero. Podemos ter uma casa no campo quando saímos do colégio. Um jardim com plantas exóticas. Sabe, eu serei o homem mais feliz do universo por poder sentir este irritante aroma de ingredientes desconhecidos por você ser o louco das poções.

Snape controlou o riso, não passando despercebido. As covinhas naquelas bochechas. A pele tão pálida. James passou alguns minutos o apreciando, continuando pesaroso:

- Não permito que nem a morte nos separe. - Depositando um beijo em sua nuca, acariciava os eriçados pelos de leve como se temesse despertá-lo. - Imagina quando estivermos com cabelos brancos e eu enciumado pelos seus fãs... Às vezes, perco noites refletindo como devo ser masoquista por ter me ... apaixonado... por um bruxo tão notável como você.

Apaixonado? Odiava admitir, todavia antes que percebesse havia submergido na escuridão daqueles olhos melancólicos, afogando naquele detestável sentimento agonizante. Por isto, precisava provocá-lo, maltratá-lo, exterminá-lo, somente assim, conseguiria libertasse.

Tolo.

Apenas agora, estando ali e sentindo o calor derivado pelo corpo aconchegado contra seu peito, encontrava a tão estimada paz.

- E os nossos filhos?

- Somos homens... - Repreendeu imóvel. Pondo-se de frente, piscava os curiosos olhos, parcialmente interessado. Só que... - Não teremos crianças ou felicidade.

Ignorando a amargura contida nas palavras negativas, James continuou:

- Eu serei o pai legal que vai dar bolacha quando você, por castigo, colocar em cima da geladeira. Vou ficar enciumado quando ele adentrar a nossa cama, dizendo que está com medo, enquanto mergulha no nosso meio... Ele vai crescer e logo chegará a carta para Hogwarts. Você vai indicar bons livros e eu os segredos...

- Oh, não, James! Já o vejo na detenção.

- Claro que como um bom grifinório...

- Sonserina

- Não mesmo!

- Por Merlin, meu filho não será um cabeça de vento sem limites...

James sorriu.

Os pequenos dentes alinhados como cortinas entre os finos lábios, Snape pensou que gostaria de beijá-lo outra vez. Pelo menos, calado, ele não conseguia falar tanta bobagem como a seguinte provocação:

- Quer apostar, meu amor? Desafia mesmo minha genética dominante?

Passando os dedos pelos botões iniciais da camisa vagamente entreaberta, mirava o peito desnudo, arranhando as unhas por aquele espaço. Não! Maleando a cabeça bruscamente em negativo. Precisava acordar. Aquilo jamais...

- É mais sensato que faça estes planos com Lily. – Sentando-se, abotoava a própria camisa, apressado.

- Não vá, Severus... – Pediu, ou melhor, implorou. Sem desvencilhar a cintura do amante, agia como uma criança birrenta.

- Tenho compromisso.

- Eu não gosto destes compromissos... – Pausadamente, como continuaria? Observava o braço marcado pela amaldiçoada serpente transparecendo pelo fino tecido da camisa social, mas não conseguia tocar no assunto. Fechando os olhos como se pudesse esquecer, abraçava-o mais forte, atrapalhando as rápidas mãos terminarem de fechar os botões.

Revirando os olhos, Snape agradeceu por ouvir o ranger da porta, indicando a presença do calmo maroto. Este riu, comentando enquanto fingia não perceber as vestes espalhadas pelo cômodo e corpos suados apesar do inverno:

- Divertindo-se...

- Sim. – James o soltou, recostando as costas contra a parte alta do velho estofado. Lançando um feitiço, os óculos vieram para si e um esverdeado lençol decaia ao colo do o amante quase desnudo. – Ninguém nega sexo fácil.

Lupin tentou interpor, todavia Snape fez entender sobre não ser necessário pelo rápido olhar lançado.

James prosseguia falando de modo inacreditável para os ouvidos do licantropo. COMPLETAMENTE INACREDITAVEL.

Solitária realeza. Travessuras marotasOnde histórias criam vida. Descubra agora