Cap. 16

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- O que você estava conversando com a Bellatrix? – Direto, sentava-se na ponta do sofá completamente ocupado pelo concentrado leitor.

Fazia dias que Remus o ignorava sob a desculpa das provas estarem se aproximando. Preferia ficar no quarto e argumentava sobre o terrível calor quando o amigo adentrava suas cobertas durante as noites geladas, principalmente quando estas antecediam as luas cheias.

Os sorrisos nervosos, as frases inconstantes, as expressões instáveis.

Agora mesmo, ele recorria ao silêncio, embora os dedos tremulassem segurando firmemente as bordas do livro. Sirius riu em silêncio. "Ele realmente estava fingindo indiferença diante alguém que o conhecia tão bem? ".

Engatinhando sobre o apreensivo rapaz, arrancou o livro quase repentinamente. Deitando-se sem permissão sobre o amigo, fingiu não escutar os protestos pedindo distância e repetiu a pergunta:

- O que você estava conversando com a Bellatrix?

- Ela me convidou para o baile.

Dissimulando os ciúmes, fitou os dourados olhos furiosos. Estendendo o braço o máximo que podia para alto, esquivava o livro das insistentes tentativas de recuperação. Seriamente, dramatizou:

- A vida deste formidável livro está em perigo, jovem Lupin. – Juntando as sobrancelhas quase numa ameaça, prosseguiu. – Por isto, se deseja conhecer as próximas palavras impressas nestas velhas folhas amarelas, diga-me a sua resposta. – O fino riso descuidado reprimindo a indescritível cólera pela petulância da prima mais velha. - E cuidado com esta resposta, meu caro e estimado amigo.

- Bom... – Um pequeno sorriso em desafio. Erguendo a sobrancelha esquerda, retribuía o olhar na mesma intensidade. – Ela é bonita.

O cenho franzido em indignação. A boca esboçava um perfeito "o" diante as audaciosas palavras. Estava perplexo. Permitindo o livro decair ao solo bruscamente, o arrependido rapaz ainda tentou contra argumentar:

- Padf... – Não conseguiu finalizar, pois as rápidas mãos iniciavam um ataque de cócegas em sua barriga.

- Você desafiou a ira do magnifico senhor do salão comunal. – Sorria igualmente, sem se importar com os socos e empurrões pedindo que parasse. – Agora irá sentir sua terrível fúria!

- Pare, Sirius! – Depois de incontáveis segundos de tortura, ele cessou. Todavia, não se afastou como solicitado. Deitando-se sobre o dorso do amigo, impossibilitava outra fuga como vinha ocorrendo.

Observava as calmas chamas dançando quase apagadas na lareira e, mesmo que Remus se justificasse desta vez sobre calor, cansaço, ou qualquer outra coisa, não se moveria. Sentia saudades daquele cheiro, daquela voz e, definitivamente, não permitiria nenhum familiar lhe tirar aquela pessoa tão importante. Por isto, mais tarde, teria uma séria conversa com a prima.

Hesitante, Remus acariciou os negros cabelos macios. Sentindo a garganta fechar pelo nervosismo, o coração acelerava de forma involuntária. Respirava fundo, buscando manter a calma. Contudo, ultimamente, sentia-se estranho quando na presença daquele amigo. Sentia-se...

- Sirius... Está quente...

- Você está com dois moletons, Moony. Deixe-me utilizar o meu corpo para te aquecer. – Repousando o queixo sobre o peito do licantropo, fitava-lhe os olhos queridos quase cochilando. – O que você respondeu, Re?

- Eu disse que você deveria ir com a pessoa que você gosta.

- Que romântico! – Desdenhou diante o rosto aborrecido, insistindo em empurrá-lo com mais força. Relembrando, os lábios finos sorriam de forma sedutora, provocando-o. – Quando o James convidou a Lily, eu te convidei e você aceitou. Então, isto significa que você gosta de mim?

- Claro que gosto. – Irremissivelmente sem jeito, as bochechas enrubesciam pelo desconcerto. Quase gaguejando, continuou. – Por que eu seria amigo de uma pessoa que não gosto? Então, ela continuou: Quem sabe você não gosta de mim... E... E... E me beijou. – A última parte saiu tão baixa, mesmo assim, Remus logo se arrependeu quando atingido pelos olhos coléricos.

- Foi só um beijo. – Não tinha o direito de se irritar, ainda assim... Rolou um pouco no estreito sofá, compartilhando da vermelha almofada. O interior queimava pela ira, mas o semblante inseguro lhe transmitia uma indescritível tranquilidade. Apertando o nariz, brincou. – Não fique tão impressionado. Também vou lhe beijar se continuar me olhando assim.

- Entendo, Sirius. – Desviando o rosto, parecia em conflito com os próprios pensamentos. – Eu sei que para você é só mais um beijo. Mas... É meio bobo, mas eu queria que meu primeiro beijo fosse especial.

- Foi seu primeiro beijo? – Levantando-se, não conseguia acreditar. Quer dizer, eles já estavam terminando o quinto ano e...

- Sim. E eu nunca imaginei que ele seria roubado por alguém da sonserina.

- Acontece... – Sentando-se, não era isto que gostaria de falar. Levantando-se, saiu. - Eu tenho que falar com o James sobre o treino de amanhã.

- Mas...

- Ele ainda está meio ferrado pelo que ocorreu no escritório do professor naquele dia. – Não conseguia se explicar.

Batendo a porta, nunca havia odiado tanto aquela família. 

Solitária realeza. Travessuras marotasOnde histórias criam vida. Descubra agora