Assim que viram o tumulto e ouviram as queixas dos clientes, os guardas e a administração se apressaram para chegar ao segundo piso e encontraram-no todo destruído. Uma senhora de terninho, pelo respeito e medo dos outros, a gerente, gritou:
— Vocês aí, seus vândalos, vão pagar pelo conserto de tudo!
— Eu assino um cheque — disse Rose, procurando na bolsa o talão e a caneta.
— Ô, garota, fique sabendo que pra arrumar isso daqui vai custar pelo menos uns cem mil pokédólares, fora os clientes que a gente perdeu — disse ela, cuspindo num funcionário, enquanto falava.
— Garota não. Segura minha bolsa, Blaze — disse ela, libertando o pokémon só para executar aquela tarefa. Blaziken, todo dolorido e machucado da batalha, não ficou nada satisfeito com aquilo. — Meu nome é Rose Von Blair. Não tá me reconhecendo não?
— Quem? — disseram todos, menos Hazel.
Ela deu um gritinho bem enjoado e bateu os pés no chão.
— Eu odeio essa região! Só tem caipiras aqui. Escuta, eu sou filha de Fitzgerald Von Blair e campeã da região de Hoenn. Se eu quiser, eu compro esse shopping e mando demitirem todos.
— Me desculpa, me desculpa, senhorita. Nós não sabíamos — disse a gerente, de palmas fechadas e abaixando a cabeça. — Esses imprestáveis não me informaram que a Senhorita Von Blair visitaria nosso humilde estabelecimento.
— Sumam daqui — disse Rose, jogando as mechas loiras para trás.
A velha arrastou os seguranças pelas orelhas e foram-se com o rabo entre as pernas.
Com Milady devidamente tratada, Kalina lavou as mãos com o óleo e lencinhos e foi ver se os pokémon de Rose precisavam de sua ajuda.
— Não, obrigada — disse ela. — Você já tá bom, não tá? — disse, dando um soquinho no braço do blaziken.
O pokémon de fogo assentiu.
— Eu insisto. Foi o meu companheiro de viagem que causou isso e ele parece tão abatido — disse, com um olhar de preocupação.
— Então, é isso — disse Rose para si mesma. — Eu posso ser gentil, se eu quiser.
— Oi?
— Nada, nada não. Pode fazer seu trabalho — concordou ela.
Blaziken sentou-se de pernas cruzadas, a postura ereta e nenhuma dor em sua expressão carrancuda. De longe, assistia a gardevoir. Nunca ganhara dela na vida, mas não a odiava, via-a como uma rival digna, uma oponente honrosa, uma veterana, que um dia superaria.
— Senhorita Rose? — disse Kalina.
— Pode me chamar só de Rose, querida. Aquilo foi só um teatrinho para eles nos deixarem em paz.
— Entendi. Me desculpe por não ter te reconhecido. É que eu não assisto televisão, só leio notícia no jornal de vez em quando.
— Mas o quê? Os jornais daqui não colocaram uma foto minha na primeira capa?
— Não... — Kalina parou de falar por um momento, pois limpava o rosto do blaziken. — Eu queria te perguntar uma coisa sobre o Hazel.
— Não vou compartilhar informações com o inimigo e eu não vou te contar nada que ele já não te contou.
— Tudo bem, só queria saber se vocês já foram companheiros de viagem?
Rose tentou não parecer perturbada.
— Menina... é... como é o seu nome?
— Kalina.
— Kalina, Hazel só pensa em batalhas e naquela gardevoir estúpida dele. Ele não dá a mínima para a sua existência ou para a minha. Afaste-se antes que seja tarde — aconselhou ela.
A curandeira sentiu a dor de Rose e encheu-se de mais perguntas. Mas o que acontecera entre os dois? Quem era o certo daquela história? Por que os humanos tinham de ser tão complicados?
— Tá tudo pronto aí? Vem, Blaze, precisamos pegar um táxi pra Viridian ainda hoje — disse, oferecendo a mão para o pokémon se levantar, mas de tão bom que estava, o pokémon apoiou os braços no chão e ficou de pé com um salto. — Obrigada pelos seus serviços — disse, entregando-lhe algumas notas, que nem parou para contar.
— É sempre um prazer. — E abraçou-a para se despedir. — Se cuida.
Rose gostava de abraços, mas não de sua rival. Na verdade, de mais ninguém a não ser Hazel e sua mãe. Meio sem jeito, deu um tapinha nas costas dela e se soltou.
— Hazel, já parou de chorar? — perguntou ela. O treinador nem olhou para a sua cara. — Fique sabendo que eu vou ganhar todas as insígnias antes de você, vencer a Liga, derrotar a Elite dos Quatro e ser a nova campeã dessa região também. A gente se vê em Indigo Plateau. Isso se conseguir passar do primeiro ginásio.
Riu e foi-se, olhando para trás umas duas ou três vezes, a fim de verificar se Hazel tinha prestado atenção nela e a encarava com raiva. Para a sua decepção, não. Ele não devia nem saber que ela ainda estava lá.
___
Dormiram no melhor hotel da cidade, tudo para o conforto da querida amiga, que nem estava mais ferida. No dia seguinte, a expedição silenciosa comeu o dejejum, croissants, frutas e café, e finalmente começaram suas jornadas pela Rota 1.
Hazel andava de cabeça baixa. Kalina não sabia que ele era tão mal perdedor assim.
— Não sei porque vocês insistem nesse negócio de batalha, mas eu tenho certeza que um dia vai conseguir ganhar dela — consolou ela. — Vamos, ânimo.
— Eu vou limpar essa rota de pokémon selvagens e derrotar cada treinador que eu encontrar pela frente — declarou Hazel. — Soldado! — O squirtle fez saudação militar. — Milady! — A gardevoir fechou os olhos e concordou com a cabeça.
— Não foi isso o que eu quis dizer!
CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO...
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Pokémon Hazel I: O Charizard Sem Asas
ФанфикEssa é a história de Hazel, um treinador, que acredita que "um pokémon é como um companheiro, um amigo", em suas próprias palavras, por isso, ele se recusa a capturar pokémons contra a vontade deles. Hazel, junto de sua amiga Milady, uma gardevoir...