Episódio 10 - A Fúria de Milady

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Levitando com o poder psíquico de Milady, Kalina colhia as oran berries de uma árvore bem lá no alto.

— Estranho — disse ela, sentindo falta dos caterpies, metapods e butterfrees. — Pode me descer agora, Milady.

A gardevoir fez como o mandado. Kalina guardou as berries na mochila e sorriu para a pokémon.

— Quer dar os braços? Hazel faz isso com você direto, não é?

Milady virou a cara. "Você não é ele". Petilil, ciumenta, pulou nos braços de Kalina.

— Awwn, Lil — disse ela, esfregando na pokémon. — Para de ser tão fofa assim.

Milady e Kalina deram-se bem. A curandeira sabia pouco de vestidos, joias e outras coisas que a pokémon gostava, mas ela era daquele tipo de pessoa que sabe sempre o que falar e se dá bem com todo mundo.

— A presilha do seu cabelo é linda, Milady! — elogiou ela. — Você tem muito bom gosto.

A pokémon agradeceu abaixando-se, num meio floreio.

De repente, um estrondo, uma explosão típica do choque de dois ataques pokémon. Vários pokémon corriam para o sul, para onde o acampamento estava.

Milady não quis saber de mais nada, avançou na mesma direção, destruindo todos os obstáculos ao caminho. Hazel! O amigo não saía de sua mente. Seria capaz de criar um buraco negro e acabar com o planeta inteiro por ele.

Quando chegou, a cena partiu-lhe o coração e encheu os olhos de lágrimas, de fúria e tristeza. Hazel jazia estirado ao chão, com Soldado a segurar-lhe a mão, não sabendo se ia buscar ajuda ou se ficava para protegê-lo. Ela jogou o pokémon de canto com a força mental e caiu sobre o querido amigo. O peito dele subia e descia e ela gritou de desespero. Onde estava aquela curandeira inútil?! Numa confusão de lágrimas e soluços, Hazel tentou falar:

— Mi... E-eu...

Milady deitou sobre ele, como para calá-lo, abraçou-o e chorou, chorou e chorou. Kalina veio o mais rápido que pôde e examinou-o, procurando a ferida ou feridas, enquanto Petilil arrastava sua pesada bolsa.

Soldado, sempre de cabeça baixa diante da veterana, pediu desculpas, grudando a testa no chão. O cristal no peito de Milady brilhou e ela jogou uma esfera de energia no colega. O wartortle encolheu-se na casca e protegeu-se no último segundo. Aproveitando-se da nuvem de poeira, Milady aproximou-se, não possuía nenhum tipo de ataque físico, mas queria bater nele de qualquer jeito, aquele pokémon fraco que não era capaz de proteger o treinador. Evocou o poder da lua mais uma vez e socou-o bem no meio da carapaça, atingindo ela mesma no processo.

Ele estava fora de combate. Milady olhou-o com desprezo mais uma vez. Deveria ter quebrado aquele casco e jogado-o num rio ou num buraco bem fundo.

— Milady — murmurou Hazel. — Mi... Milady, isso é jeito de tratar o novato? — Fechou os olhos com força, quando sentiu o remédio tocar o local das ferroadas.

— Não se mexe — disse Kalina. — Tá vendo? Essa é a dor que os pokémon sentem.

— Não foi culpa dele. Foi só minha. Vem aqui — disse, oferecendo a mão para que ela segurasse.

Assim a gardevoir o fez, beijando-lhe a mão, como Hazel fazia, quando queria se desculpar.

— Que bom que você está bem... — A mesma mão tocou-lhe a cabeça, deslisou pelo rosto e caiu no chão.

Mais lágrimas.

Milady fulminou com o olhar a curandeira.

— Eu tô dando o meu máximo — disse ela, amassando uma berry. Era tão amedrontador a expressão da pokémon, que ela temeu pela vida por um instante. — Ele vai ficar bem, prometo pra você.

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De baixo de chuva e sol, Milady ficou ao lado de Hazel, segurando sua mão. Não comeu, o pouco que dormiu, foi abraçada a ele e não falou com ninguém.

Soldado ficara muito arrependido, ele achava que era mesmo o culpado. Porém, não ficou se lamentando, sabia que Hazel diria para continuar se levantando, não importa quantas vezes a vida o derrube. Fez um compromisso consigo mesmo: treinaria sem descanso até o amigo acordar e, um dia, mostraria para aquela gardevoir metida que não era um fraco.

— Que idiota... — disse Kalina para um Hazel desacordado.

Ela lavou as mãos com um pouco de álcool, uma das únicas coisas em seu material que não era natural, encheu uma bacia com água, pegou panos limpos e bandagens novas.

— Com licença, Milady.

Se Kalina não estivesse tratando de Hazel, a gardevoir explodiria a mente dela sem pensar duas vezes, assim como faria com Soldado na primeira oportunidade que tivesse.

A curandeira trabalhou, como se cuidasse do pokémon mais delicado. O processo consistia em limpar o local da ferida para não infeccionar, aplicar o unguento e fazer um novo curativo. Contra os venenos não havia muito o que fazer, no caso dos humanos, nem as propriedades da pecha berry funcionariam. O jeito era esperar que o corpo combatesse o agente por si só.

— Pronto.

Milady voltou para o seu lugar.

— Come alguma coisa, Milady — disse, oferecendo um saco prateado de ração. — Hazel não ia querer que ficasse assim sem comer, sem se lavar, chorando o dia inteiro e se culpando.

A gardevoir não aceitou.

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Três dias se passaram. Soldado treinava como louco, parando só para comer e dormir por umas horinhas. Kalina era constantemente ameaçada de morte pelos olhares de Milady por ter errado na previsão de recuperação de Hazel.

— Bebe um pouco de chá pelo menos — disse Kalina.

Petilil, que tinha um pouco de medo de Milady, assim como uma certa admiração, fez carinho na barra da saia dela.

Mesmo naquela situação, a gardevoir não perdera seu glamour, pegou a caneca, endireitou mais ainda a coluna, fechou os olhos e deu um golinho. Ouviu um risinho.

— Eu adoro te ver bebendo chá — disse Hazel.

Como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse morrendo de felicidade, Milady devolveu a xícara para Kalina. Essa olhava confusa para eles.

— Milady...

E a gardevoir jogou-se nele de braços abertos, esfregando-se nele, ao mesmo tempo que tentava puni-lo com tapas por ter sido tão inconsequente. Foi uma confusão de ódio e amor, punição e preocupação. Ambos derramaram lágrimas, como jatos d'água de um pokémon.

— Você tá cuidando bem do Soldado? — perguntou Hazel.

Ela suspirou de desprezo, se não fosse uma dama, seria capaz de cuspir ao ouvir o nome daquele pokémon.

— Fui eu que mandei ele atacar os pokémon, Milady. — Passou a mão pelos cabelos verdes-água da amiga.

Estavam tão alegres, tão confortáveis, apesar de estarem deitados num fino saco de dormir e debaixo de uma tenda pequena demais, tão juntinhos, que não quiseram dizer mais nada. Queriam apenas curtir aquele momento. O silêncio trouxe o sono e Milady adormeceu sobre o peito de Hazel. Impedido de se mover, ele ficou a admirá-la por uns instantes e dormiu logo em seguida.  

CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO... 

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Desculpa o atraso e a qualidade, gente. Dia cheio hoje. Como sempre, críticas, comentários, sugestões e xingamentos são muito bem-vindos! Tenham um ótima dia <3

Pokémon Hazel I: O Charizard Sem AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora