Episódio 16 - Clefairy, a Ladra

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Dessa vez, na rota 3, Hazel pegou mais leve com os pokémon selvagens. Ainda sentia muito dor, embora não admitisse. Todavia, não teve a mesma piedade com os treinadores. Eles vinham com seus rattatas, spearows, weedles, caterpies e cleffas e Hazel apenas com seu wartortle. Alguns mencionaram uma certa garota vestida de rosa da cabeça aos pés, que passara por ali e acabara com eles num piscar de olhos e esnobou as recompensas pela vitória. Milady participou de apenas uma ou duas batalhas, pois estava cansada das noites em claro.

Antes de entrarem na caverna, num lugar um pouco menos ingrime, de gramado meio amarelado e seco, daquele que cresce próximo das encostas das montanhas, decidiram parar para descansar.

— Vamos para o Centro Pokémon — disse Hazel. — É pertinho.

— Deve estar cheio dos treinadores que você derrotou nessas suas rinhas de pokémon — disse Kalina.

— Verdade — concordou. Uma pessoa incomodando-o era melhor que muitas. — Soldado, você foi demais hoje. Falta quanto será para você evoluir?

Soldado sonhou com o dia em que se tornaria grande e forte como o Blastoise de Rose.

— Os pokémon evoluem ao seu ritmo. Não precisa ficar forçando eles — disse Kalina. — Não é, Petilil? — disse, esfregando o nariz no rosto dela.

— Você sabe que petilils só evoluem com pedras do sol, né? — disse ele. — Tipo as clefairies do Mt. Moon.

— Sei sim, quando ela estiver preparada, se um dia estiver, eu vou conseguir uma.

Milady aproveitou para tirar um cochilo. Hazel quis que ela usasse o saco de dormir, mas estava tão cansada, que acabou dormindo no colo dele mesmo. Ele a olhou com carinho, sorriu e passou as mãos pelos cabelos, calmos como a água de uma lagoa.

Kalina colocou o bule no fogo, preparou o chá e serviu-o em copos de barro.

— Aqui — disse ela.

Estava tão em paz, que Hazel aceitou.

— Vamos acampar por aqui — sussurrou ela.

A curandeira acabou sentando-se ao lado dele, tentou arrancar alguma informação dele, mas não obteve sucesso. Dormiu por lá mesmo, encostado em seu ombro. Hazel odiava aquilo. Um tempo depois, Soldado cansou-se de treinar e usou as pernas esticadas do amigo como travesseiro, como fez Petilil com Kalina. Como um bando de filhotes recém-nascidos dormiram juntinhos debaixo da mãe.

Hazel teve aqueles sustos de quando precisamos ficar acordados, mas acabamos sucumbindo às areias de Morfeu. A amiga trocou de posição, mas, para o seu alívio, não acordou. Já Kalina despertou, a diferença era que ele não dava a mínima para ela...

— Ouviu isso? — perguntou ele.

Era noite, o calor dos corpos um dos outros protegia-os do frio, a luz da lua cheia cobria o chão com seu brilho pálido.

— Kalina, acorda! — Ela deu um salto. — Acorda logo, eu não posso levantar. Vou acordar eles.

— Hm? O que foi, Hazel? — disse, aconchegando-se ainda mais e respirando fundo.

— Tem algo ali. Olha!

A algum custo, Kalina levantou-se, tomando muito cuidado para não fazer movimentos bruscos e despertar os pokémon. Sonolenta, não havia percebido de imediato que suas bagagens haviam desaparecido.

— Fomos roubados — declarou ela, numa calma de dar raiva. — Ah, vai ser difícil conseguir todos aqueles medicamentos e equipamentos de novo, mas tudo bem.

— Vai atrás do ladrão, sua inútil! — protestou Hazel.

— Quem roubou nossas coisas, precisa mais delas do que a gente.

Atrás deles, um barulho. Algo ou alguém sendo arrastado, patinhas velozes pisoteando a grama. Kalina foi investigar.

— Vai mais rápido — disse Hazel.

Quando chegou perto, ela viu suas coisas serem carregadas por uma clefairy, de um tom rosa-bebê sob o luar. Em seu pescoço, brilhava o que ela julgou ser uma megastone, todavia, olhando com mais atenção era uma eviolite. A pokémon desistiu da mala pesada e decidiu vasculhá-la, procurava por algo...

— Clefairy, está perdida? — perguntou a moça, mostrando as mãos desarmadas de pokébolas.

A clefairy protegeu o rosto, como se estivesse prestes a levar uma surra.

— Eu não vou te machucar, amiguinha. Quer comida? Tem um monte aí, pode ficar à vontade.

A pokémon nem ouviu, largou tudo e depositou todas as esperanças num metronome. Levantou os dedinhos e levou-os de um lado para o outro. Para o azar de Kalina e os outros, o ataque selecionado foi um Draco Meteor.

Rochas envoltas por um fogo arroxeado caíram do céu como meteoritos. Não sobrou um dormindo, o chão tremeu, o gramado pegou fogo, crateras se abriram, tudo, destruído.

— Droga! — gritou Hazel, agarrando a petilil e usando o corpo para proteger ela e sua amiga querida. Faria o mesmo por Soldado, é claro, mas ele tinha o seu casco para se abrigar. — Desculpa por ter te acordado, Milady.

Os rostos quase se encostavam, assustada, envergonhada, a gardevoir afastou a todos com uma explosão psíquica.

Os pokémon atingidos levaram as mãos à cabeça, na verdade, só Soldado, Petilil não tinha mãos. O treinador pareceu não se importar.

— Estão todos bem? — perguntou ele.

— Sim, estou — disse Kalina, esfregando um arranhão no braço.

— Você não. O que diabos aconteceu lá atrás?

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Após a confusão, Kalina reacendeu uma fogueira — sim, ela tinha um pouco de lenha com ela — e contou o relato ao treinador.

— Talvez ela tenha voltado para o Mt. Moon — disse ela. — O que foi?

Hazel tinha os braços cruzados e as bochechas cheias de ar.

— Eu não deveria ter caído no sono, nem deveria ter te mandado. Algo pior poderia ter acontecido.

— Relaxa um pouco, Hazel. Isso é típico de treinadores, acham que tudo tem que estar sobre o controle deles e que todos deveriam obedecê-los. — Diria que aquilo era típico daquele treinador, mas achou que soaria rude demais.

— Deixa isso pra lá. — A gardevoir desfez os braços cruzados para que pudessem dar as mãos. Milady estava radiante aquela noite, apesar do despertar abrupto. Metade pokémon fada, sua pele brilhava sob o luar e a máscara de sono ainda cobria-lhe o rosto, eliminando a curvatura das sobrancelhas, que dava-lhe um ar de arrogância. — Você está linda, Milady, como sempre. — Engoliu uns comprimidos receitados pela Doutora Joy e espreguiçou-se. — Vamos andando, então?

— Para onde?

— Para a caverna, ué. Vamos ver o que aquela clefairy ladra queria com a gente.

CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO... 

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Pokémon Hazel I: O Charizard Sem AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora