09 de maio de 2016 - Beard

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(Rachel)

Os poetas adoram a primavera. Eu não.

Pelo menos esta primavera não estava trazendo flor alguma na minha vida. Quinn surtou por causa do roteiro da nova temporada de "Slings And Arrows". Não foi bonito quando disse a ela que teria de gravar uma cena de sexo com nudez com Rom Tyler. Estávamos nos falando por Skype e eu soltei a bomba. A conversa só durou mais três minutos depois da notícia. Quinn tinha dificuldades em separar o lado profissional do pessoal quando se tratava de certas pessoas. Aconteceu com Sarah Kleist quando contracenamos na peça Across The Universe, acontecia com Rom Tyler. Fato: eu era amiga e colega de elenco de Rom Tyler. Fato: ele me beijou uma vez e isso foi parar nos sites de fofoca. Fato: eu o perdoei e nós nos entendemos. Fato: as fofocas sobre nós me beneficiaram em esconder minha sexualidade da mídia. Mentira: eu me sentia atraída por ele. Mas foi o que Quinn me acusou.

A boa coisa de passar a semana em Nova York para gravar pequenas cenas de diversos episódios é de ter a chance de colocar algumas coisas em perspectiva, cara a cara, com a minha namorada. Em primeiro lugar, é provável que ela não saiba ou tenha se esquecido da série que participo e do canal que ela é transmitida. Kath, a minha personagem, é uma jovem atriz politizada e determinada a se tornar umas das excelentes do teatro. Ela entra na companhia de teatro quase falida de Marshall Stain e é escalada para viver Ofélia. O par romântico dela é Jack, que é um ator que veio da televisão e tem que provar que também é muito bom nos palcos. E ele consegue. No final da primeira temporada, Kath sofre um acidente no palco e precisa ser afastada da peça logo na segunda noite após a estréia. A temporada termina com a relação de Kath e Jack abalada por causa do sucesso dele, enquanto ela mostra o lado invejoso e se recente com o namorado.

A segunda temporada começa seis meses depois. A companhia de teatro conseguiu sair do fundo do poço, mas ainda há muitas dívidas a sanar. Minha personagem volta a atuar, mas ela está diferente. Ela rompeu o namoro com Jack e se afundou na proposta de se fazer discurso político dentro do teatro. Começa a história como amante do novo assessor da companhia, interpretado por Dorian Perry. O ator é um franco-inglês desconhecido do público americano, mas é um profissional de 32 anos em ascensão na Europa que vai fazer televisão pela primeira vez na carreira. Conversamos por telefone uma única vez antes de entrar em estúdio. A impressão que tive é que ele era uma pessoa séria. O contato pessoal mostrou que ele era sério sim, um ator centrado, mas extremamente agradável em convívio. Dorian é casado com uma diretora teatral e tem um filho de sete anos com outra mulher, uma namorada da faculdade.

Lógico que procurei saber se ele era do tipo que se envolvia com as atrizes com quem contracenava, especialmente por causa da cena de sexo anal que estava programado para o segundo episódio. Eu não quis comentar nada com Quinn porque conhecia minha namorada bem o suficiente para saber que ela tinha ciúmes desse aspecto do meu trabalho. No caso com Dorian, foi uma cena grosseira para sugerir certa degradação e confusão de Kath. Ela e o novo assessor descem até ao porão do teatro depois de um ensaio, ele levanta a saia, abre o zíper e o sexo é insinuado. Não vou dizer que foi agradável ter o meu traseiro pressionado contra a pélvis de Dorian durante os sete takes pedidos para a cena, mas fomos todos profissionais.

No terceiro episódio, a minha personagem se aproxima de Simon, o personagem ultra-romântico de Rom. Essa aproximação a faz terminar tudo com Dorian ainda no terceiro episódio e, no sétimo, eu faço a minha segunda cena de sexo da temporada com o meu intrépido colega. Essa é descrita como romântica, mas com nudez total dos dois atores. Em resumo, Rom vai ficar sobre mim em toda a glória.

Ele conversou comigo no set. Estava preocupado por causa da crise que ele ajudou a causar no meu relacionamento com Quinn. Achei decente da parte dele. Respondi que éramos profissionais e contanto que ele mantivesse o pênis dele fora da minha vagina, estaríamos bem. Não era mito de que alguns atores e atrizes de fato praticavam o coito ou a penetração de alguma espécie em cena, ou cenas de sexo oral verdadeiras, e não me refiro aos artistas que fazem parte da indústria pornô. Falo de gente consagrada e lembrada em prêmios importantes como Oscar, Tony, SAG e Globo de Ouro. Há uma lista significativa de cenas de sexo explícito em filmes não-pornográficos produzidos mundo afora. Lars Von Trier que o diga!

Saga Casamento (história 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora