10 de agosto de 2016 - Santana e Johnny e...

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(Santana)

Abri os olhos com o movimento na minha cama. Johnny estava se levantando e ele nunca era sutil. A impressão que tinha é que ele saltitava para sair do colchão. Meu namorado era um estabanado para muitas coisas. Era inacreditável como ele tinha sensibilidade para fazer as tatuagens mais perfeitas na pele de alguém, uma arte em que ele não poderia errar de forma alguma. Segurava o lápis com uma delicadeza incrível, dedilhava o violão com suavidade, e passava uma roupa como ninguém. Johnny tinha um paladar incrível para degustar bebidas e comidinhas a ponto de discutir com o chefe de cozinha sobre o tempero usado. Não que ele tenha feito isso alguma vez, mas em hipótese, sim, era cabível. Ele tinha um olho incrível para detalhes.

Era um leitor tão ávido quanto Quinn Fabray. Mas diferente daquela metida, Johnny não era de discutir sobre livros, ou falar de autores, a não ser que o assunto venha à tona. E quando falava, era sempre comentários simples. Uma ou outra observação entusiasmada. Nada mais. Johnny Boy um sujeito inteligente, mas gostava de ficar na dele, o que me agradava imensamente. Como são chatas as pessoas que tem muito conhecimento numa determinada área e adoram arrotar isso para os outros. Não é porque eu tinha facilidade para matemática e lidava com empresas que vou jogar isso na cara de alguém como uma vantagem. Até porque não é. Johnny tinha muito disso dentro dele também.

Talvez por ser um escritor, ele fosse um moderado na hora de criticar outras obras. Por outro lado, era um apaixonado quando falávamos de música. Ele é da teoria de que nada de bom é produzido nos dias de hoje. E até as boas produções vem dos artistas com 20, 30 anos de carreira. De certa forma, até que concordava porque não gostava muito das coisas atuais mesmo. Johnny era capaz de ficar emburrado com certos posicionamentos de outras pessoas, mas não reclamava se, numa festa, só tocassem músicas de pista atuais, embora ele afirmasse depois que seria um DJ melhor.

Diferente de mim, Rachel e Mike, que éramos democratas ferrenhos, e de Quinn, que era republicana, Johnny não tinha partido político declarado. Ele tinha uma visão quase empresarial da política: analisava as propostas e fazia uma reflexão do que achava que seria bom para o país naquele instante. Então votava sem fazer estardalhaços, sem pintar a cara e sem usar camisas das cores dos partidos. Na minha preparação para assumir uma grande empresa, minha postura deveria ser quase a mesma, com a diferença que eu deveria olhar para quem beneficiaria melhor os negócios. Mas eu ainda não tinha essa frieza de pensamento.

Johnny não tinha problemas com cor, posição social e credo de ninguém. Também não tinha problemas com a orientação sexual das pessoas. Homem perfeito, certo? Longe disso. O mesmo Johnny coordenado para desenhar, era uma droga com os pés. Vivia tropeçando em alguma coisa, não era bom nos esportes com bola, tinha medo de dirigir e ele não sabia dançar direito, embora nunca me fizesse passar vergonha. Meu namorado teve uma série de problemas familiares e emocionais sérios e às vezes penso que Johnny é do tipo que pode sofrer de depressão de não se cuidar.

Como escritor é razoável. Não faz frente a Michael Chabon, Chistopher Moore ou David Nicholls. Não tem a imaginação de uma Suzanne Collins ou de uma J. K. Rowllings. Talvez jamais será um cara tão bom quanto um John Updike, Nick Hornby, ou George R. R. Martin. Mas é melhor do que a Stephenie Meyer. Como um administrador da própria vida, é um enrolado. Paga o aluguel em dia, mas atrasa a conta do cartão de crédito. Paga a mensalidade da moto de segunda mão que comprou recentemente, mas atrasa o plano de saúde. Lava as roupas, corta e limpa as unhas, mas tem preguiça de pentear o cabelo e de fazer a barba.

Ele tinha alguns hábitos que às vezes entrevam em conflito com alguns dos meus. Às vezes isso me irritava e tinha vontade de chutá-lo. Por outro lado, amava quando ele simplesmente me fazia companhia e esses momentos estavam longe de serem raros, para a minha alegria. Johnny era um cara de poucas ambições e eu me preparava para lidar com faturas e problemas reais com mais de sete dígitos. Ele tinha pensamento socialista e eu era uma capitalista. Ele era Beatles, eu era Rolling Stones. Ele era cinema europeu, eu gostava de blockbusters. Ele era da turma do whisky, e eu era da turma da cerveja. Eu gostava de comer amendoim, ele gostava de semente de abóbora. Ele ficava entediado assistindo Discovery e reclamava das cenas dos seriados sci-fi. Eu odiava assistir a shows de música na TV ou na internet. Eu lia a editoria de economia, ele lia a editoria de artes. Ele amava as comédias, eu gostava de aventuras.

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