02 de junho de 2016 - A Dita Cena

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(Quinn)

Rachel não disse n ada, mas de acordo com calendário de gravações de Slings and Arrows que eu vi na tela do computador dela, a tal cena seria produzida no decorrer da semana. Ou hoje. A produção da série era uma das mais organizadas nesse sentido. Só não conseguiam gravar por motivo de doença de algum ator, ou por algum problema climático em caso de uma tomada externa, ou por um atraso extraordinário. Não é que o calendário deles tivesse precisão britânica, mas sim, eles eram eficientes.

Não é que espionasse as coisas da minha namorada. Quando Rachel fez a visita surpresa a Nova York com Mike a tiracolo, eu tive a oportunidade de dar uma espiada no arquivo que ela deixou aberto. Mas não antes de levar um esporro de proporções homéricas porque ela se sentiu ofendida por eu ter a ajudado com um problema dando uma solução simples. Eu segui uma linha de raciocínio que considero coerente. Mesmo odiando a idéia do beard, ela, Santana, deus e o mundo já diziam o que deveria ser feito para a carreira. Estava conformada com a idéia de que para Rachel ser bem-sucedida, eu teria de permanecer nas sombras.

Então veio o dia da tal nota com a foto publicada em alguns sites tirada numa saída do restaurante de comida japonesa junto a Rom e a namorada, comigo saindo abraçada a minha namorada. Ninguém disse que Rachel era lésbica por causa disso, mas sim, colocaram alguma malícia. De fato, nossa postura gritava: casal. Rachel surtou, Josh Ripley surtou, Nina surtou, a equipe inteira surtou. Sinceramente? Eu quase me permiti ficar no canto escuro da sala como uma vilã pastiche rindo escandalosamente da desgraça dos mocinhos. Seria uma observação interessante se a mulher que eu amo não estivesse tão angustiada. Tudo que pude fazer foi o de sempre: tentar dar o suporte que podia, uma vez que não tinha capacidade de resolver a situação. Ainda coloquei nas redes sociais mensagens como "maravilhoso encontro com minha melhor amiga e amigos", a pedido de Nina, mas a verdade é que não havia muito que consertar.

De acordo com o plano estratégico de comunicação e imagem de Rachel, era seguro que eu fosse estabelecida e reconhecida publicamente como a amiga. Algo que já acontecia, tal como Santana era reconhecida como a irmã pelos fãs mais fervorosos. Mas faltava uma presença masculina amorosa real. O tal beard. Se isso era mesmo essencial, se Rachel não tinha coragem de procurar por um e se a equipe dela estava disposta a colocá-la sob um contrato, então pensei em agir. Arrumei um beard que fosse um dos nossos melhores amigos (o meu melhor amigo), que eu sabia que não se aproveitaria dela, que estivesse por perto, e que faria esse favor sem necessidades de contratos: Mike.

Eu contaria para Rachel sobre a minha solução caso ela evitasse discutir o assunto comigo nas vezes em que a gente se falava por telefone ou via computador. Se ela ficou com raiva por ter sido pega de surpresa, a culpa é toda dela.

Mas não é o que ela fez parecer. Por uma distorção dos fatos, Rachel se vitimizou, brigou comigo e me fez jurar nunca mais me meter em nenhum assunto dela. Isso é algo que me confunde porque o nosso relacionamento é assunto dela, correto? Então eu não tenho direito de opinar ou de decisão mesmo sendo a outra parte interessada? Era algo que eu não poderia atender. Não dessa forma, não quando os meus interesses estavam em jogo. No caso, o meu relacionamento, o meu orgulho. Já não é fácil ver quem você ama grudado em alguém profissionalmente na frente das câmeras ou num palco. Pior ainda é ter isso estendido numa parte da vida que deveria ser privada.

Tive minhas razões e elas são fortes. Apesar de Rachel ter ficado ofendida, faria de novo. Com Mike eu lidaria depois. Duro seria sofrer a distância por causa de Rom. Em algum momento desta semana, provavelmente hoje, o idiota do Rom iria esfregar aquele pinto nojento dele na minha namorada. E eu aqui em Nova York.

Rachel não teria mais a janela da semana passada até o final de junho (e eu sinceramente não sabia como ela ia fazer para ir à minha colação de grau). Estaria ocupadíssima com a produção de um episódio mezzo-musical-alternativo, descrição da minha própria namorada, centrado na relação do personagem dela de Rom e de Luiz. Acho que o alternativo era bondade de Rachel, porque "Slings And Arrows" tinha uma narrativa diferente. Por isso que toda a temporada era escrita antes do começo das filmagens, porque o trabalho de pré-produção dela era grande. Era a mesma razão dos atores receberem os seis primeiros episódios um mês antes das gravações. Rachel soube na primeira semana como a temporada terminaria. Ela gostava disso porque podia trabalhar no tom certo da personagem. Os outros atores do elenco também elogiavam a postura da equipe de produção.

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