24 de maio de 2016 - Escolha ingrata

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(Rachel)

David Garson era um jovem ator com a minha idade que estava numa crescente na carreira cinematográfica. Ele tinha feito o papel do herói romântico do último filme para adolescentes de sucesso e estava vivenciando uma fase de alta em Hollywood. Por onde passava, tinha garotas gritando o nome dele, havia sites na internet, perfis, um milhão de seguidores em redes sociais e todas essas coisas. Como se não bastasse, ele ainda entrou numa lista de atores com maior custo-benefício de Hollywood. Em resumo, era um sujeito da lista A que vivenciava o auge da popularidade que poderia ter todas as meninas e mulheres que quisesse. Qual era o porém? Ele era gay. Obviamente ninguém poderia saber.

Os empresários dele estavam à procura de uma garota que pudesse viver um suposto namoro com ele. Alguém que topasse construir uma história para a mídia que pudesse ter todos os ingredientes de interesse. Eu precisava de um beard, fato. E como não tive a competência de arrumar um para mim, até porque não tive a coragem de propor isso para os meus amigos, Josh mexeu alguns pauzinhos e encontrou essa oportunidade. Ele viajou para L.A aproveitando para fechar alguns negócios e me convenceu a ir ao encontro com David no apartamento do empresário dele.

Depois das gravações do dia, me arrumei e peguei o carro emprestado de Mike, acionei o GPS (porque ainda não conseguia me locomover pela cidade sem um) e dirigi até o tal apartamento. Josh me esperava em baixo do prédio e parecia ansioso. Não era o único.

"Pronta?" Ele pegou na minha mão quando nos dirigimos ao porteiro para nos identificarmos.

"Mais ou menos."

"Sei que essa não é a situação ideal, Rach..."

"Tem razão." Disse mantendo o tom da minha voz. "Você é um sujeito divorciado que paga pensão a duas mulheres e vê os filhos quinzenalmente. Em outras palavras, nada mais aceitável para a sociedade. Eu? Sou uma atriz que não pode revelar ao mundo que tem uma namorada, por mais sério e correto que seja o nosso relacionamento porque isso simplesmente não é aceitável no meio público."

"Infelizmente não vivemos numa utopia, Rachel. Sei que você me acha um cretino eficiente no que faço, mas eu gosto de você e me considero um amigo. Saiba que não gosto dessa situação e acho que esse tal David Garson é uma diva, assim como o pessoal dele. Mas se conseguirmos fechar com eles, sua carreira vai dar um salto. Pense nisso também."

Não vou dizer que fui ingênua em não considerar os efeitos que poderia ter sob minha carreira se me vissem em companhia desse rapaz, como a namorada dele. Por outro lado, será que esse inferno valeria à pena? Fomos recepcionados pelo empresário do rapaz no apartamento. Era um lugar luxuoso, grande. Havia uma equipe por lá, menos David Garson.

"Boa noite senhor Riley e senhorita Berry." Ele nos convidou a sentar à mesa. "Gostariam de beber alguma coisa?" Josh aceitou um whisky mas eu preferi apenas água. Enquanto isso, um outro homem nos colocou em nossa frente um papel.

"Não se assustem." Ele parecia uma cobra. "Isso é só um termo de compromisso padrão para que essa conversa permaneça confidencial."

Josh, que era advogado de formação, leu atentamente ao termo e só depois que ele concordou em assinar é que eu coloquei a minha assinatura no papel também. Acredito que a equipe só estava sendo cuidadosa com o cliente.

"Como vocês sabem..." O empresário começou. "Garson é o garoto de ouro de Hollywood. Há muito trabalho e tempo sendo investido nele porque há um consenso de que com as escolhas corretas, esse menino tem tudo para ser o próximo Tom Cruise, ou o próximo Brad Pitt, como queiram. Ele odeia comparações, mas é essa grandiosidade que se espera alcançar." Deu uma pausa dessas estratégicas e tomou um gole do copo de água. "Acontece que as preferências do meu cliente não são vistas com bons olhos pela sociedade e acho que a senhorita Berry também está ciente do que falo. Garson é uma pessoa naturalmente reservada, um garoto brilhante e sensível. Mas ele resiste a idéia de estabelecer contratos pagos a não ser em último caso. Prefere interagir com alguém que saiba exatamente o que ele passa e foi uma felicidade quando o senhor Ripley nos informou que uma cliente dele poderia precisar de ajuda nesse sentido."

Saga Casamento (história 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora