03 de novembro de 2016 - Socorro

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(Santana)

"Então senhorita Tomiko, conte um pouco da sua experiência?" Aquela era a quinta candidata que eu entrevistava na semana usando a minha hora de almoço em Columbia. Estava ficando cansada disso.

Eu usava o escritório do professor Harris, até porque na condição de meu mentor e orientador, ele quebrava alguns galhos para mim. Não agüentava mais. Era inacreditável no quanto havia diferenças significativas naquilo que você imagina quando lê um currículo e com uma pessoa se apresenta. Estava pouco ligando para a aparência da pessoa, embora isso causasse boa impressão ou não. Fato. Mas o trabalho que queria que o candidato desempenhasse podia ser basicamente feito em casa com um computador e um celular. E um encontro obrigatório comigo uma vez por semana para relatórios. Por hora, eles aconteceriam na Columbia, mas em breve eles passariam a ser na saletinha comercial que estava para alugar. Eu pagaria todas as contas referentes as despesas da Rock'n'Pano e oferecia um salário mínimo. Lógico que uma pessoa qualificada dispensaria a oferta de trabalho. Mas as coisas também não estavam tão fáceis e os bons empregos ainda eram ralos numa era de pós-crise econômica. Poucos eram quem conseguiam fazer mais de dez mil por mês em Nova York. A Rock'n'Pano me rendia mais que isso por mês. Mas eu tinha de pagar impostos, contas, a porcentagem dos artistas, a empresa que terceirizava as vendas on-line, taxas de correio, embalagens. Isso porque o investimento da matéria prima – o tecido –, vinham de zaide, que era meu sócio. Ele arcava com os custos de produção. No final, sobrava algo em torno de sete a oito mil dólares, que passariam a ser ainda mais abstraídos com a manter um funcionário e um aluguel porque tornou-se necessário um lugar físico da Rock'n'Pano para receber meus clientes maiores. Não podia mais fechar negócios em restaurantes e sorrir amarelo ao dizer que não havia realmente um endereço comercial em Nova York. A verdade é que chegou a um ponto em que ou eu realmente tocava as coisas como tinham de ser ou eu vendia a Rock'n'Pano. Ou fechava a empresa, mas essa possibilidade corroia o meu estômago.

Ao menos era organizada suficiente para dividir minhas finanças. O meu salário da Weiz, por exemplo, era totalmente aplicado dentro de casa. O dinheiro que lucrava com a minha pequena empresa era usado em mim, basicamente. O meu salário na Weiz era seguro. O dinheiro que ganhava na Rock'n'Pano variava, embora eu tivesse uma projeção cuidadosa dele.

"... e eu também tive experiência de dois anos em tarefas administrativas de uma unidade da Forr." Tomiko terminou o relato.

Olhei para a garota. Como o nome sugeria, ela era descendente de japoneses, mas nascida nos Estados Unidos. Uma filha de imigrantes assim como eu. Tinha 26 anos, formada em uma Community College do Brooklin, o que era legal, de certa forma, porque não tinha consigo os vislumbres colossais de um aluno da NYU ou de Columbia, com eu. Fez um curso de especialização em gerenciamento. Passou por alguns empregos, permanecendo tempos razoáveis em cada um deles, e garantiu que depois que se graduou sempre se manteve na área administrativa. A qualificação dela era nenhuma maravilha, mas ela tinha toda capacidade para fazer e pela experiência bem que merecia mais que um salário mínimo. Porém, o serviço da Rock'n'Pano permitia acumular outro emprego, e essa era a vantagem que poderia oferecer.

"Por que saiu da Forr?"

"Houve um passaralho." Era uma gíria para demissão em massa que era comum em empresas de jornalismo que estavam com a folha no amarelo ou vermelho e precisavam cortar gastos. Às vezes acontecia passaralhos por causa de modernizações e reestruturações. A questão é que a simples palavra era auto-explicativa para alguém como eu. Tomiko fez nada de errado, portanto.

"Tomiko. Preciso esclarecer algumas coisas aqui. Minha empresa tem dois anos de mercado. Eu sempre fiz praticamente tudo com uma pequena ajuda do meu avô, que é o meu sócio. Mas estamos em ritmo de crescimento, que apesar de lento, já pede contratações. A sua função seria ajudar a tocar tarefas de rotina e de relação com clientes via web. Coisas como controle de venda, estoque e responder dúvidas básicas por e-mail ou telefone. O trabalho pode ser feito todo na sua casa: basta ter um computador e eu posso te fornecer um celular da empresa. Nos falamos todos os dias e nos encontraremos uma vez por semana aqui e, em breve, na sala comercial da Rock'n'Pano, quando planejo contratar uma secretária. Só que, para essas funções e encontros, pago um salário mínimo, mais todas as gratificações trabalhistas que você tem direito. A pergunta é: você trabalharia comigo nessas condições? Estaria disposta a cumprir período de experiência de três meses sob contrato temporário?"

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