healing {bangchan}

03

                                Kylie

              A plateia ficou eufórica, os torcedores da casa estavam estáticos, ninguém conseguia acreditar na sequência de derrotas que havíamos passado. O time dos visitantes estava comemorando junto com seus poucos torcedores, gritavam, corriam, provocavam. Lá agachado no canto da quadra, estava meu antigo amigo, de cabeça baixa. Seus colegas de equipe fizeram um círculo ao redor dele e tentavam aconchegá-lo de diferentes maneiras. Ele estava visivelmente arrasado, de maneira que seus amigos do time  o levassem para o vestiário. O seu técnico que observava de longe, sentado no banco, também entrou no vestiário momentos depois.
               Eu e Lisa ficamos assim como a plateia, perplexas. Continuamos ali olhando para a quadra, onde o time rival continuava comemorando. Estávamos perto do vestiário onde o time “BOSS" havia entrado, um ar de seriedade era encontrado no ambiente. O treinador discursava de modo que só sua voz poderia ser ouvida, após sábias palavras, aplausos puderam ser ouvidos.
                              Chan
            Fomos derrotados. Eu fui derrotado. Estava fora do time. Quando o jogo acabou, agachado no meio da quadra, era a única coisa que eu conseguia pensar. Os outros jogadores do time tentaram me confortar mas, quando olhei para o técnico que estava sentado no banco cabisbaixo, a minha culpa só aumentou. Seguimos para o vestiário, tomei um banho rápido e me vesti. Nos assentos do local pude ver meus colegas e o técnico que aparentemente me esperavam. Sentei próximo a eles e o Sr. Deguzman começou a falar.
“Mais do que um jogo para um time, esse foi um jogo para o Chris. A pressão foi sobreposta totalmente nele, todos nós sabemos que ele passou por muita coisa ultimamente e assim ele acabou se sentindo mais pressionado.” Olhou diretamente para mim e continuou.

“Eu não duvido de sua capacidade de jeito nenhum; essa pausa será necessária. Você é o Capitão, tem que estar focado e preparado, com certeza sem você o time não vai ser melhor mas, essa pausa é só sua, quando achar que está consciente das suas responsabilidades no time; volte.” Terminou de falar e todos os atletas presentes bateram palmas.

“Eu agradeço muito. Eu quero voltar o mais rápido possível mas, apenas quando o basquete for minha maior responsabilidade. Quando as dificuldades passarem e até mesmo minhas notas melhorarem, eu voltarei e serei melhor do que nunca. Por favor, se cuidem e não se machuquem. Obrigado por tudo.” Eles fizeram um sinal afirmativo com a cabeça. Peguei minha mochila, cumprimentei todos com um abraço e saí pela grande posta do vestiário. 
            Passando pelo corredor do ginásio vejo que não havia mais tanta gente ali. No meio das pessoas restantes estava Kylie, ela está tentando me ajudar desde o enterro do meu pai mas, por que eu sou tão orgulhoso para não aceitar sua ajuda? Por que mesmo com minhas grosserias ela ainda tenta?
           Seus olhos correm até chegarem nos meus e ela sorri, novamente. Dessa vez eu faço o que eu quero e não o que meu imenso orgulho permite: sorrio de volta. Ela sorri surpresa dessa vez, tenho saudades. Eu espero que ela entenda que eu realmente não queria me rebaixar a ela me ver em uma situação ruim. Eu sempre quis deixar ela feliz e eu sei que quando Kylie me vê triste ela fica triste também. Aos poucos eu irei me aproximar dela e nós seremos exatamente como a uns anos atrás.
                              Kylie
                   Enquanto Chan passava pelo corredor do ginásio ele sorri para mim. Fiquei bem surpresa, ele tinha acabado de ser cortado do time e agora responde meu cumprimento. Logo ele sai pelo portão do ginásio. Olho para Lisa e ela parece satisfeita.

“Parece que o senhor orgulhoso quer ser gentil às vezes.” Olho decepcionada para ela. “Tá bom, parei.” Levantei e puxei ela para fazer o mesmo.

“Amanhã sua amiga vai ter uma competição importante, por isso, vamos embora que já está tarde.” Descemos as escadas do ginásio e seguimos em direção às passarelas de acesso.

“Só você pra acordar cedo num sábado pra nadar.” Eu rio. Lisa como sempre sedentária.

“Pra mim não é nenhum sacrifício, bebê.” Saímos da escola e seguimos caminho até em a casa de minha amiga, que era na mesma quadra.
            
            Paramos em frente à casa da morena e a abraço forte.

“Boa sorte e arrase como sempre amanhã.” Nos separamos e sorrimos.

“Muito obrigada, Lili.” Começo a andar e aceno mais uma vez para a mais alta que me devolve o gesto.
            
             Sigo em direção à minha casa que também não era muito longe. As ruas de Sydney eram calmas a noite mas, não numa sexta-feira. Ao mesmo tempo que eu tinha um pouco de medo das pessoas estranhas transitando pelas calçadas, me sentia um pouco segura por ter também alguns rostos já conhecidos ali.
            Em frente à minha casa, uso minha chave para abrir o portão e logo após a porta de minha residência. Subo as escadas na ponta dos pés para não acordar meus pais que provavelmente estão ocupados ou dormindo. Entro no banheiro e tiro a pouca maquiagem que passei, além de escovar os dentes. No meu quarto tiro minha calça jeans e coloco um pijama. Pego meu celular para ativar o despertador marcado para notificar as 7:30 da manhã e deito pensando nos acontecidos do dia.

Continua.