healing {bangchan}

27

                     Chan
               Eu estava cansado. Fisicamente e emocionalmente.  O treino de hoje tinha sido extremamente cansativo. Tomei um banho longo, sentindo cada gota de água morna pousar delicadamente sob minha pele. Sequei meu corpo, adentrando meus dedos sobre os fios levemente molhados de meu cabelo.  Sentei sobre a beirada da cama, pensando nos últimos dias.
              Uma grande amiga tentando acabar com a própria vida, crises mais fortes e uma paixão florescendo. Esse último acontecimento fazia tudo valer a pena, cada momento difícil se na presença de Kylie se tornaria melhor.
                  Um pequeno ser sorridente adentra meu quarto, acabo observando o aparelho celular em sua mão. Luccas tinha a câmera frontal apontada para seu rosto, enquanto dizia algumas frases.
“É pra você.” Ele gargalhou e saiu correndo, depois de me entregar meu celular.
                   Observei o ecrã e me surpreendi ao ver o meu rosto preferido do outro lado da tela. Sorri por ver seus cabelos molhados, como se tivesse saído do banheiro a poucos minutos, assim como eu.
“Oi, Ky.” Disse rindo ainda surpreso.
“Oi, Chan. Você quer vir aqui em casa? O dia está tão lindo e eu quero aproveitar com você.” Ela disse com as bochechas rosadas. Kylie era sempre direta, eu amava isso nela.
“Claro que sim. Posso levar meu sketchbook?” Perguntei e a castanha talvez tenha achado a pergunta estranha, pela sua reação.
“Pode. Te vejo daqui a pouco?” A garota sorriu.
“Até mais.” Sorri e desliguei a chamada, sentindo meu corpo borbulhar. As famosas borboletas voavam no meu estômago.
                   Rindo a toa. Era assim que eu ficava sempre que conversava com meu amor. Vesti uma roupa rapidamente, passei um perfume e busquei alguns materiais de desenho.  Caminhei os poucos metros que separavam nossas casas, sorrindo. Mesmo com todos os empecilhos que tentam me colocar para baixo, eu tenho ela. Que sempre melhora cada pequeno momento. 
                   Alguns minutos depois da chamada de vídeo, a de cabelos castanhos me avisou para ir direto ao seu quintal. Ela era apaixonada pela natureza, se encantava por cada pequeno detalhe do ambiente. Entrei pelo portão principal e fui direto aos fundos da residência. A garota estava deitada sobre a luz do sol, como se absorvesse toda a energia dele.
Me aproximei de seu corpo, seus olhos estavam fechados. Sentei ao seu lado e posicionei meu dedos sobre a pele macia de seu rosto.

“Como vai, meu bem?” A garota sorriu depois de ouvir minha voz.
“Melhor agora que você está comigo.” Levantou seu tronco, sentando-se de frente para mim. Juntei rapidamente nossos lábios num mero selinho, ela sorriu. “Você pode me tirar uma dúvida?” O sorriso não desmanchava.
“Claro, se estiver ao meu alcance.” Não imaginava o que seria, mas tentaria responder.
“Eu vi você na praça um dia, com algumas crianças ao seu redor e tocando violão. O que estava acontecendo?” Ela disse com um sorriso sem graça no rosto, esbanjava curiosidade.
“Era um trabalho voluntário. As crianças são cegas, então eu e os professores de onde estudei música, decidimos ensiná-los.” Eu conto e a garota abre a boca surpresa. “Eles tem muitas dificuldades na vida, a música é o melhor caminho.”  Sorrio ao perceber a maneira que a garota me olhava. Seus olhos brilham mais que o sol acima de nós. Ela segura minha nuca e dispõe diversos beijos sobre minha face e lábios. 
“Você é incrível.” Ela diz depois do último beijo sobre minha boca.
“Meu amor, incrível é você. Inclusive tu estás tão linda com essa iluminação. Posso te desenhar?” Seu rosto ilumina dez vezes mais e ela deita sobre a grama, para que eu possa desenhá-la.
                Juntei meu materiais e iniciei trazendo os traços do formato facial, começando pelo maxilar delicado da mesma.  Depois desenhei seu nariz único, pela leve curva que fazia. Sua sobrancelha natural e marcada. Olhos de gatinha. E a minha parte preferida, seus lábios. O inferior era levemente mais cheio que o superior, eu amava isso. Assim como cada detalhe da outra.
                Paciência nunca foi uma virtude dela. Quando estava fazendo os últimos traços ela dizia que queria ver o desenho. Eu respondia calmamente que não. Tudo bem até ela tirar o caderno de sketch da minha mão e sair correndo, deixando um papel cair do seu interior. Quando lembrei o que era aquela folha, deitei a cabeça sobre a grama, desesperado.
                Era uma carta. Essa que eu fiz para Kylie depois da primeira e única vez que dissemos ‘Eu te amo’ um ao outro. Não era minha intenção que ela lê-se. A garota juntou o papel do chão, e desdobrou-o. 
“Feita de todas as melhores qualidades, os defeitos eram disfarçados. Cada pequeno traço do seu rosto perfeito, me lembra o amor que eu sinto por ela.” Ela parou de ler e me olhou sorrindo, logo continuou. “Kylie é o sol, as estrelas e a Lua. Constitui todo o meu céu e universo. Abrilhanta todos os meus dias com o seu sorriso poderoso, como uma cura. Seu espírito protetor me acalma nos piores momentos. Sua presença está sempre comigo, já que um pedaço de meu coração está com ela. Ela chegou com sua calma, durante o furacão. Tratei-a mal, e me arrependo imensamente por isso. Hoje tudo que eu quero é vê-la feliz e ao meu lado. Compartilhando cada momento e sentimento. Tem todo o meu amor e sabe disso.” A garota sorri com seus olhos levemente marejados. Me sento, ajeitando a postura e ela vem em minha direção.
“Não estava terminada ainda.” Eu disse sem graça.
“Meu amor. Eu te amo demais, não acredito que tu escreveste tudo isso pra mim. Ah, te amo!” Joga seu corpo sobre o meu, fazendo nós dois ficarmos deitados no chão. Abracei seu corpo enquanto ela disponha beijos suaves nos meus ombros e clavícula.
“Eu te amo.” Falei abafado pelo seus cabelos. A garota me olhou com toda a paixão. Olhos nos Olhos, lábios nos lábios. Corações juntos.

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