O Gelo

216 14 1
                                    

- Ela está demorando.

Louis se mostrava impaciênte, mas Zoe só estava lá a alguns minutos. Ela deve estar com dificuldade de achar (a cabine tava uma verdadeira bagunça quando saimos).

Meu amigo nervosinho aqui, não teve que esperar muito. Antes não tivese contado o que eu pretendia, agora ele tá mais ansioso que uma pessoa normal ficaria (e quem de nós a bordo era normal?). Emfim, minha amiga saiu de lá, ainda em forma de coruja, com um objeto fino entre as garras, voando ao nosso encontro, voltando a forma humana:

- Desculpe a demora gente, caramba, Ana porque você quarda esse troço as sete chaves?
- Medo de se desintegrar. Agora vejamos...

O objeto era, na verdade, um disco de gelo, o mesmo que eu tinha feito quando estava em meu cativeiro. Sempre que tocava aquela amostra do meu poder, podia sentir vibrações diferentes do que a transmitida pelo gelo normal que se encontra no congelador, agora, queria comparar essa sensação...mas nada explicava a curiosidade de Louis, que não parava de fazer perguntas:

- Vem cá...porque você pegou essa amostra ao invés de fazer outro pedaço de gelo?
- Eu já falei! Não quero usar meus poderes dentro do navio!

Eu não disse, mas o motivo era bem simples, eu não queria correr o risco de causar um acidente, quando pequena, aquele desastre da nevasca foi prova suficiênte  que tenho que tomar muito cuidado, por esse motivo, tento controlar até minhas emoções, o que é dificil considerando o fato de não ter notícias dos meus pais, em casa, pelo menos podia ve-los em seu leito, agora nem isso...

Continuando minhas intenções no convês, me concentrei na energia do disco e depois na do gelo que cobria o chão:

- Esse gelo não é natural.
- Como?
- O gelo do disco e o que se formou pelo navio, tem a mesma energia, não é comum, estou preocupada que eu tenha sido a causa disso tudo, afinal, já causei um desastre antes - falei deprimida.
- Não, aquilo era diferente, isso aqui não pode ter sido você, pelo que você me contou, a tempestade continuou até você dar um "basta" e olha só! Não tá nem mais nevando! Além disso, como formaria icebergs tão rápido?

Zoe tinha razão, era muito improvável que eu fosse a causa de tudo aquilo, principalmente pelo motivo dos icebergs. Louis, por outro lado, parecia estar perdendo a cabeça:

- Ah! É tão confuso! Quanto mais perto chegamos de uma resposta, mais a situação complica! - ele bufou.
- Se eu soubese que você era tão histérico, nunca tinha deixado você vim com a gente! - disse Zoe aborrecida.
- Como se fosse adiantar! Você sabe qual é o meu poder pelo menos?

O rosto de minha amiga ficou vermelho, ok, era a primeira vez que eu a via com raiva, em quanto Louis se obrigava a encarar o rosto dela com os punhos fechados, como se a desafiase. Eu me foquei em descobrir o poder dele, procurei o objeto que o identificava e achei! Ele usava uma pulseira de couro:

- Você é um neutro.
- Sim - concordou ele parecendo se acalmar - Eu posso ficar invisivel ou criar um campo de força...
- Que legal!
- É verdade, antes de embarcar nesse navio, eu gostava de dar sustos nas crianças da minha rua, pra elas eu aparecia do nada...tipo PUF! Eu tô aqui! - ele deu uma risada.
- Que horror! - protestou Zoe.
- Afs, parece que nunca teve infância!

Esse comentário dele mexeu comigo, eu não tive infância, uma criança amaldiçoada que havia congelado os pais e tornado a vida em sua cidade um inferno! Desde os dez anos eu nunca mais andei de bicicleta, patins ou brinquei com outras crianças da minha idade, fui condenada a viver presa num lugar frio e sem amor...

Zoe persebeu meu desconforto e sabia que se continuasem com isso, eu iria desabar:

- Bom, acho melhor a gente ir, já está amanhecendo e tenho certeza que nós vamos ter que limpar essa bagunça do gelo.
- Você está certa, mais fique sabendo que não vou descançar até resolver esse mistério...
- Eu também não! - concordei.

Depois nos separamos, eu e Zoe para um lado e Louis para o outro, mesmo assim, no meio do caminho, entramos no banheiro feminino, e sabia o porque, minha amiga queria me consolar:

- Ana, você está bem?
- Tô...é só que, ele comenta que você não tem infância, mas ele não tem a menor idéia de como é realmente não ter uma vida  quando criança ao invês de lutar pra sobreviver.
- É, ele não sabe do que tava falando. - concordou Zoe.

Ela abriu os braços, esperando um abraço e eu fui a seu encontro. Nunca perdia a oportunidade de um abraço, pois antes, era uma coisa que eu não tinha.

Coração De GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora