O Beijo

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Ana:

- Stevan!
- Ana, deixe esse vira-lata pra lá!
- Vira-lata?! Stevan é meu amigo! Aliás, o que deu em você!? Enlouqueceu!?
- O que deu em mim? Fala sério né! Ele tava claramente aproveitando a oportunidade pra disser que tem uma garota!
- Pra começar, foi você que começou a se alterar! E que história foi aquela de que eu era sua namorada!? A onde você estava com a cabeça?!
- Era a unica coisa que pensei para despista-lo!
- E se eu não quisese despista-lo? E se eu quisese dançar com ele e seguir minha vida sem pessoas entrometidas!? Já pensou no que eu ia querer?
- Era óbvio! Porque você ia querer ficar com um zé ninguém feito ele ao invés de mim?
- Porque ao contrário de você ele me ajuda! Ele não se entromete na minha vida e dá surtos de raiva porque dançei com outra pessoa! Ah, quer saber? Esquece! Não vai adiantar nada conversar com você!

Eu sai andando, furiosa, até a janela que Stevan atravessou ao sair dali. Logo atrás de mim, Dimitry grita:

- Onde você vai!?
- Falar com meu amigo de verdade!

Passei pela janela e corri seguindo as pegadas caninas que ele deixou. Uns 40 metros depois, as pegadas se tornam humanas, continuei a segui-las pelo imenso jardim até chegar a uma cúpula com armação de metal e sem paredes, os traços eram elegantes, lembrando, a realeza.

Do lado interno da cúpula, o cabelo branco radical de Stevan refletia a luz gélida da lua. Ele estava de cabeça baixa e soluçava, ainda estava com a roupa do baile, mas agora, se encontrava amarrotada.

Eu me aproximei dele, mais nem quando me sento ao seu lado ele levanta a cabeça. Só quando coloquei a mão sobre seu ombro ele olhou para mim. Podia ver as lágrimas rolarem por seu rosto, ele estava realmente abatido:

- Desculpe Ana! Não queria que você me visse daquele jeito, não queria que você me visse desse jeito! - ele apontou para seu corpo. - Eu devia ter conseguido me segurar mais...
- Não! Stevan, não se culpe! Dimitry estava errado! Vim atrás de você para ver como você estava, eu...eu me importo com você!
- Quando ele falou na minha mãe, e-eu...

Ele voltou a derramar lágrimas, desta vez, persebi uma foto que ele segurava. Era o retrato de uma mulher, cabelos lisos e negros até a cintura, pele branca e olhos azuis, ela sorria alegremente e segurava um bebê no colo. O clima estava frio quando a foto foi tirada, pois usava um casaco bem grosso:

- É sua mãe?
- É...- ele limpou o rosto - Uma mulher gentil, carinhosa, uma boa mãe. Mas era bem rigorosa, por isso, numa discução...
- Ei, ei! Você não precisa contar se não quiser, seja o que for, deve ser bem doloroso.
- Não...eu acho que você deve saber. Sabe Ana, nossas histórias não são tão diferentes uma da outra... - suspirou - A muito tempo, quando eu não passava de um garoto, eu deixei de fazer minhas tarefas diárias dentro de casa, porque eu queria brincar com meus amigos, mais minha mãe me achou e me tirou da brincadeira. Então nós dois fomos pra casa e ela começou a dar bronca, eu me alterei e fiquei agresivo, derrepente, senti uma força, incomum, percorrer meu corpo, e assim eu...bati nela.- ele me olhou, seus olhos enchendo d'água novamente - Só que o soco foi tão forte, que ela bateu contra a parede e depois escorregou...batendo com a cabeça no chão.
- Ai meu Deus...

Coloquei as mão cobrindo a boca. Ele se sentia culpado, não era de se admirar que ele tivese explodido quando Dimitry falou da mãe dele:

- Eu sou um monstro! - anúncio ele.
- É...então nós dois somos monstros...

Ele olhou pra mim, começei a lembrar dos momentos bons que vivi ao lado de meus pais, mas então veio a imagem deles congelados e depois caindo em um abismo escuro...depois de tudo eu nunca mais os veria...

Coração De GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora