Iara

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Pippa para Rosie

Melodia Real

A rainha enfrentava mais uma baixa no reino das águas brasileiras, seus soldados estavam morrendo em batalhas por estarem em menor número.

— Preciso voltar à superfície! Não posso deixar esse reino ruir, muitos seres dependem de mim. — disse Iara, categórica.

— Mas majestade, é muito perigoso. — alertou Lauane, a sereia-dama de companhia da rainha.

— Eu não posso ficar assistindo meu povo morrer, Lauane. — disse preocupada pensando em como recrutar novos soldados.

— Só me preocupo com vossa integridade física, majestade. Os tempos mudaram, a submersão foi necessária há séculos, agora será impossível atrair soldados com o vosso canto sem que seja exposta à população.

— Entendo sua preocupação, Lauane, mas entenda: só eu posso salvar este reino. Eu me certificarei de que nada sairá do controle. Preciso com urgência de um novo exército.

— Permita-me...

— Sim!

Lauane começou a falar e fez a rainha sentar-se em seu trono ouvindo-a atentamente. A fiel escudeira explicou um possível plano para atrair índios e pescadores "contaminados" pela tecnologia e a modernidade sem que a rainha fosse pega de surpresa e exposta.

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Rudá um jovem índio da região norte do Brasil, estudava, recebia tratamento odontológico, socializava com pessoas de fora da tribo, mas gostava de deixar claro que jamais sairia de sua terra, jamais atravessaria o rio para viver na cidade, levaria sua cultura adiante e só sairia do seu lugar morto.

Aquele pensamento era motivo de orgulho para sua tribo, pois muitos jovens índios deixavam suas famílias e iam em busca de vida melhor na cidade grande, alguns por perderem suas terras para o desmatamento, seu sustento nos rios por causa da poluição causada pela população da cidade e outros apenas por renegar suas origens mesmo.

Rudá se orgulhava de sua origem indígena, crescera ouvindo as histórias de seus antepassados, soube por sua avó que o seu pai fora um dos que se deslumbraram com a ilusão que a cidade grande causava.

Era alto, musculoso, bonito e dono de um coração muito puro e bom, gostaria de ser cacique para cuidar e proteger sua tribo, ensinar as crianças a serem adultos de bem e que carregariam seu legado.

Queria ser bem melhor que o pai, que abandonou a tribo e a família e foi se aventurar na cidade grande.

— Queria ser cacique, mas não gostava de liderar, liderar de verdade e não só sair mandando em todo mundo, também não gostava de obedecer, descobriu que seria para sempre subordinado. — explicou sua avó, sobre seu pai.

— Eu quero ser cacique para ajudar a manter o meu povo seguro, ajudar a defender a tribo e seus habitantes do que precisar.

— Você será um grande cacique, meu filho!

Rudá se sentia orgulhoso ao ouvir aquilo da avó, a pessoa que mais lhe dava bons exemplos e o apoiava.

A mãe de Rudá morreu quando ele nasceu, deixando-o com o pai e a avó.

Depois de estudar, coisa que fazia três vezes por semana, Rudá gostava de caçar, ajudava algumas famílias com seu trabalho, era visto como o protetor e futuro sucessor do cacique que comandava aquela tribo.

Sentia imensa tristeza quando encontrava lixo pela floresta. Mata fechada de difícil acesso.

— Vento não tem culpa de crueldade de alguns humanos. — repetia sempre que encontrava lixo pela mata.

Amigo Oculto Literário 2Where stories live. Discover now