De: Annabeth / Para: Bia
Quem eu quero ser com você
— Clark, você pode parar de me olhar apaixonadamente? Chega a ser constrangedor. — Will falou de forma irônica e eu soltei um riso sem graça ficando séria em seguida ao pensar que hoje era o último dia que ele usaria sua língua afiada.
Ele não estava errado ao dizer que eu o olhava apaixonadamente. Estava tentando gravar seus traços, não suportava a ideia de um dia esquecer sua aparência.
— Você pode chamar meus pais? — Ele perguntou, aparentemente calmo. Suspirei olhando seus olhos, tentando conter as lágrimas. Sabia que não deveria ter vindo pra Suiça. Como eu pude sequer pensar que aguentaria assistir isso?
— Eu preciso ir embora! — Falei baixinho, minha voz estava terrivelmente embargada.
Will me olhou fixamente. Sua expressão mostrava decepção, mas eu simplesmente tentei ignorei esse fato. Eu faria muito por esse homem, mas assistir sua morte não estava incluído no pacote.
— Sinto muito. Eu sei que devo respeitar sua escolha... Eu sei. Afinal, você é o réu, júri e juiz e não há a menor chance de apelação. — Murmuro a última frase amargamente. Will fecha os olhos por alguns segundos parecendo angustiado.
— Clark... — Eu o corto antes que o mesmo continue a falar.
— Pela primeira vez em anos, tenho uma nova perspectiva. Tenho noção que sou uma garota de cidade pequena, mas não preciso ser essa garota pra sempre. Você me fez perceber isso, Will! — Falo olhando para o teto branco do quarto.
— Fico feliz por isso, Clark. — A voz dele não tinha nenhuma nota de ironia. O fito, me julgando tola pelo pensamento que tive sobre esquecer sua aparência, nem se eu me esforçasse conseguria esquecer uma beleza daquelas. Will era lindo por dentro e por fora.
Me aproximo, sentando-me na cama. Me inclino e beijo seus lábios suavamente. Deito a cabeça em seu peitoral e digo em voz alta:
— Você me fez perceber que não devo me conformar. Então, me perdoe se não consigo ficar em silêncio assistindo o homem que eu amo morrer. Me perdoe se sou egoísta por isso, Will. Me perdoe por não conseguir ficar do seu lado nesse momento. Eu não consigo. Simplesmente não consigo. — E ao finalizar minha frase me levanto sem olhar para ele. Caminho em direção a porta, sentindo meu rosto molhado pelas lágrimas desenfreadas.
— Lou... — Escuto sua voz tão fragilizada me chamar pelo meu apelido. Tenho vontade de me bater por tornar nossa despedida tão complicada, mas ao sair pela porta sem olhar para trás sei que fiz o certo.
...
Epílogo
Lou,
Nosso último encontro foi lamentável. Com certeza, não foi o jeito certo de me despedir da mulher da minha vida. Não vou me desculpar por ter feito minha escolha. Mas, também não a culpo por não conseguir assistir. Você disse que eu te fiz enxergar uma nova perspectiva... Bom, ao contrário de todos que apreciaram minha coragem ao lidar com minha paralisia, você viu o covarde que habitava em mim. Viu o homem que vivia as custas de memórias de quem foi no passado. Você merece mais que esse homem .
Peço que aceite essa passagem. Paris é linda nesse época do ano. Não tanto quanto você, mas o suficiente para ter uma paisagem incrível para refletir sobre o rumo que sua vida irá tomar daqui pra frente.
Com amor, seu Will.
— Última chamada portão 7, embarque imediato!
Passo pelos portões de embarque de forma desastrada. Minha mente fervilhando. Ali estava eu viajando para a cidade do amor em um vôo de primeira classe. Tinha tudo pra ser a melhor viagem da minha vida se eu não estivesse me sentindo tão sozinha. Respiro fundo, era o último pedido de Will, eu precisava tentar seguir em frente.
Entro na aeronave e um dos comissários me indica meu assento. Paraliso totalmente ao ver Nathan, me aproximo hesitante e cubro minha boca com as mãos ao ver quem estava do seu lado.
— Surpresa, Clark? — Will me perguntou com um sorriso torto no rosto. Abrir minha boca tentando articular uma frase, mas as palavras tinham sumido da minha mente.
Ao ir embora do Dignitas há uma semana eu tinha simplesmente aceitado a morte de Will como fato consumado não buscando nenhuma informação sobre o assunto. Mas ali estava ele, tive que conter o impulso de me beliscar para me certificar que não estava alucinando.
Nathan se afastou sutilmente e eu fiz uma nota mental de gritar com ele mais tarde por não me contar que Will estava vivo.
— Sabe, ao contrário de você, eu conheci o mundo. — A frase realista, porém grosseira de Will me fez o olhar. — Mal posso acreditar que essa frase vai sair da minha boca, mas apesar do muito que vivi, eu não entendo muito sobre amor verdadeiro. — Will falou baixando o olhar, um sorriso brincava em seus lábios. — Quer me ensinar o funcionamento dessa arma tão perigosa, Clark? — Ele disse brincalhão e tudo o que conseguir dizer foi:
— Como? — Will revirou os olhos pra mim e disse:
— Seguinte, não confio em você viajando por aí sozinha, precisa de um guia ao seu lado. — Ele falou e eu esbocei um sorriso feliz finalmente aceitando que aquilo era real. Will estava vivo!
— E esse guia seria você? — Pergunto, mal conseguindo conter minha empolgação.
— Não estou te prometendo que será pra sempre, Lou. Mas não posso morrer sem desfrutar do melhor do mundo ao seu lado. Simplesmente não posso. — Ele fala em tom de confidencia. Me aproximo do mesmo me sentando em seu colo.
— Você tem uma programação pra nós dois? — Pergunto pra Will que sorrir tão largamente quanto eu, expondo suas covinhas.
— Sim, vamos começar pelo café de Marais, é o melhor! — Ele murmura com a animação de um garotinho.
Enquanto eu o ouço falar sobre nossa programação de viagens não consigo tirar o sorriso do rosto, não me importaria com o depois, eu estava ao lado do homem que eu amava e era a primeira vez em anos que me sentia no lugar certo.
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Amigo Oculto Literário 2
NouvellesSorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.