De Evanio para Fabi
Escrevo essa carta para dizer aquilo que não consigo em voz alta. Provavelmente a queimarei assim que acabar, mas por enquanto confio neste papel para guardar meus segredos.
É estranho tratar esse texto como se alguém além de mim fosse lê-lo, mas não consigo evitar uma pergunta: Já se sentiu realizado a ponto de achar que tudo fosse dar certo a partir dali? Parece que foi há milhões de anos atrás, mas foi assim que eu me senti quando terminei de escrever meu primeiro livro bom de romance. Não que os outros fossem ruins, mas quando a história toca nosso próprio coração e o orgulho preenche todo seu corpo, é diferente.
Claro, não durou muito tempo. Sempre fui ingênua e acostumada a viver nas nuvens, mas dessa vez uma tempestade me derrubou de vez. Uma editora recusou minha história e lançou outra parecida um tempo depois. Eu estava vendo minha criação sendo publicada com outro nome, outros personagens e alguns poucos acontecimentos alterados. Fiquei aflita para ler aquilo e tudo parecia familiar; parecia meu. Quando fechei o livro após ler a última página, meu mundo caiu. Confesso que devo ter errado em não avisar a alguém ou desabafar para uma amiga, porém me senti tão frustrada que só queria gritar, desabar em minha cama e chorar tudo o que podia.
No dia seguinte, meu namorado me disse que escrever o que sentimos pode ajudar. Não entrei em detalhes com ele, mas era nítido que eu estava acabada. Meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, inchados e cansados. Meu deus, eu estava patética naquele momento. Percebo isso agora. Minha mente clama por ajuda, eu grito para mim mesma mentalmente, mas não há mais sentido. Não tenho motivação para fazer mais nada, talvez foi um erro negar os medicamentos; as pessoas dizem que é mais fácil lidar com os sentimentos ruins quando você não sente nada. De qualquer forma, é tarde demais.
Estou há tanto tempo nesse quarto que eu nem lembro quando comi, quando falei com alguém, ou a última vez que sorri. Definitivamente preciso de um banho, mas tenho medo de ir no banheiro e fazer alguma besteira. Não me sinto confortável com a ideia do que vem após a morte, mas ficar viva já virou um fardo. É errado pensar que tudo pode acabar tão fácil? É, uma parte de mim diz que isso não vai machucar só a mim, mesmo que eu não queira.
É difícil acreditar que eu tenho companhias que se importam comigo quando não recebo nenhuma mensagem ou ligação. Sumi por dias e ninguém além de meu namorado falou alguma coisa, se não fosse por ele eu nem sem onde estaria agora. Será que é tão difícil ter amizades que me valorizam? Eu sei que todo mundo tem a própria vida e os próprios problemas, mas nem um oi eu recebo no meu privado. Não há desculpas para isso. Também tenho minha parcela de culpa, eu não chamei ninguém para conversar; porém, qual o ponto? Sempre sou eu quem chamo.
Chegou o momento de dizer adeus. Sei que foi breve, mas estão batendo na porta do meu quarto. Provavelmente é meu namorado mais uma vez. Não consigo ficar brava por ter alguém me incomodando de madrugada, sei que ele faz isso porque se preocupa. Isso é o melhor remédio para mim: saber que ter gente que se preocupa comigo. Tratei-te como uma pessoa até agora, então vou te dar um conselho antes de ir embora: Sempre fique ao lado de quem você se importa. É isso que eu queria que fizessem comigo.
YOU ARE READING
Amigo Oculto Literário 2
Historia CortaSorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.