9° capítulo
- Tchau, se cuida aí. -beijou minha testa.
- Cuida bem do meu Samuca, hein?
- Só dele? -ele riu- Tudo bem, vou cuidar. E ensinar meu menino a ser um grande empresário.
- Quero ver! -ri, e beijei a bochecha do meu menino.
- Tchau mamãe!
- Tchau meu príncipe!
- Vou pensar em você, viu? -Eduardo soltou e eu ri.
- É bom! Acho melhor lembrar que tem em casa. -cruzei os braços- Se cuida, tá? -falei carinhosa, e deixei um beijo em sua boca.
Eduardo entrou no elevador e saiu. Meu Deus! Chegou a hora de ir. Tirei o pijama, e coloquei dentro da mala, e conferi o apartamento todo, e peguei a minha passagem, que ele tinha deixado na gaveta do escritório. Corri e peguei o primeiro táxi que eu vi. Lembrei daquele rosto redondo e alegre. Ele tinha sido um dos meus primeiros clientes, aliás, meu primeiro. O que me deu a ilustre ideia de ser prostituta. Ele riu e eu ri. Nós éramos amigos, de longa data e lembramos da nossa primeira vez como um "test drive para o trabalho". Fui conversando com ele sobre Eduardo, e o quanto minha vida tinha mudado. Ele falou da vida dele também. Trocamos até nossos números, para manter o contato de amizade que nós tínhamos.
Ao chegar no aeroporto, nos despedimos e fui direto para o check-in. Meu vôo iria sair em meia hora. Comprei alguns doces e fui para embalar a mala e conferir tudo. E lá fui eu. Era a hora de desistir, se eu ainda quisesse. Mas eu tinha que ir, até porque eu, bem, iria visitar os meus pais.
Primeira Classe, assentos 4, 5 e 6. Apresentei minha passagem e entrei no avião. Passei pelo corredor de assentos e cheguei na porta que separava a Classe Econômica, da Primeira Classe. Mostrei minha passagem e a moça autorizou a minha entrada, avisando que nós éramos os únicos que tínhamos comprado assentos na primeira classe, então, que não era para estranhar se fôssemos os únicos. Abri a porta e simplesmente "cheguei". Pulei no colo do meu Eduardo, enquanto abraçava Samuel meia desajeitada... meus meninos estavam comigo, e eu faria de tudo para ser a melhor viagem da minha vida, e da deles também.
- O que você está fazendo aqui, Liliana? -Eduardo perguntou, com um sorriso lindo no rosto.
- Estou indo para o Brasil com vocês!
- Mas você...
- Eu quero. -beijei sua bochecha- Agora eu vou me prender no cinto de segurança.
Eu e Eduardo acolhemos Samuel em nossos braços enquanto o avião decolava. Depois que o nosso filho dormiu, sentamos nas poltronas atrás dele, e eu começei a falar do porquê eu voltaria ao Rio, escondendo algumas partes, como a dos meus sentimentos. Mas Eduardo parecia nervoso, ansioso... Seus olhos brilharam quando eu apareci, mas está escrito na sua testa que ele precisava de uma resposta.
Tirei o presente de Eduardo da minha bolsa, e a coloquei nas outras poltronas. Entreguei a caixinha rosê para ele e encostei na poltrona. Agora eu já não podia voltar atrás, e eu nem queria voltar.
Eduardo desfez o laço, e tirou a tampinha da caixa, encontrando o chaveirinho lá dentro. Ele pegou o presente e o rodou em seus dedos. Segurei sua mão e apertei o pequeno botãozinho que existia para acender o"yes" na parte de trás do chaveiro. A reação dele foi a melhor. Ao invés de acolher sua esposa num abraço e num beijo, ele começou a gritar, mas um grito sem voz. Então veio o abraço, o beijo, o nós. Eu estava noiva, noiva de um cara que eu amava e ele tinha a mesma reciprocidade de mim.
Mas meu noivo era maluco. Ele abriu os botões da minha calça jeans e a puxou para baixo, não todo, mas o suficiente para que eu abrisse as pernas e o recebesse. Meu Deus... não poderíamos ficar sozinhos desse jeito.
- Com licença...
Gritei assustada e afundei meu rosto no pescoço de Eduardo. Mas eu estava com Eduardo enterrado dentro de mim, e isso não ajudava muito.
- Só vim avisar que o comandante pediu para todos se sentarem porquê vamos entrar em uma turbulência.
- Moça, turbulência está acontecendo há um bom tempo. -Eduardo gemeu- Se nos der licença...
A doce aeromoça saiu e eu pude gozar em paz. Depois, retomamos ao nosso lugar e rimos quando olhamos um para o outro, cúmplices.
- Minha noiva, seu anel está em NY, mas eu, seu amado noivo, está ao seu lado.
Segurei na sua mão enquanto o sono me pesava a cabeça. Eu não me importava com anel nenhum, desde que aquele sorriso permanecesse no rosto do meu noivo. Eduardo segurou a minha mão esquerda e ficou brincando com meu dedo anelar, sorrindo feito um bobo apaixonado. Aliás, nós dois estávamos assim.
É bem estranho você fechar os olhos e acordar em outro país. Foi assim comigo. Eduardo me viu acordando e abriu a cortininha, e eu vi o mar, com aquele azul intenso. O sol brilhando e refletindo no meu rosto, derretendo o que sobrou de congelado em mim.
- Bem-vinda de volta. -ele sorriu.
- Bem-vindo ao meu mundo. -brinquei com o cabelo dele- Tenho algumas coisas para te mostrar. -sorri de lado.
- Melhor você saber andar aqui, eu não sei.
- Mas... você não é brasileiro?
- Não. Aprendi português. -deu de ombros- Faço muitos contratos com pessoas daqui.
Ah, claro, Eduardo era gerente financeiro da Adidas, esqueci desse detalhe.
- Mamãe? -Samuel falou um pouco sonolento- Papai?
- Sim, filho. -Eduardo falou e deixou um beijo na cabeça do filho.
- Estamos quase chegando.
- Tô com fome. -acariciou a barriguinha.
- Hm... Eu também. -Eduardo apertou o botão que chamava um almoço- Vai comer, Liliana?
- Hm... melhor não, estou com medo de ficar enjoada. -um arquear de sobrancelha me fez rever o que eu falei- Não! Não estou grávida, é a viagem! O pouso me deixa meia enjoada.
- Hihihi, mamãe gravidinha! -Samuel começou a por lenha na fogueira.
Olhei para Eduardo, com uma cara não muito boa, e ele riu, e provavelmente iria querer me tirar do sério.
- Poxa, amor, pensei que você fosse me contar! -se fez de ofendido- Vou ser papai pela segunda vez e você não me diz nada?
- Poxa, mamãe!
- Gente, eu não...
- Ah, deixa eu dar um beijinho no meu filho ou filha! -Eduardo levantou e se ajoelhou entre minha poltrona e a poltrona da frente, levantando minha blusa e deixando alguns beijinhos ali. Samuel entrou na onda e resolveu beijar minha barriga também- Acho que são gêmeos!
- Sim papai! Dá até pra ouvir o coração deles! -deitou a cabeça na minha barriga, ouvindo sei lá o que.
- Viu, filho, a mamãe escondeu da gente!
- Vocês dois resolveram me irritar hoje!
- Irritar, não. Você está grávida, não pode se irritar.
- Grávida vai estar seu nariz, do tamanho do inchaço que ele vai ficar!
Eduardo riu e Samuel também. Grávida eu não estava, ao menos que eu não tenha descoberto ainda... se bem que a validade da injeção ainda está em dia, então não, não tem nem chance de uma gravidez.
A aeromoça falou que nós já estávamos no Brasil e que era para sentarmos em nossos lugares pois iríamos pousar. Acompanhei o pouso pela janela e sorri comigo mesma ao ver meu Rio novamente. (...)
- O Brasil é meio cheio, não é?
- Meio? -eu ri- É lotado! Principalmente nessa época... ei! Nós vamos passar o ano-novo aqui?
- Claro, em Copacabana, de preferência.
- Jurou! -eu abri um sorriso- Nem acredito nisso! Meu sonho! -Eduardo sorriu.
- Nós vamos ser felizes, Liliana, prometo. -segurou na minha mão.
- Mamãe! Mamãe! Olha aquele boneco!
- Eu vi, filho! -segurei em sua mãozinha, enquanto puxava minha mala com a outra. Eduardo levava a mala de Samuel. Pegamos o primeiro táxi e fomos para a Barra da Tijuca, onde ficaríamos alguns dias. Foi divertido, principalmente porque Eduardo alugou uma casa, ou seja, diversão o tempo todo. Ok, a casa era imensa, perto do que eu tinha, e perto do que eu vivia. Ainda no aeroporto, comprei um biquíni lindo, coisa que eu não usava há muito tempo, porque os EUA não são muito legais com o calor. Primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, foi vestir o biquíni e pular na piscina. Eu tinha voltado! Não para ficar, mas eu voltei. E talvez eu quisesse me vingar daqueles que acabaram com a minha vida, mas seriam muitos, e eu estava muito feliz para pensar em vingança.
- Mamãe, me seguraaaaa! -Samuel correu e pulou na piscina, porém fui rápida o suficiente para segurá-lo no colo e não deixá-lo se afogar. Passei o dia com eles, naquele calor de final de ano. Não senti saudades, nem falta.
- Hoje ainda é meu aniversário, princesa e príncipe.
- Hum... acho que podíamos fazer um bolo, o que você acha?
Eduardo relutou, mas Samuel amou. Tomamos um banho e fomos ao primeiro supermercado que vimos e eu o ajudei com o dinheiro, embora não lembrasse muito como usar, porque eu vivia em dólar. Então voltamos para casa e eu começei com a massa, enquanto Samuel e Eduardo decidiam o recheio. Ah, brasileiros, sempre deixando tudo para a última hora.
Decidi o recheio por eles e terminei o bolo, com confeitos coloridos e cerejas. Eduardo cantou seu parabéns com uma animação que contagiava qualquer um que estivesse num dia ruim. Ele era a alegria da nossa casa, e Samuel só complementava isso. Eu que era um poço de tristeza, tentando me reerguer.
- O primeiro pedaço do bolo vai para... -ele fez suspense- Mim! -gargalhou, sentando na cadeira e comendo o bolo.
- Não vale assim. -mostrei a língua, e ri, antes de pegar um pedacinho para mim e outro para Samuel, que comia o bolo somente com os olhos.
- Eu queria dizer uma coisa. -Eduardo começou- Esse é o melhor aniversário da minha vida, e tudo isso porque vocês estão aqui comigo. -soltei um sorrisinho bobo- Obrigado, Liliana, por trazer alegria para mim, e por me dar o melhor presente do mundo. -beijou a bochecha de Samuel- Meu filho.
- É bom saber que você gostou. -deixei um selinho nele- É simples, mas...
- É muito importante, Liliana.
Senti que ele se referiu à nós dois. Nosso noivado, meu casamento inesperado.
Assim que colocamos Samuel para dormir, fomos conhecer nossa cama. Sim, foi onde nos amamos sem nos importar com mais nada, além do fato de que seríamos marido e mulher daqui a alguns meses. Comemorar nosso futuro, e esquecer do nosso passado. Na cama, era só o presente que importava, e sim, eu amava Eduardo, ele me fazia... viver.
- Alana... não briga comigo. -revirei os olhos- Eu estou bem. -mordi os lábios- Ele está no banho agora, a gente resolveu aproveitar o dia aqui no Brasil. -respirei fundo- Acho que vou ver meus pais amanhã, e comprar alguns presentes para abrir aqui, se bem que a gente nem tem uma árvore...
- Ah Lili... É tão bom saber que você não está se sentindo mal aí no Brasil...
- Foi estranho, amiga. Principalmente quando usei o dinheiro. Eu esqueci! -gargalhei- Mas é incrível, eu estava
sentindo falta da agitação e do calor daqui. Primeira coisa que fiz foi comprar um biquíni! -gargalhei.
- Vai desfilar pelas praias cariocas de biquíni... humm! -riu- Beijo Lili, tem um cliente me esperando.
- Beijo. E eu vou tirar você dessa vida, prometo. -ela suspirou e desligou.
Me enrolei no lençol e fui até a sacada do meu quarto. A lua estava linda, radiante e brilhosa. Amanhã Samuel iria conhecer algumas empresas do pai e renovar seu guarda-roupa, agora todo da Adidas. Eu, pretendia rever meus pais. Eu precisava disso. Eu não os via desde que os perdi, não me deixavam nem sofrer pelos meus pais.
- Quer um ombro... noivo?
Uma risada abafada saiu da minha boca, enquanto eu abraçava meu noivo. Era necessário, por pra fora. Mas amanhã seria um dia lindo para ele. Não queria estragar aquela magia com meus sentimentos tristes.
- Tudo que eu preciso é dormir, Dudu.
- Adoro quando me chama assim, parece mais íntimo, mais...
- É, mais fácil também. -ri. Beijei seu ombro e depois sua boca, antes de ir dormir, e me preparar para o dia seguinte.
O amanhã chegou e quando acordei, nem Samuel, nem Eduardo estavam em casa. Vesti um vestido preto, de mangas três quartos e uma sapatilha da mesma cor. Soltei os cabelos e vi o quão longos eles estavam. Peguei um táxi e fui. Observei todo o caminho, como tudo tinha mudado, como era tudo novo. Papai e mamãe iriam adorar ver o mundo comigo. Eu prometi que os tiraria daquela vida, até eles eram explorados pelos meus tios. Mas tudo que me restou foi lutar pela minha própria existência.
Paguei a corrida e entrei solenemente no cemitério. Respirei fundo e fui caminhando até o túmulo. Doloroso. Triste. O sentimento da saudade. E foi mais triste ainda quando eu cheguei ao meu destino. Soltei tudo. Todas as lágrimas que guardei de saudades desde os sete anos, quando me arracaram a vontade de viver. O momento foi solene, solitário. Só eu estava ali, e podia por tudo que eu queria para fora. Será que eles sentiam pena de mim? Será que podiam sentir vergonha do que eu tinha me tornado? Ah... Eu gostaria de saber.
- Menina, saia daí!
Não. Nem arrancada eu ia sair de perto dos meus pais, somente quando eu quisesse. Porém eu sabia que aquela voz era de ninguém menos que o tio Louis. Eu não era mais uma criança, eu podia muito bem sair dali sem nem olhar na cara daquele vagabundo, mas eu não queria sair.
- Quem é você? Seja lá quem for, isso não pertence à você!
- Pertence sim. -respondi, seca e bem irritada- E o senhor tirou de mim. -ainda de costas, pude sentir que ele se aproximava- Aliás, o que você não tirou de mim?
- V-v-você...
- Sim, sou eu. -me virei, erguendo a cabeça e vendo o meu tio. Meu estuprador, meu motivo de querer estar junto com os meus pais. Revê-lo não foi minha intenção.
- Menina...
- Não, eu sou uma mulher.
- Saia de perto dos...
- Meus pais? -soltei uma risada irônica- Não, não vou. Eu vim para vê-los. Dessa vez eu não vou deixar o senhor me tirar de perto de quem eu amo, ou melhor, afastá-los de mim...
- Você tinha se matado, sua insolente!
- Voltei para puxar teu pé, na madrugada. Bu!
Louis estava com raiva, muita raiva.
- Garotinha... Eu devia ter te batido muito mais! Devia ter te matado, de tanto entrar e sair desse seu buraquinho sem graça.
- Você me matou, Louis. Relaxa, fez o que queria.
- Seus primos também não fizeram o serviço direito. Única garota da família, e herdeira da fábrica do seu pai. Óbvio que você devia estar junto com os seus pais!
- Pena que eu voltei. -olhei no fundo daqueles olhos verdes, dos quais eu tinha herdado- Eu odeio você.
- Não precisa dizer. -sorriu perverso.
- Saí daqui e me deixa sofrer o luto que eu não tive nem o direito de sofrer!
- Ui, tá bravinha! -se aproximou de mim, e aquelas mãos sujas tocaram meu pulso- Sua merda de garota! -socou minha barriga. Eu devolvi, com um chute em seu saco. Nós dois começamos uma série de agressões e palavrões que ninguém preferiria escutar. Então aquele par de mãos macias enlaçaram minha cintura, me puxando para o encontro de seu peito, grande.
- Seu canalha!
- Sua vadia!
- Filho da puta! -cuspi e tentei sair dos braços de Eduardo e encher aquele velho de porrada.
- Liliana! -A voz grave de Eduardo me conteu- O senhor aí, tenha mais respeito pela minha noiva, lave sua boca para falar dela!
- Dessa puta?
- Puta é seu pau pequeno! -xinguei e Eduardo afroxou um pouco, rindo em meus ouvidos, mas uma risada sem som.
- Vamos embora, Liliana.
Saí, olhando para trás e vendo Louis me devorar, e pronto para contar que a herdeira estava viva. Eu iria recuperar minha fortuna. Eu já tinha dinheiro suficiente para conseguir colocar aquele velho na cadeia.
- Liliana, o que foi aquilo? Num cemitério!
- Eu fui ver meus pais. -falei baixo- Não sabia que o Louis iria estar lá.
- Seus pais? Liliana, porque não me disse?
- Olha para minha cara! -gritei e ele baixou o olhar- Eu vim chorar tudo pelos meus pais, tudo que aquele cretino não me deixou fazer.
- Eu te entendo, Liliana. -abriu a porta do carro para mim, e eu entrei, segurando a língua por conta de Samuel. Sentei e senti a dor do soco na hora. Gemi baixo, apoiando a minha barriga e sentindo aquelas dores esquisitas de novo- Liliana, você não está nada bem.
- Ele me deu um soco na barriga.
- Droga. Segue para um hospital por favor. -o taxista assentiu- Mais que merda ele fez?
- Me bateu, me apertou, me jogou contra o túmulo... Mas eu revidei, eu... eu...
- Mamãe! -Samuel me abraçou e eu engoli um grito de dor. Minha costela ardia, e a coluna estava acabada. Mas eu não podia sofrer a dor. Agora eu lutaria pelo o que é meu de direito. Papai tinha uma empresa, eu só precisava descobrir qual, para tomar posse e ter todo o meu dinheiro de volta.
Fomos em silêncio depois, e precisaram pedir uma cadeira de rodas para que eu fosse para o consultório médico. A dor era tanta, que eu mal conseguia andar.
O médico me examinou por completo, de deu um remédio para dor, antes de falar que eu precisaria tirar as duas últimas costelas, pois estavam quebradas. Acabei aceitando e foi até bem rápido. Eu já estava no quarto quando o médico entrou com Eduardo.
- Sua noiva perdeu as duas últimas costelas, mas tudo bem, é normal, até em procedimentos para emagrecer e fazer cintura. Ela está bem, tirando a barriga. Ela sofreu um impacto forte perto do útero, está tudo bem, mas ela vai sentir dores de vez em quando, principalmente durante o ato sexual. A gravidez vai ser de risco...
- Gravidez? -perguntei, e olhei para Eduardo, que me olhou como se dissesse "nunca mais brinco disso". Meu Deus, ele não queria um filho. Um filho nosso.
- Não, creio me expressei mal. -o médico riu- Caso você fique grávida durante esses meses pós cirúrgico, você tem grandes chances de perder o bebê. Nada que não se resolva depois, mas por enquanto não podemos arriscar.
Ele saiu e eu olhei para Eduardo, com a expressão nada boa.
- Liliana, não ande sozinha, por favor. -massageou a tempôra, nervoso comigo- Não naquela região.
- Eduardo eu tenho uma empresa, ou melhor, sou herdeira dela. Papai nunca me disse nada, mas nós tínhamos uma vida boa. Acho que a empresa bombou mercado afora. Tem noção? Eu sou rica, eu posso...
- Seu tio pode ter blefado.
- Meu tio não blefaria assim. Meus primos que cuidam dela, mas por direito, sou eu.
- Sim, eu entendo disso. E você quer a empresa. -afirmei com a cabeça- Liliana, para isso, você vai precisar ficar um tempo aqui no Brasil, se não morar aqui. E nossa vida, lá?
- Eduardo, eu arranjo um presidente. A Alana, a Alana é formada em administração e sonha sair da prostituição. Eu só preciso ter o que é meu de volta. (...)
Deitei na minha cama, relaxando a coluna e acolhendo Samuel nos meus braços, que dormia. Eduardo estava em uma das suas reuniões, e eu tinha começado a pesquisar coisas sobre quem eu era. Descobri que papai tinha muito dinheiro, mas que não gostava de se expor. Ele era presidente de alguma empresa, e morava no subúrbio do Rio com a mulher, que no caso era a minha mãe, e uma filha. Eu, no caso. Mas eu tinha um irmão. Mas o Louis o assassinou. Nem conheci. Papai e mamãe eram casados desde os seus doze anos, e experimentaram as coisas boas da vida muito cedo. A única preocupação de mamãe antes de me deixar, era que eu seguisse o mesmo caminho que o dela. Por um tempo sim, mas depois eu criei asas. Papai tinha me deixado uma boa quantia, e o comando da empresa somente à mim, sem chance alguma de outra presidência. Mas aí estava o problema. Eu era a presidente da Adidas no Brasil. Papai tinha me deixado essa bomba nas mãos.
Como supostamente eu desapareci, o último pedido do papai foi atendido. Não houve mais nenhum presidente na sede brasileira, e as buscas começaram. Então eles me deram como morta há um ano atrás e decidiram colocar alguém na presidência. Só não sabiam quem.
Isso foi o que eu li na internet, em vários sites. A minha verdade, que papai e mamãe me esconderam durante minha vida com eles.
- Liliana! Liliana! -Eduardo abriu a porta do quarto correndo e ofegante- Eu... Eu!
- Você... fala meu amor!
- Fui nomeado presidente da sede do Brasil. -não...- Liliana, eu estou tão feliz! Tem noção que isso é um sonho? Vamos ter que morar aqui. Melhor assim, e aí você descobre a empresa que você é dona e...
- Eu já descobri. -falei baixinho. Eduardo tinha conseguido o meu lugar, e estava feliz, muito feliz. Eu não conseguia estragar a felicidade dele, simplesmente não conseguia.
- E de qual poderosa minha futura esposa é dona? -selinho.
- Não, é só... Papai... É...
- Estou tão feliz, Lili! Tão feliz! Acho que devíamos estourar uma champanhe, boa, vou lá pegar.
Eu simplesmente não conseguia. Papai tinha me deixado tudo. Me deram como morta e agora tudo seria do meu futuro marido. Eu era morta. Afastei os pensamentos e coloquei um sorriso no rosto, e comemorei com Eduardo. O Natal tinha sido feliz e conseguimos trocar presentes. Eu já estava bem melhor e muito, muito angustiada.
- O senhor Hernani deixou a empresa para a filha dele. Mas ela faleceu, tadinha. Tiveram que colocar alguém no lugar.
- É...
- Liliana, você não está nada bem.
- Estou, estou sim, só... feliz por você.
- A festa de comemoração é no ano-novo da empresa. Você vai, né? Você e o Samuca, vocês são minha família.
- Claro, só vou precisar de um vestido branco.
- Pensei nisso. - sorriu de lado e me entregou um pacote preto com três listras. A marca do papai. Abri e encontrei um vestido lindo. Era da marca, óbvio, mas muito lindo- Foi o modelo que o presidente Hernani desenhou para a filha. Como eu sou o presidente agora...
A filha. Papai tinha desenhado para mim, pensando em mim. Era exatamente do jeito que eu gostava, marcando a cintura e rodadinho.
- Esse modelo é único no mundo, Liliana. É seu. -Papai tinha desenhado ele para mim, sempre foi meu. Foi feito para o meu corpo, sob medida. Eu lembro do meu pai olhando para mim, bem pequena ainda, com uma prancheta nas mãos- Esse aqui é o desenho dele.
Ah... o papel. Sim, eu lembrava dele.
*Flashback on*
- Papai! Papai!
- Sim? -afastou a prancheta, e seus olhos castanhos me fitaram, felizes.
- Deixa eu ver?
- Não, pequena mocinha. -sorriu- Esse é seu presente de 15 anos, tem que ser especial.
- Poxa papai, eu ainda tenho cinco!
- Papai promete que vai te entregar ele e dizer: "Você soube esperar muito bem, minha princesa".
*Flashback off*
- Liliana, o que foi? Você não está nada bem, piorou agora.
- Nada, Dudu, eu estou bem. -abri um sorriso- Vamos nos casar aqui?
- Vamos. -sorri de lado- No cartório mesmo, nada de cerimônia, não temos muitos convidados.
- Tudo bem. -suspirei.
Eduardo sorria à todo momento, enquanto eu queria chorar. Os traços do meu pai... até meus olhos estavam no papel, e eu era bem parecida aos 15 anos. Liliana Lovatti Hernani. Meu eu, que Eduardo descobriria assim que falassem meu nome em público. Eu não usava o Hernani, porque mamãe sempre disse que só quando eu completasse vinte e cinco anos. Provavelmente eu assumiria a empresa nesta idade.
Devolvi a folha com o desenho para a caixa e dobrei o vestido, o guardando logo em seguida.
- Liliana, o que acha de nos casarmos amanhã?
- É uma boa. -sorri de lado- Estou feliz de me casar com você. Se você prometer não me trair...
- Não, não vou trair você. -arrumou o meu cabelo atrás da orelha- Você está muito tristinha, isso me preoucupa.
- Amanhã vai ser um grande dia, é uma marca na nossa vida. Casados.
- Casados. -sorriu- Casados e presidentes da Adidas. Tudo que é meu, é seu.
- Vai ser incrível. -me convenci a um sorriso.
Eu não devia ter voltado para o Brasil.
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Só mais uma Noite
RomanceEu não espero nada além de respeito. Minha vida era perfeita até eu ficar sozinha. Sozinha e isolada de todos que me fizeram mal, o que não é tão ruim assim. Mas, eu odeio o amor. Todas as pessoas que amei, foram embora, me deixaram. Amor não é comi...