5° capítulo
O dia amanhecia quando levantei de fininho e senti o vento frio no meu rosto, assim que abri a porta. Era início do inverno, e os pequenos flocos de neve caiam diante a janela. Abraçei meu corpo e fui até a cozinha, olhando a garoinha de flocos brancos descendo do céu. Do nada, duas mãos me enlaçaram pela cintura e e um rosto liso e sem barba repousando no meu ombro.
- Não sabia que você gostava de neve.
- Eu amo a neve. -respondi, e soltei um sorriso. Minha voz ao menos tinha voltado ao normal.
- É, eu gosto. É mais legal ir brincar com ela, mas você tá gripadinha ainda, não pode. -brincou o meu nariz, passando o dedo por ele e dando um toquezinho na pontinha. Eu ri e ele deslizou pelos meus lábios e os desenhou. A temperatura aumentou, não é possível! Tudo se tornou mais quente, mais vivo, nossa! Nossa atmosfera era diferente e nossos olhares se encontraram. Ele tocou seus lábios nos meus, apenas um leve encostar. Eu assenti. Ele então me beijou. Daquele jeito, quente e lentamente. Nossos olhos estavam fechados (como manda as regras) e a nossa sintonia perfeita.
Eduardo encaixou meu rosto em suas mãos e acariciava a minha bochecha enquanto me beijava. Seu toque me aquecia, me dava vida e refazia quem eu era, no caso, aquela menina que sonhava em ser advogada.
Aos poucos nosso beijo cessou, e os selinhos no final anunciavam um próximo. Mas não teve próximo. Eduardo apenas se afastou de mim e foi para algum lugar que não ao meu lado.
- Titia? -Samuel cutucou minha perna e eu o segurei no colo, e ele aproveitou para encostar a cabeça no meu ombro- Você gosta do papai?
- Você promete não contar para ele? -Samuel assentiu- Acho que sim.
- É, eu vi vocês dando beijinho. -minhas bochechas ficaram vermelhas.
- Não... Não é nada... Samuel, esquece o que você viu.
- Ah... mas por que você não vira a minha mamãe? Você deu beijinho no papai!
- Eu posso ser sua mamãe sem estar junto com o seu papai.
- Mas só tem graça juntinhos!
- Então eu sou sua titia.
Samuel bufou e pediu pra sair do meu colo. Tudo bem, eu não ia ficar com Eduardo. Ele era... Ele era tudo que eu não tive desde os sete anos. Pronto! Ele era carinhoso, gentil, amigo, me dava carinho, cuidava de mim, me deu uma cama macia e quentinha, aaaaaa! E meu filho.
- Acho que o Samuca quer que nós dois tenhamos um relacionamento.
- O Samuca não pode me obrigar a ter algo contigo para ser chamada de mãe.
- Não foi o que ele me disse... -O que ele disse então? Que eu sou... tá, apaixonada por você, e você ainda não percebeu que eu te quero em tudo quanto é parte da minha vida?! - Ele falou que viu a gente e que você falou que gosta de mim.
O Samuel é um tremendo de um dedo-duro! Não é justo assim! Ele me entregar desse jeito!
- E o que isso tem a ver? Eduardo, eu não vou cair aos seus pés! E sem contar que eu sou uma...
Ele me calou com um beijo. Parecia cena de filme! E eu derreti em seus braços, dei a ele tudo que eu tinha de melhor, e era pouco. Era o que restava de mim, era dele agora.
- Lili, vamos conversar no quarto?
- A comida do Samuca...
- Ele tá dormindo.
No quarto...
- Eu gosto de você, já deixei isso bem claro. -ele apontou- E você?
- Você ainda não percebeu? Eduardo, com cada gesto você me ganha mais. É com um simpes bom dia que meu coração se enche de vida de novo. É como se eu fosse a Liliana feliz, sem problemas... É a paz!
- Então você...
- Sim, eu amo você. Mas você sabe, eu tenho medo do amor, tenho medo porque eu amei, amei e perdi.
- Liliana...
- Calma. -respirei fundo- O Samuel... o Samuel me mostrou que não é tão ruim assim ter amor na vida, e você... só acrescentou. Mas eu sou uma prostituta, Eduardo...
- Não, não... -ele me interrompeu.
- Sou sim. -respondi, clara do que estava fazendo- Sou uma prostituta, uma mulher da vida que se faz de sexo. Você não merece uma mulher como eu, Eduardo. Merece uma mulher digna, de berço, com muito amor para te dar.
- Não, Liliana. Eu não quero a outra, eu quero você. Olha, senta aqui. -indicou a cama e eu sentei, nervosa- Por que você é prostituta?
- Porque eu não tive idéia melhor para me sustentar aos quinze anos.
- Então você não é por opção, e sim por necessidade. Agora me diz, quem é você na cama de outro homem?
- Ou de uma mulher. -ri baixinho- Ai... Eu sou só uma pessoa gemendo e gozando por dever. Nada que aconteça para que eu faça de verdade. As únicas vezes que eu realmente entrei no clima, foram com dezesseis anos, e eu acabei... -balançei a cabeça- Mas agora com dezoito, com você.
- Então você pode deixar essa vida no seu passado e seguir comigo. Eu não quero te fazer mal...
- Exatamente. Você quer me levar para o Brasil.
- É.
- Não, eu não vou. -cruzei os braços e empinei o nariz.
- Tá, você e o nosso filho ficam. Eu vou arrumar minhas malas e trazer todas as minhas coisas para cá. Aproveito e vejo alguma casa para nós três.
- Ca-casa? Eu v-vou morar contigo?
- Claro! -ri- Casa com piscina, cinema, sauna... Eu quero fazer você feliz. -se abaixou na minha altura e deixou um selinho na minha boca- Te dar aquilo que você merece. -beijou meu pescoço- Liliana, você e o Samuel são a minha família. A única que eu tenho, então, por favor, não me desapontem assim.
- Eu não vou te deixar. -sussurrei, olhando nos olhos dele- Só me promete não me machucar, eu não sei se aguento perder mais alguém.
- Prometo. -beijou o dorso da minha mão.
- Só respeita meu tempo, e... os dias que eu não suportar quem eu fui. E não me julga se eu engravidar, é que eu não posso mais tirar o bebê.
- Peraí. -levantou e eu abaixei a cabeça- Você já fez um aborto?
- Sim. -sussurrei- Dois. São os dois piores dias para mim, mas eu não conseguia ter um bebê, eu não sei cuidar e ele não teria um pai. E eu amo o Samuel, ele é meu filho agora, e preenche meu coração.
- Eu queria matar seus tios agora... por terem te feito passar por tudo isso.
- Eles vão pagar. -sussurrei- Mas eu não me importo mais com eles. Eu tenho você agora, não tenho? -arqueei uma sobrancelha.
- Tem. -beijou minha bochecha- E liga pra sua amiga, agora você fica por aqui.
- A Alana? -Sim, burra, sua única amiga- Ah, então, sobre isso... A Alana... É... vou ligar. -corri para o telefone, mas Eduardo segurou na minha cintura e me fez cair em seu colo, com as pernas abertas encaixadas ao lado de seus quadris perfeitamente desenhados- Eu ligo depois.
Eduardo sorriu e me beijou, com vontade agora, como se não tivéssemos tempo. Então a gente se amou. De todos os jeitos, e mesmo assim sendo iguais. Ah! Doce gosto de amor. Como era bom!
Com ele eu esquecia de tudo, e dava valor ao agora. Eu era muito amargurada, eu vivia triste. Mas eu tinha motivo. Ainda sinto falta dos meus pais, e do jeito que era antes. Mas não volta. O passado nunca volta. É uma pena, eu poderia ter mudado muita coisa. (...)
- Sim, eu vou me mudar para casa dele.
- Lili, somos prosti...
- Não, Alana. Eu não quero mais essa vida de ser explorada sexualmente, me machucar e no final eu sair feito um rato. E eu mereço ser feliz, não é possível que dê errado de novo!
- Não amiga, você tem razão. Quero encontrar alguém assim, que me tire desse inferno, mas tudo que eu tenho é você.
- Vá me visitar sempre! -a abraçei com vontade, já estava morrendo de saudades dela- E meu celular com contatos famosos. -entreguei à ela- Use bem esse presentinho.
- Sim amiga. -ri- Eu te amo. -Me abraçou de novo, apertado e quentinho.
- Eu também amo você. -sussurrei em seus cabelos, odiava despedidas- Quando eu me mudar, levo você comigo.
Despedidas sempre me fizeram chorar, mas dessa vez não era definitiva. Sei tchau para a minha irmã e entrei no carro de Eduardo. Ele ouvia alguma música e Samuel dançava no bancode trás. Soltei um sorriso ao entrar no carro e ele riu também, pegando a minha mão e a beijando. Era diferente, e me deixava muito mais feliz. Meu coração agora pulava de felicidade.
- Nunca reparei nessa cicatriz na sua nuca.
- É... nada.
Nada além de uma facada que levei quando fui... deixa quieto, odeio lembrar.
Seguimos para o nosso apartamento e de novo o arrepio na nuca, a sensação de estar sendo sufocada. Mas tudo bem, minha casa agora era aquela. Sofisticada, rústica, moderna e dura feito o corpo de Eduardo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Só mais uma Noite
RomanceEu não espero nada além de respeito. Minha vida era perfeita até eu ficar sozinha. Sozinha e isolada de todos que me fizeram mal, o que não é tão ruim assim. Mas, eu odeio o amor. Todas as pessoas que amei, foram embora, me deixaram. Amor não é comi...