Desconforto

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19° capítulo
Como eu imaginei, a casa está lotada de homens, que bebem, fumam e ainda trazem seus projetos de esposas para zanzarém na minha sala. As mulheres estavam de biquíni, cada um menor que o outro, enquanto o olhar de cada homem que ali estivesse, era para a bunda delas. Até o do meu marido. Sim, eu odiava festas, principalmente porque elas eram muito mal frequentadas. Enquanto eu e Alana vestíamos um vestidinho florido. o meu era bem mais curto que o dela e as minhas costas estavam nuas, se não fosse pela alcinha do sutiã do meu biquíni. Calvin descobriu que Eduardo era o meu marido e quase quis me esganar, pois o patrocínio para a empresa de Calvin o levou para um patamar mais elevado da coisa, e eu poderia muito bem ter feito isso antes.
- Você odeia quando esse povo invade a sua casa, não é? - Alana perguntou, sabendo a minha resposta. Eu assenti, abrindo a porta de um quarto vazio.
- Você sabe que sim. -revirei os olhos- Arrumei o quarto ontem, eu achei bem aconchegante. -respondi, tocando a minha barriga, pela primeira vez- Antes que você faça essa cara de quem diz "Não crie expectativas", a médica falou que tá tudo bem com o bebê, e ele está saudável. Eu sei que eu preciso tomar certos cuidados mas... a médica me deu a chance de sonhar, Alana. -segurei nas duas mãos da minha amiga- E eu quero agarrá-la.
Alana me deu um abraço apertado. Senti suas lágrimas e ouvi ela dizendo que dessa vez, iria dar certo. Descemos, e agora eu estava apenas de biquíni. Fui para o quintal, olhei para Eduardo e quando ele me viu... seus olhos se encheram de fogo. Ele ainda me desejava... Desviei o olhar e sentei na beirada da piscina, ficando com a coluna ereta, porque quando eu deixava escapar, a minha barriguinha aparecia.
Senti o toque das mãos do meu marido e virei o rosto. Ele sorriu para mim. Escorreguei para a piscina e ele mergulhou, dando início a uma série de pessoas entrando dentro da minha piscina.
- Eu estou morrendo de saudade, Lili.
- Eu também. -rocei nossos lábios- Eu te... -puta merda! Não sai!- Você sabe.
- Sei. -sorriu de lado, meio triste e colocou a mão na minha cintura- E se eu te pedisse agora, uma prova do que você sente por mim, o que eu ganharia?
Um filho. Eu quis dizer.
- Você me tem aqui, toda para você, porquê eu me doei por inteira a essa paixão.
- Ah Liliana... como eu amo você!
Última coisa que ele disse antes de apoiar minha nuca entre suas mãos e me beijar com todo o amor, e carinho do mundo. Na frente de todos, e quando separamos nossos lábios, minhas bochechas ficaram rosadas demais, tanto que precisei mergulhar novamente para que a água gelada resfriasse minhas bochechas quentes.
O dia correu como eu esperava. Todos se divertindo, dançando, as mulheres rebolando e os homens num grupinho jogando baralho e falando alto. Samuel e Bia ficaram comigo, rindo das bobagens que Samuel mostrava no celular. Boa era como uma filha para mim, embora ela achasse melhor eu considerá-la como minha irmã. Sempre que possível, estávamos juntas e eu roubava ela do Samuel.
- Eu acho que a gente poderia ir num show. -Bia falou.
- Tem show do Matheus e Kauan aqui na Barra mesmo, hoje. - Samuel falou, abraçando Bia pela cintura.
- Tem ingresso? -perguntei, curiosa.
- Hmm! Sogrinha pensando em sair de casa!
- Só curiosidade. Faz tempo que não saio.
- Tem ingresso sim. - Samuel disse, me mostrando o celular. Vamos mamãe e momolada?
- Eu topo! -Bia falou, gargalhando- Vem tia!
- Compra o camarote para mim, não gosto de ficar no meio do povão. -falei, convencida de que era loucura sair, mas eu precisava me divertir.
- Sim senhora. - Samuel sorriu, finalizando a compra, e rindo por finalmente conseguir me fazer sair de casa.
Mais tarde...
- Ideia de louco vir nesse show. -falei sozinha, bem baixinho, me acomodando na parte da frente do camarote. Samuel e Bia foram para a pista, e duvido muito que foram para assistir o show.
Eu escolhi uma saia preta de couro, uma blusa da Adidas e o tênis das mesmas cores do look. O cabelo solto, uma maquiagem que destacava meus olhos e um batom mais fechado. Aquela foto bem tirada pela minha nora para postar no meu Instagram, que eu usava para a divulgação do meu trabalho. Durante esses anos nas passarelas, acabei me tornando bem conhecida, e isso explica o fato das pessoas ao meu redor ficarem pedindo foto. Claro que eu tirava, pois ingressos do camarote não tinham esgotado e estava bem tranquilo ficar ali.
Tá, eu não sabia curtir um show. Mas aprendi assim que ele começou. Nunca me diverti tanto numa noite depois que comecei a vida de casada -tirando o episódio em Dubai, que eu e Eduardo transamos num dos pontos turísticos, e quase fomos pegos, mas enfim, sem mais explicações-. Cantei a maioria das músicas e quase reclamei quando o show acabou.
- Mãe! Que show!
- Muito bom, não podia ter perdido! -entrei do lado do motorista- Eles podiam ter filmado vocês dois, só para eu saber como estavam. -falei brincando.
- A gente curtiu muito tia! -Bia gargalhou- Até demais!
- Imagino... -falei, dando partida no carro.
Voltamos para casa rindo, compartilhando nossos pontos de vista do show. Quando abrimos a porta, Eduardo dormia no sofá, com a casa toda fora de ordem e pratos espalhados por todo canto.
- Quer que eu acorde ele, mãe?
- Não Samuca. -falei, revirando os olhos- Pode deixar comigo.
- Ajuda a sua mãe, criatura. -Bia disse, dando um tapa de leve no braço de Samuel.
Agradeci com um olhar e acordei Eduardo fazendo carinho em seu cabelo, e precisei de Samuel para levá-lo para o quarto, já que eu estava evitando abusar da minha boa vontade. O cobri com a coberta e fiquei olhando ele dormir, com um sono pesado, mas estava relaxado. Fiz carinho em seu rosto, tentando entender por que ele tinha se tornado tão seco e insensível ao longo dos anos. Eu ainda o amava como se fosse nosso primeiro mês de namoro, ou ainda a nossa primeira noite juntos. Meu corpo ainda reagia aos seus toques, e eu ainda amava seu jeito de me beijar. Eu só não sabia dizer. Eu gostava de mostrar... e mostrei isso, ou melhor, estou mostrando isso a cada dia que consigo manter meu bebê comigo. É a minha maneira de dizer eu te amo. É o jeito que eu consegui demonstrar que eu faria tudo por ele, mesmo não tendo a mesma certeza se ele faria isso por mim.
Acabei adormecendo ao seu lado, sem tomar banho, mas satisfeita com o meu dia. (...)
- Mãe?
- Sim? -as voz terna e doce me acolheram em um abraço invisível.
- Me ajude... não sei como vou fazer isso sozinha. Eu não sei se consigo... não quero perder...
- Minha querida menininha... Eu e seu pai estamos muito orgulhosos de você. Sozinha você nunca estará... nem quando achou que estava, minha menina. -sua mão enveludada acariciou meu rosto- Eu sinto muito... não pude te defender, eu não sabia que eles iriam te fazer sofrer tanto assim...
- Mamãe, eu estou bem agora... Eu amo muito a senhora...
- Eu também te...
Acordei com um pulo da minha cama, com a mão no peito, olhando ao redor, assustada demais para pensar em qualquer coisa que não fosse o meu bebê. Olhei a cama, não tinha nenhuma marca de sangue, nem a minha calçinha. Respirei fundo e corri as mãos pelo fecho da saia, a abrindo. Tirei também a blusa e fui para a frente do espelho, ver o que tinha acontecido comigo. Não naquela noite, mas sim com o meu corpo. A barriguinha estava mais para frente e um pouco mais arredondado.
Minhas mãos pousaram em cima da barriga, acariciando e aproximando mais a relação entre eu e o meu bebê, que eu estava me aproximando aos poucos.
Tomei um bom banho, vesti uma roupa mais colada ao meu corpo e tentei colocar meu short favorito. Mas ele não entrou. Ah... bendito bebê. Escolhi outro, mais larguinho e consegui passar pelas pernas, agora mais grossas. Desci para o café da manhã, encontrando Eduardo com uma cara de poucos amigos, enquanto Samuel e Bia riam feito bobos.
Beijei o topo da cabeça de Eduardo, e as bochechas dos apaixonados ali. Falei um bom dia, mas só os dois pombinhos me responderam. Sério, Eduardo já estava me tirando do sério com aquele mau humor irritante de todo dia. Meu marido não sorria!
- Não sei porquê dormiu comigo.
- Porque você é meu marido. -revirei os olhos- Se quer saber, eu não me importei com o seu cheiro de bêbado e nem de ter pedido ajuda para levar um molenga para cama.
- Se estivesse tão ruim, você já teria me jogado para fora de casa.
- Acontece que, um casamento é feito de conciliação, coisa que você não tenta, nem se esforça para conseguir entre nós. Eu não sou sua boneca, Eduardo. Eu tenho sentimentos.
Ele se calou. Eu belisquei a minha salada de frutas, porquê ele tinha conseguido acabar com o meu dia. Belisquei o almoço, no café eu quase nem comi. Mas a janta... simplesmente ele começou a brigar comigo. E eu estava cansada de tantas brigas.

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