It's a girl!

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20° capítulo
- Liliana, você virou um fantasma dentro dessa casa.
- Não, eu não virei. -trinquei os dentes- Você que me faz de palhaça. Você que pensa, pior é trazer aquelas mulheres semi-nuas para a minha casa e depois dormir na mesma cama que eu. Ou você perdeu o respeito?!
- Ah, Liliana, me poupe. O que você fazia em Nova Iorque é bem pior do que as mulheres que...
- Eu nunca fiz porquê quis. -me alterei a voz ficou bem mais alta do que eu imaginava- Você, mais do que ninguém, sabe disso.
- Eu prefiro comer calado. E você, coma.
- Eu não quero comer.
Eduardo deu de ombros e eu ia, ia morder o pedaço de carne quando ele falou:
- Você não conseguiu nem segurar um filho.
Aquilo me atingiu com tanta força, que eu queria poder cravar a mão na cara dele. Mas seria pouco, seria gasto de energia desnecessário. Eduardo me machucou com as palavras, rudes e frias. Me atingiu no meu ponto fraco.
- Você não soube fazer direito.
Samuel tossiu evitando esconder a risada, mas eu vi seus lábios tremendo. Eduardo ficou puto da vida. Foi bem legal não medir palavras. Acho que quero tentar mais vezes.
- Não foi isso que seus gemidos me disseram, Liliana.
- Galerinha, eu não preciso saber o que acontece no quarto de vocês.
- Seu pai, que é um insensível.
- Insensível por sua culpa! -ele explodiu- Você tirou tudo de mim, todas as minhas esperanças, meu sonho! Eu tentei compreender você, tentei colocar na minha cabeça que você não tinha culpa de ter ficado grávida do mesmo idiota duas vezes e que a culpa por você não conseguir ter um filho, era por causa do babaca do cara que não soube nem fazer um aborto direito. Liliana! Eu me casei com você porque eu te amava. Desde aquela droga de elevador se abrindo e você literalmente caindo nos meus braços. Só que o tempo passou e meu sonho foi indo pelo ralo. Cada bebê que nós perdemos, cada lágrima que você não me mostrou e cada filho que eu tenho certeza que você me escondeu... tudo para que eu me tornasse frio, sem sentimentos. Você acabou comigo...
- Eduardo, eu estou grávida. -falei baixinho, sem coragem de emcará-lo.
Samuel engasgou, e olhou para mim, bem séria. Eduardo continuou falando e falando e confirmando seus argumentos, enquanto eu estava com uma mão na barriga e a outra mexendo no jantar. Quando ele resolveu ouvir o que eu disse, ficou em silêncio.
- Daqui a dois meses, como sempre...
- Eduardo, eu estou grávida há 14 semanas. E três dias, caso queira mais exatidão.
- E isso equivale à...
- Três meses, duas semanas e três dias. -Samuel e Eduardo ficaram em um silêncio absurdo- Caso se interesse, eu descobri há três dias, porquê você fez um comentário sobre o meu peito. Fui na médica, e ela falou que o bebê... ele tem grandes chances de sobreviver. Eu só não posso me estressar, nem... ser tratada desse jeito. Se me der licença... -levantei, mas ele segurou o meu pulso.
- Eu não quero esse bebê.
- Eu não fiz ele sozinha.
- Não me importo.
- Então não me enche.
Sai da mesa e me tranquei no meu quarto. Sim, parecia infantil, mas eu estava tão acabada emocionalmente, que eu prefiri assim. Minha mãe me prometeu que estaria tudo bem, que ia dar certo... Mas na verdade está tudo uma merda. E sim, eu estou chorando enquanto conto isso. Eu não esperava que Eduardo agisse de modo diferente, mas que não fosse tão rude, pois, pelo que ele mesmo escreveu, ele queria esse filho tanto quanto eu.
Meu celular tocou, era Calvin. Atendi, engolindo o choro e tentando não parecer triste na minha fala.
- Apareceu um desfile muito importante na SPFW. Você vai com a gente nessa, não é?
- Se você aceitar uma modelo grávida...
- Ah, Lili... -disse com a voz carinhosa- Seu bebê não é, nem nunca vai ser um problema. E não faz essa vozinha triste...
- Você sabe que eu aceito. Não importa o preço, na verdade, o que eu mais quero é ficar longe de casa.
- Brigou com o Dudu?
- Você imagina alguma coisa diferente?
- Não. -riu baixinho- Arrume suas malas, pois, voia'lá, vamos para Paris assim que o desfile acabar. Ou você esqueceu da premiação da sua coleção?
- É sério que eu vou? -me animei- Já estou indo me arrumar!
- Seríssimo monamur. O vôo sai amanhã, às onze da manhã. Te busco aí. Beijos. -desligou.
Assim que desliguei, encostei a cabeça na parede e coloquei a mão livre na barriga. Era eu e ele. Ou ela. Sorri, e talvez, pela primeira vez eu me vi livre e sorrindo para a minha própria vida.
Arrumei as malas, e coloquei meu teste junto comigo. Eu tentaria descobrir o sexo por lá mesmo para ver se eu conseguia comprar alguma coisinha bonitinha para o meu bebê. Bem... Eu estava bem feliz com isso. Esvaziei meu guarda-roupa de inverno, Paris era muito frio e eu não estava disposta a congelar.
Dormi sozinha, e dei graças à Deus que Eduardo não estava em casa quando dei um tchau para Samuel e para Bia, que me mimou até eu fechar a porta. Alana e Calvin me receberam de braços abertos e eu amei saber que eles iriam me ajudar com qualquer coisa que eu precisasse.
- Meu amor, estou com saudades da sua barriga.
- Sonhe! Não estou muito disposta a enfrentar outra gravidez. -riu- Quero cuidar da minha amiga agora. -apertou a minha mão.
Fomos brincando durante todo o vôo. Foi divertido chegar em São Paulo em vinte minutos. Eu só precisava dormir.
Acordei com aquela correria clássica de todo dia antes do desfile. Fui maquiada, e vestida, antes de receber uma mensagem de Eduardo. Era um "Arrasa Lili". Não respondi, mas fiquei feliz de que ele se importou ao menos em me desejar um bom desfile.
A minha barriga se escondeu, e eu achei graça do bebê saber que a mãe iria precisar dessa forçinha. E então, Calvin deu início ao desfile. Últimos ajustes, carão para as fotos e carinho no bebê. Subi para a passarela e, respirei fundo antes de entrar. Era sempre uma sensação nova, mas dessa vez era totalmente diferente. As luzes, as pessoas, até eu. Mas tudo bem, foco no trabalho e dê o melhor de si.
E lá fui eu. Começando com o pé direito, olhando reto e balançando os quadris apenas com o passo. Passos bem firmes e o olhar sério, principalmente o carão para a foto, onde parei e encarei a câmera como se fosse um desejo incontrolável de ser controlado. Um pouco confuso, mas, sincero. Voltei no mesmo passo, sentindo os flashes e... para que tantos flashes? Meus olhos ficaram turvos, às vezes mais claro, e ficava alternando até eu chegar ao camarim, onde tudo apagou de vez. (...)
- Graças aos céus! Liliana você está bem?
Meus olhos foram se abrindo lentamente, até eu relaxar nos braços do médico que media minha pulsação.
- Acredito que sim. -o médico falou por mim- Só está muito cansada e... tonta?
- Um pouco. -respondi, fechando os olhos novamente.
- Alana, por favor, deixe-a descansar bastante, mantenha sua amiga hidratada e talvez, longe das passarelas.
- Mas... Mas... -murmurei.
- Se assim for melhor, tanto para você, quanto para o seu bebê... você vai se afastar sim.
Murchei no colo do médico, que riu, fazendo carinho na minha barriga.
- Já está bem redonda... -subiu a saia do vestido- Com licença. -sorriu de lado. Seus dedos pressionando as laterais da minha barriga, e esticando os lábios com um sorriso ao sentir algo- Creio que está esperando uma linda garotinha. Não te conheci antes, mas posso ver o formato redondo do seu rosto, e suas curvas mais... -forçou a garganta- Meu olhar é o mais médico possível...
- Está tudo bem. -Sorri para ele. Há tanto tempo não era tão bem tratada assim por um homem... que quase estranhei tamanha bondade.
- Sempre acerto nos meus chutes. -sorri de lado- Quero que me conte qual é o sexo do neném assim que descobrir.
- Contarei assim que compartilhar seu número comigo. -nós rimos.
Assim que saí do evento, fomos direto para o aeroporto, e embarcamos no avião indo para a França. Antes de decolar, porém, mandei uma mensagem para Eduardo. Respondi que o desfile foi lindo, e que agradecia pelo seu carinho em me desejar uma boa sorte.
Ele me respondeu com um coração e um áudio. Abri a bolsa, procurei meu fone e conectei ao celular assim que achei.
- Eu vi pela televisão. -ri- Mas por que, no final, você parecia estar passando muito mal?
Digitei: Eu realmente passei mal.
Ele digitou: O que você sentiu?
Digitei: Muita tontura. É normal nessa fase.
- Por favor, desligue seu telefone. -disse a aeromoça.
Gravei um áudio.
- Amor, preciso desligar, o avião vai decolar, beijo.
Enviei e desliguei o celular. Então me toquei do que eu tinha dito. Eu tinha falado... aí meu Deus. Eu tinha chamado ele de amor... aí meu Deus... pela primeira vez! Como será que ele vai reagir? Será que vai me dar uma resposta... eu chamei ele de amor!
- Lili, que foi? Está afobada demais.
- Mandei um áudio chamando o Eduardo de amor.
Alana abriu um sorriso lindo e me abraçou.
- Você vai vencer todos os seus medos, pode ter certeza. -sorriu, prendendo o seu cinto e apertando sua mão com a minha. Assim que nos estabilizamos no ar, eu caí no sono, descansando tudo que o médico pediu para que eu descansasse. Ao pousarmos em Paris, coloquei meu casaco e Calvin me arrastou para que tirassemos as fotos de um dia de turista. Eduardo já tinha me levado à Paris, mas eu amava aquele lugar. Em falar em Eduardo...
- Fiquei sabendo que o avião da modelo Liliana Lovatti pousou em segurança em nada mais, nada menos que Paris. -falou assim que atendi o telefone, num tom brincalhão.
- Já fiz algumas fotos. -comentei, passando em frente a uma loja de produtos para bebês- Agora estou passeando e... bem, entrando numa loja de bebê, se quer saber a verdade.
- Eu pensei bem no assunto.
- A distância fez você pensar melhor?
- Espero que me perdoe. -suspirou- Sinto muito por ter... eu quero tanto esse filho, Liliana, tanto, tanto que queria estar com você aí, mimando e aproveitando cada segundinho com a sua barriga. -Sorri do outro lado da linha, tocando num sapatinho de lã com laçinho rosa por cima. Era a coisa mais linda do mundo- Ah... meu amor, como fui burro. Tudo que eu mais queria era estar com você, aproveitar com você e a única coisa que fiz foi brigar com o único amor que eu tenho.
Suas fungadas revelavam o quão abatido ele estava.
- Lili... - Ah como eu amava quando ele me chamava assim...- Que dia você volta?
- Não sei. Vou desfilar em quatro eventos importantes, e depois fazer alguns catálogos. Foi o acordo do contrato. -sorri, pagando o sapatinho- Bem, agora estou indo para uma clínica... Aqui as coisas são mais avançadas, e dependendo da posição, eu consigo ver o sexo do nosso bebê.
- Quero que grave o momento.
- Ficarei feliz. -sorri, entrando na clínica que eu já tinha marcado a consulta- Beijo, daqui a pouco te ligo.
- Vou ser o pai mais babão, e mais presente.
- Eu fico feliz em ouvir isso.
Então desliguei, sentando e esperando a minha vez. Estava ansiosa, mas feliz. A secretaria me chamou, e eu fui, com o meu perfeito francês, pedindo para gravar o momento que ela me contasse qual o sexo do meu bebê. Claro que ela aceitou. Posicionamos o celular e colocamos para gravar cada segundinho. Ela passou um gel, que arrepiou a minha pele, e me fez rir com a sensação.
- Seu bebê está bem adiantado na posição, mas consigo ver perfeitamente seu sexo. -sorriu de lado, com o francês mais claro que já ouvi- Olhe só! -sorriu- Quer mesmo se mostrar!
- Diga-me, qual o sexo! Estou tão ansiosa!
- É uma menina!
Meu coração acelerou, lágrimas subiram aos meus olhos e eu sorri como nunca. Minha garotinha. Minha menina, como eu estava grata!
- Devo lhe dar os mais sinceros parabéns e dizer que, pelo seu histórico, sua menininha tem grandes chances de sobreviver. É um milagre.
Pude ouvir o coraçãozinho da minha menina e o quão agitada ela estava. A médica desligou o monitor, me limpou e eu olhei para câmera e mandei um tchauzinho animado, mandando um "Oi papai! Somos suas garotas!". Finalizei o vídeo, me despedi da médica e voltei para o hotel, ligando para Eduardo na mesma hora.
- Sim, meu amor?
- Dudu! Dudu! -falei na chamada de vídeo- Olha, olha como estamos! -virei de lado, levantando a blusa de lã que eu usava, mostrando a minha bolinha- Consegui descobrir o sexo. -falei, vendo ele chorando do outro lado da tela- Quer saber, ou quer que eu faça uma surpresa para quando eu chegar?
- Quero que me conte agora! Quero arrumar a minha vida para esse filho, Lili. -sorriu.
- Estamos esperando uma menina, amor. -e derrepente eu tampei a boca, enquanto ele pulava na cama e comemorava com o meu porta-retrato.
- Óbvio que eu vou agarrar vocês duas! É tudo que eu mais quero, Lili!
- Desculpe não ter conseguido... antes.
- Me perdoe... me perdoe com todas as suas forças, minha linda. Eu devia ter te levado num médico, mas eu fui fraco. Eu coloquei a culpa em você! Em você!
- Dudu... esquece, eu estou feliz, muito feliz. - Sequei minhas lágrimas- É nossa. -acariciei a barriga.
- Eu estou tão orgulhoso... tão feliz!
- Pai? -ouvi a voz de Samuel e sorri para a câmera.
- Vem, filho! Sua mãe está falando comigo! - Samuel correu para a frente da câmera do computador e sorriu emocionado ao me ver mexendo na barriga- Meu sonho bem ali... em Paris!
- Mãe! A senhora está linda! E a barriguinha, tem dono ou dona?
- Tem dona. Você vai ter uma irmã, Samuca. -falei e ele pulou de felicidade- Quero que cuide dela, que a proteja... e que comece a treinar para meus netinhos. -sorri- NÃO! -gargalhou- Nem pense em começar a procriar agora! Você não devia nem estar em fase de testes!
- Mãe! -as bochechas de Samuel ficaram vermelhas e ela riu- A senhora deveria ser mais gentil com o seu filho maduro.
- E irresponsável! -ri- Ah Samuca... como eu sinto falta de você sendo apenas uma criança!
- Você e o papai podiam usar a madrugada inteira se quisessem que eu não iria nem ouvir. Mas parece que o jogo virou, não é mesmo?
- Samuel! - Eduardo lhe deu um beliscão e eu ri, mas parei ao sentir uma pontada- Está tudo bem? -perguntou preocupado.
- Está. -sorri de lado- Só saudade.
- Eu também. -Eduardo falou- Você foi embora sem nem se despedir...
- Não se esqueça de que você foi um canalha comigo. Então, não me culpe.
Nós rimos mais um pouco, antes de desligarmos. Fiquei um bom tempo acariciando a minha barriga, conversando com a minha filha e brincando com os seus novos sapatinhos. Eu estava mais feliz em relação a gravidez, e louca para que eu ficasse logo com aquele barrigão... Sonhos, não é mesmo?

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