Por que ele?

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3° capítulo
Eu não esperava tal comportamento. Ele sabia o meu nome, onde eu morava, que eu odiava que tocassem nos meus seios, e principalmente, quem eu era. Não, isso não está certo! Eu deveria saber tudo sobre ele, afinal, ele é meu cliente. Ou era. Ou finge que não é.
Eduardo viu que eu fiquei perplexa diante da situação. Ninguém sabia quem eu era. Eu só prestava serviços sexuais e ia embora como uma verdadeira puta. Mas ele me fez dormir em sua cama, acordar em seus braços e me sentir... acolhida, amada por ele, saber que eu ainda o tinha.
- Liliana, eu posso explicar... -eu o calei com um movimento de mão.
- Eduardo você não deveria nem saber onde eu moro. -suspirei- Ainda bem que eu esqueci de pagar, vou me mudar e você vai esquecer de mim, principalmente do meu nome.
- Por que você não o diz? É tão bonito!
- Porque me lembra toda a merda que eu era antes! -gritei, num português sofrido, num apelo de carinho, numa súplica de ser acolhida pelos braços de alguém e me sentir em casa. Era isso que eu sentia quando estava perto de Eduardo.
- Então você entendeu o que...
- Quem é você? -o interrompi- Veio investigar a minha vida, fazer dela mais uma bagunça e ir embora?
- Não, Liliana. Eu era amigo dos seus pais quando criança. Soube que você tinha vindo para cá pelos seus tios, que por sinal, realmente te odeiam. Então eu vim. Eu precisava ver que uma parte tão amada pelo seu pai e pela sua mãe estava viva e bem longe da trote vida que ela levava. Mas eu não posso te ver vivendo como uma dessas mulheres da vida, pedindo sexo e se doando para qualquer um. Vim te tirar dessa loucura, pronto.
- E se eu não quiser sair? -Na verdade, o que eu mais queria era isso, fugir. Minha oportunidade estava ali, parada na minha frente.
- Eu te arrasto. Eu te vi crescer, menina. Tenho vinte e oito anos nas costas, me respeite! -riu.
- E como... como meus pais...
- Seus pais levaram um susto quando sua mãe ficou grávida de você. Liliana, você sabe que seus pais não tinham dinheiro para quase nada, então um bebê era sinônimo de gastos a mais. Seu pai trabalhava de cinco da manhã às uma da madrugada. Sua mãe costurava para fora e ganhava um bom dinheirinho para ajudar com os seus futuros gastos. Quando a barriga aumentou, sua mãe não conseguiu mais trabalhar, e ficou tricotando suas roupinhas. Seu pai quase surtou ao chegar em casa e te ver nascendo. -ele parou para soltar uma risada viva- Sua mãe estava com a parteira e ele segurando a mão dela, morrendo de nervoso do bebê a vir. Mas foi amor à primeira vista. Você sempre foi amada pelos seus pais, Liliana. Não ache que está sozinha, pois não está. -segurou na minha mão- Eu estou aqui, e prometo cuidar de ti.
Como um consolo, deitei no peito de Eduardo. Ele ficou fazendo carinho nos meus fios, cantando baixinho uma música que a minha mãe cantava para mim.
- Por que você me levou para cama? -sussurrei.
- Porque eu precisava te conhecer, saber seus medos. -suas mãos passaram para o fecho do meu sutiã, abrindo-o- Mas eu quero ser mais que esse seu bom amigo. -tirou minha camisa, revelando meus seios arrebitados.
Ele me beijou com vontade, feliz, carinhoso, amigo. Eduardo era o meu passado. Minha vida desenhada por ele era tão linda quanto seus olhos e a verdade dita neles. Um elo que me ligava as raízes férteis, que dizia sobre o meu eu tão intenso.
Tirei sua camisa, me perdi nos seus cabelos e conheci o que era ser amada. Eduardo era carinhoso na cama, me tratava como... eu. Ele sabia tudo que eu era, e não me julgava por ter escolhido esse caminho.
Borboletas no estômago, um calor diferente, um novo eu. Meu coração começou a bater rapidamente, dizendo incessante "você".
Meu Deus. Eu estava... não... Mas eu mal o conheço!
Aceitando os fatos, reconheci que sim, eu estava apaixonada por ele. Mas isso era o amor? Ou só uma parte fracionada dele? Se for, eu sei descrever. É uma chama. Ela só vai aumentando e aquecendo os lugares mais frios que existe em você. Derrete teu peito, acalma a alma, relaxa e vive. Isso é... bom... o amor.
- Você quer ir embora para o Brasil comigo? -Eduardo falou, parando nosso beijo tão "apaixonado".
- Brasil? -respondi assustada. Voltar para lá seria voltar para aquele inferno que era viver com os meus tios- Sinto muito, não... posso. -sentei no sofá, cobrindo meus seios.
- Liliana, eu preciso voltar. Minha vida é toda lá.
- Então volte. -sussurrei baixinho.
- Sem você? -ele se ajoelhou no tapete da minha sala, sob os meus pés- Não dá. Se você ficar, vai precisar sobreviver, e eu tenho certeza de que vai voltar para a prostituição.
- Não vai fazer diferença alguma. -dei de ombros, vestindo o meu sutiã e deixando os braços livres- Eu não vou voltar para o Brasil.
- Liliana, claro que vai! Você não merece! Eu tô tentando te tirar daqui!
- Para o Brasil eu não volto nunca mais. -levantei, o deixando sozinho na sala e indo pegar alguma coisa na cozinha.
- Tá. Te dou dois dias para você pensar. Volto aqui no domingo.
- Você já tem a minha resposta: não. -fui seca, curta e grossa.
- Até domingo.
Eduardo se vestiu e saiu batendo a porta, não com muita força, mas o suficiente para dizer que estava irritado. Assim que a tranquei, fui para o meu quarto, refiz as malas e juntei todas as minhas coisas em caixas de papelão. Eu amava o meu apartamento, mas não dava mais para ficar ali, muito menos depois que ele descobriu o meu endereço.
Já era nove da noite quando eu organizava minhas coisas na república aí me acolheu no primeiro dia em que decidi ser prostituta. Lá as meninas eram iguais a mim: sozinhas.
Meu quarto ainda estava lá, meio empoeirado, meio sujo, mas estava lá. Passei pano no chão, tirei a poeira da cama, abri bem a janela, e abri o velho guarda-roupa. Meu velho amigo ainda tinha meus tubinhos e minhas saias que não passavam de um palmo de comprimento. Eu não sei se meus clientes ainda me queriam, nunca fui desejada por ninguém, imagine... eu quero você, Liliana.
Eduardo. Eduardo me desejara. Ele se deu o trabalho de gostar de mim. Não. Ele só queria me levar para o Brasil de novo.
- Você está tão tristinha... -Alana disse, num português claro e que eu não ouvia há tempos. Tirando o fato de Eduardo falar comigo minha língua nativa.
- Acho que...
- Você se apaixonou?! -Ela se alarmou, surpresa, mas feliz.
- Não! Nunca! Alana, eu... acho que vou voltar para as ruas com vocês. Não é justo eu... -meu telefone profissional tocou. Era o advogado gostoso que me contratou uma vez.
- Atende, gata. Marca pra hoje! -Alana riu e eu mostrei a língua, atendendo o telefone. Marquei para daqui a quatro horas e Alana quase pirou com a notícia. Não havia pessoa mais feliz que ela nesse mundo, mesmo levando a vida assim. Alana gostava de ser desejada, comida pelos olhos.
Inclusive, minha única amiga.
Amiga esta que me ajudou a escolher uma roupa, um salto, uma calçinha e um sutiã. O cabelo foi todo ondulado por ela, com suas mãos de fada encorpando meu cabelo, agora cheiroso e macio.
- Gata! Chegou chegando hein?! -riu- Acho que eu nunca vou dar certo nessa vida de dar só para a alta classe. Olhe para você! Você é linda!
- Você também é linda! -peguei minha bolsinha de mão- Agora, preciso ir.
- Vai e arrasa! -deu um tapa na minha bunda enquanto eu me virava para sair. Logo, antes de chegarmos no portão, ela segurou no meu braço e olhou no fundo dos meus olhos.
- Não esquece da camisinha. Não vou suportar te ver sofrer daquele jeito de novo.
- Relaxa. Anda sempre comigo.
Acenei para um táxi e dei o endereço do hotel. Logo que minha entrada foi aceita, corri até o elevador, louca para que acabasse logo.
Porém dei de cara com Eduardo, e a a gente se encarou sim. Nos julgamos um pouco. Mas eu não tive tempo de correr. Ele segurou meu cotovelo com suas mãos fortes e me trouxe para o elevador.
- Me solta! -eu me sacolejava em seus braços, enquanto ele apertava o botão de algum andar que não era a cobertura.
- Por que você não estava no seu apartamento?
- Porque eu não moro mais lá! -tentei sair dos braços de Eduardo, mas ele era forte, forte e sabia bem onde prender uma mulher.
- Você vai para o Brasil.
- Não, eu não vou. -soltei, irritada, séria, e livre de seus braços que queimavam minha pele, mas de um jeito bom.
A luz se apagou, e no instante seguinte algo macio me acolhia. Escuro. Presa dentro de um elevador. Com um homem que... me fez gozar. Muito, muito arriscado.
- Me diz o por quê.
- Eu odeio. Odeio escuro. Odeio essa escuridão. Machuca meu peito.
- Liliana...
- Não fala o meu nome!
- Por que?! Por que você nunca deixa eu fazer...
- Porque eu odeio meu nome, e tudo que eu perdi com ele!
Nós dois ficamos em silêncio. Acho que um apagão tomou conta da cidade inteira, já que não havia em uma frestinha de que havia luz nos outros lugares de Nova York.
- Psiu... -ele colocou sua mão em meu queixo, o elevando para cima, já que eu era bem mais baixinha que ele, e me fazendo olhar no fundo daquelas íris de esmeralda flamejantes- Não precisa ter medo. -Sim, preciso. De você. E desse formigamento esquisito no meu queixo- Daqui a pouco alguém conserta, e a gente volta, cada um para o seu rumo, não foi sempre assim?
Um aperto no peito de seguiu depois que ele disse isso. Não Eduardo. Não foi sempre assim.
- Talvez. -respondi, contrariando minha cabeça.
Sem falar nada, ele beijou o canto da minha boca e logo depois a tomou para si.  Uniu nossos lábios e nossos corpos como um só. Então veio o formigamento de seu toque, os olhos fechados durante o beijo, minha mão tocando seus braços e seus braços rodeando minha cintura com propriedade. Depois, o sentimento de borboletas no meu estômago, batendo suas asinhas felizes. O nervosismo.
Então, nós paramos o beijo, tomamos um fôlego e nos encontramos de novo. Minhas mãos subiram, se encontrando na nuca de Eduardo, que desceu suas mãos para a minha bunda. Agora eram novas sensações. As borboletas do meu estômago agora tinham aumentado seus batimentos, as pernas bambas, a vontade idiota de sorrir, a vontade de tê-lo somente à mim e eu ser sua. Somente sua.
Parando o beijo pela segunda vez, após alguns selinhos, nós nos afastamos, cada um em cada canto do elevador.
- Há alguém neste elevador? -Uma vozinha saiu do rádio- Aperte o botão abaixo. -Eduardo apertou e disse que havia ele e uma mulher ali dentro. O funcionário explicou que o gerador e o elevador em que nós estávamos tinha pifado e que demoraria mais ou menos uma hora para consertar. Ótimo. Presa com ele.
- Quero marcar com você. Um dia para seus serviços.
- Que dia você quer?
- Tanto faz. -deu de ombros- Amanhã, depois de amanhã...
- Uhum. Amanhã. -o ar naquele lugar era rarefeito. Certeza. Pois me faltou muito dele.
- Você está indo para um de seus programas, né? -ele perguntou, meio... triste, por mim.
- É o que eu faço da vida. -dei de ombros- O preço diminuiu também, já que o aluguel agora é mais em conta.
- Guarde o desconto com você. -me entregou um bolo de notas de cem. Reais. Uau!- Use quando quiser. Você tem aí dez mil reais.
- Você não precisa me dar tanto assim! -devolvi mais da metade para ele, que não aceitou, como sempre.
- Esse valor aí você pode utilizar para apimentar nossa... reunião amanhã.
- Alguma exigência?
- Quero você nua, assim que chegar no meu apartamento. Fique com a chave reserva. -me entregou uma chave pequena, prata e escrita "Apto. 201".
Bom, nua? Nua não incluía meus seios, incluía?
O elevador voltou a sua rotina e eu enfim pude subir para a cobertura.
- Mil desculpas, o elevador...
O safado me agarrou, jogou no sofá, abriu minha saia, rasgou minha calçinha e meteu seu membro, com força, com ódio. Fui obrigada a gemer, e fingir que estava gostando daquela invasão. Ele parou um pouco, mas ainda enterrado dentro de mim, pegou um copo de whisky, colocou um pouco do conteúdo na minha boca e o resto na minha vagina, o que funcionou. Eu gemi. Como meus clientes tinham prazer em me ver gozar, começei a rodear meu clitóris com o dedo até chegar ao meu clímax e fazer o idiota se achar fodão por ter me feito gozar. Pura mentira.
Depois, saí de lá correndo, como sempre com o cliente dormindo. Exausta do jeito que eu estava, fui para a minha casa, tomei um banho e deitei para dormir. Minha paz estava ali, dormindo. Era ali que os meus pais viviam, me davam carinho, conversavam comigo e me julgavam na maioria das vezes, por ser quem eu era. Nos meus sonhos, eu vivia feliz. Mas naquela noite, não foi bem assim.

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