SOCORRO!

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14 ° Capítulo
Coloquei a bendita lingerie e fiz as fotos. O catálogo de hoje era para a Lupo, uma marca de roupas para acadêmia, pijamas, e calçinhas, sutiãs e cuecas. Eu faria a parte das lingeries com o homem que se achava o gostosão. Deixei minha aliança dentro da bolsa e fui para o set de fotos. Foi normal enquanto estávamos em pé, depois que fomos indicados ir para a cama.
As poses se tornaram bem mais sensuais, tanto da parte dele, como a minha. Porém eu não estava provocando, ora bolas, eu sou casada! Eu estava sentada em seu colo, com as costas coladas na dele, quando senti seu pau criando vida. Droga, mais um! Ele gemeu no meu ouvido, beijou o meu pescoço e o idiota do fotógrafo ainda dizia "isso, assim!". Virei de frente para que ele parasse de me beijar, porém suas mãos desceram da minha cintura, e foram parar na minha bunda. Aquilo já era demais!
- Solte - me! -saí do colo dele e corri para o meu roupão- Eu sou casada, me respeite! -falei, um pouco alto demais.
- Casada? -riu sarcástico- Garota você tem o que? Dezoito anos? Dezessete?
- Sou, sou casada sim, e não te devo satisfação nenhuma sobre a minha vida. Porém o senhor foi um tremendo de um sem vergonha ao colocar a mão na minha...
- Liliana, por favor, acalme-se. -Calvin interviu, vendo que eu tinha me alterado bastante- Ricardo, você foi anti-profissional!
- Essa garotinha não vai fazer eu perder meu emprego!
- Essa garotinha é bem mais esperta que você!
- Óbvio que não! Você não presta nem para ser uma vagabunda qualquer!
Óbvio que eu dei na cara dele. Oito tapas.
- Vagabundo é você, sem caráter!
- Liliana, vamos embora. -insistiu Calvin- Pelo bem da sua carreira.
- Calvin ele me chamou...
- Ele vai pagar. E você também, se não se controlar. -me puxou para o camarim- Controle-se, não pode se exaltar desse jeito. -falou, me entregando um copo d'água.
Bebi o copo de água, e vesti a roupa por cima da lingerie, que eu tinha ganhado. Peguei o primeiro táxi e fui para casa, com um sentimento de vergonha, mas orgulho por ter dado uns bons tapas naquele metidinho a besta. Eu mal pisei no Jardim e vi móveis entrando e saindo, e muita gente andando para lá e para cá. Entrei em casa e dei de cara com a arquiteta dando em cima do meu marido.
Eu nunca fui de sentir ciúme. Nenhum dos meus clientes tinha compromisso comigo, então aprendi que ciúme não era uma palavra do meu vocabulário. Porém ver aquela loira dando em cima do meu marido... ah, foi demais. Ainda bem que aqueci minha mão nos tapas que dei no bonitão filho de uma puta.
- Olá! -cheguei perto de Eduardo, e dei-lhe um beijo na boca, não de língua, mas o suficiente para colocar a loira no lugar que lhe pertencia: ser nossa arquiteta.
- Olá, meu amor. - sorriu.
- Olá. -disse Ana, a arquiteta, com uma cara de poucos amigos.
Puxei uma cadeira e falei um oi seco. Nós montamos o quartinho de Samuel, e depois alguns detalhes do jardim. Assim que fechei a porta, e coloquei aquela víbora para fora, finalmente pude estar nos braços do meu marido, intacta.
- Como foi o ensaio?
- Péssimo, Dudu. -murchei na cadeira- Era um ensaio de lingerie... -vi seu rosto endurecer aos poucos, porém, era nítido que estava com ciúmes- aí o cara ficou...
- Cara? Que cara?
- Sei lá! -respondi com desdém- Eu não liguei muito até ele apertar a minha bunda, aí eu voei para cima dele, e acabei com o ensaio. Pronto, resumido.
- Liliana! Eu iria quebrar a cara desse sujeitinho em mil pedaços, se você tivesse me falado.
- O que importa é que eu nunca mais vou ver a cara dele. -deitei a cabeça no peito dele- E eu... tô com saudade. -abraçei sua cintura, e ele relaxou no meu abraço- Não foi nada fácil, Dudu, saber que eu estava sendo desejada, principalmente pelo...
- ELE FICOU DE...
- Shiiiiiu! -o calei com um selinho- Sabe quando tudo volta? -ele assentiu- Pois então, essa era eu quando eu senti... -fiz cara de nojo.
- Liliana, antes de você fazer esses ensaios, tente descobrir quem é o modelo com você. -acariciou meu cabelo- Agora, se isso voltar a acontecer, eu não penso duas vezes antes de colocar você como modelo da Adidas.
Acabei assentindo, pois nem eu queria que voltasse a acontecer novamente, até porque eu iria perder meu emprego na agência.
Após buscarmos Samuel no colégio, nós jantamos e fomos para o "quintal" da casa. Sentei na rede, enquanto Samuel e Eduardo jogavam bola. Acabei voltando ao assunto "família", dentro da minha cabeça, óbvio. Eu tinha Eduardo, Samuel e Alana como a minha família. Três pessoas que... São o meu tudo. Eduardo, chegou de mansinho, sabendo o que queria, e conseguiu. Samuel foi o nó que começou o nosso laço. Devo tudo para esse menino, e tê-lo como filho... é mais do que um presente. E o que falar sobre Alana? A irmã que eu ganhei? A menina que me ajudou a conquistar um lugar no meio das prostitutas para conseguir o que comer. Bem, eu tinha minhas três âncoras, e eu as amava de paixão.
Depois que Eduardo entrou na minha vida, sim, eu fiquei mais relaxada, mais boba, mas acho que foi por conta do sentimento. Eu sinto por não conseguir dizer eu te amo para ele, mas eu não consigo. Já tentei, já ensaiei até! Mas na hora não saí. Fobia, acho. Medo de amar e perder, como sempre, medo de demonstrar e ele ir embora. Medo, medo e medo.
Olhei para meus meninos que ainda jogavam bola no quintal, e fiquei feliz ao vê-los felizes. Eduardo nunca reclamou uma vez da empresa, e eu sei que é cansativo, mas mesmo assim ele chega em casa com o sorriso mais lindo do mundo, correndo até Samuel e me dando um beijo de "oi, estou aqui".
Soltei uma risada quando Eduardo caiu na piscina, por puro deslize. Samuel gargalhava de rolar na grama. Porém, lembrei que tínhamos acabado de jantar. Aos tropeços, tirei Eduardo da piscina, gritei que Samuel fosse pegar meu celular,  para que eu tivesse a chance de salvar o que me restava de vontade de viver. Não, dessa vez eu não ia perder ninguém. Mas puxa! Ele estava roxo, procurando ar, e eu só conseguia pedir que não o tirassem de mim. Eu deveria estar pedindo que ele conseguisse viver, mas eu não podia deixar de pedir para ele não me deixar sozinha! Eu não conseguiria.
Olhei no rosto dele novamente, preenchido por todas as cores menos a sua normal. Lágrimas deixaram meus olhos turvos e a única coisa que eu enxerguei foi enfermeiros com o desfibrilador reanimando meu marido. Samuel, assustado, se escondeu no meu peito e chorava baixinho.
- Cuida dela! Cuida dela! -ouvi algum deles falando, porém eu estava em estado de choque. Já era a sexta vez que eles tentavam reanimar meu marido... e nada. Nada que pudesse me dar a chance de dizer que ele estava vivo. Vi balões de oxigênio entrando e mais um choque. Algum dos enfermeiros segurou no meu pulso, mediu minha pressão e ficou do meu lado, enquanto eu chorava, desperada, sem nenhuma força para correr até ele e implorar para que viva.
Então veio a maca. Depois ele sendo colocado sobre ela, depois ele sendo levado para a ambulância, depois ele foi embora. O enfermeiro ainda estava do meu lado.
- O papai vai morrer, mamãe? -Samuel me perguntou.
- Não, meu filho. -beijei sua testa- Qual hospital que ele está? -passei o dorso da mão nas minhas lágrimas, enquanto falava com o enfermeiro.
- No Hospital São Victor. -me ajudou a levantar- A senhora não tem condições...
- Claro que eu tenho. -segurei Samuel no colo- Eu já passei por isso, não uma, várias vezes. Sozinha.
- Sinto muito... -comentou, enquanto andava atrás de mim pela casa.
- Preciso que fique com o meu filho, hospital não é lugar de criança.
- Eu vou ver o papai!
- Não, Samuel. Hoje não. -e seu corpinho começou a soluçar.
- Senhora, eu fico com o seu filho. -o enfermeiro falou, meio tristonho pela minha situação.
- Tenta dar alguma coisa para ele comer, ou, nine-o... não sei. Eu preciso ver meu marido.
Subi com Samuel no meu colo, e o coloquei em sua caminha, mesmo sem ele querendo se desgrudar de mim. Deixei tudo em ordem para que o João -o enfermeiro mais fofo do mundo- cuidasse do meu filho. Eu não devia confiar a minha casa, principalmente meu menino nas mãos de alguém que eu não conheço, mas eu precisava ir até Eduardo. (...)
A sala de espera era até confortante. Avós estavam ansiosos pela chegada do neto, outros esperando a cirurgia plástica da amiga, e outros, assim como eu, angustiados na espera de notícias. Lucas estava entre os meus. Ele estava triste por conta da prima, e também estava sozinho. Nós demos colo um para o outro, e assim nossa solidão e angústia não puderam tomar conta e fazer nós nos desmontarmos em lágrimas. O médico foi bem sucinto, quando disse que a prima de Lucas não tinha muitas chances. Eu o entendi, e falei tudo que a pediatra me disse quando eu tinha apenas quatro anos e estava quase perdendo o meu pai. "Tudo é questão de ser. Você é pequena ainda -essa parte eu pulei- mas aqui dentro do seu peito, tudo é enorme e sempre há uma luz". No meu caso, não houve nada. Mas eu tentei acreditar que sim.
O médico que atendeu meu marido, me chamou e nós fomos para seu consultório.
- Deve imaginar que comida e piscina não se misturam.
- Ele caiu.
- Eu sei que ele caiu. Tropeçou no próprio pé, torceu o tornozelo e caiu na piscina após o jantar. -assenti, pois ele realmente tinha caído daquele jeito- Senhora Liliana, seu marido sofreu uma parada cardiorrespiratória, por isso ele estava roxo e muito inchado. Caso queira saber, ele chegou a falecer, nas nossas mãos, aqui no hospital. -baixei o olhar- Mas por milagre, ele está vivo. -olhei para o doutor na minha frente- Ele é um rapaz forte, tanto que está acordado chamando pela esposa. -sorriu de lado- Foi um milagre.
- Posso ir vê-lo?
- Pode e deve. -sorri.
Com um pouco mais de calma, fui até o quarto que ele estava. Abri a porta e vi meu marido entre alguns fios, um cano levando oxigênio e com o pé naquelas botas ortopédicas. Mesmo assim, ele abriu aquele sorriso lindo, de enrrugar os olhos e de de aquecer a esperança no meu corpo.
- Dudu... -corri até ele, e o abraçei com toda a força do mundo- Nunca mais faça isso comigo! -beijei sua bochecha.
- Não vai se livrar de mim tão cedo... -sorriu, e segurou na minha mão.
- Nunca quis. -sorri de lado, beijando com delicadeza sua boca. Ele tentou iniciar um beijo decente, com línguas e tudo mais, porém o médico chegou.
- Pô, doutor! -Eduardo riu.
- Sinto muito! -riu- Senhora Liliana, como pode ver, seu marido está ótimo. E vai ser liberado amanhã, portanto pode ir para casa, seu filho está lhe esperando.
- Você deixou o Samuel...
- Não! Um enfermeiro ficou cuidando dele. -rimos. Nos despedimos, com um beijo demorado e deixei o celular dele com ele. Peguei um táxi e voltei correndo para casa, e quando cheguei, dei de cara com Samuel e João deitados no sofá, dormindo. Sorri comigo mesma ao ver meu menininho bem. Aliás, agradecer por tudo estar bem.

Só mais uma NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora