Ele enfim apareceu.

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2° capítulo.
Após a ducha que tomei depois que cheguei do Hoolygangs, deitei no meu sofá e fiquei assistindo a um programa de humor qualquer, mas minha cabeça estava longe. Decidi ler um livro, e escolhi um romance desses, bobos e que nunca iriam acontecer na realidade. Bom, comigo pelo menos não.
Chegou uma mensagem no meu telefone profissional. Era o cretino atrevido. Perguntou porque eu não o esperei para acordar, e bem seca, respondi que a minha função não era velar seu sono, e sim, fazê-lo gozar e pronto, acabou. Ele me respondeu que queria me encontrar de novo. Que queria um dia na minha aguenda que pertencesse só à ele, e que ensinaria algumas coisas. Que coisas? Por acaso ele ia me ensinar a fazer sexo melhor? Haha. Não. Marquei para amanhã, já que era o dia mais próximo e ninguém queria me comer numa terça-feira. Agora queriam.
Passei minha pomada, tomei um anticoncepcional e fui verificar alguns papéis. Então a pasta com os meus dois abortos caiu, me fazendo ter que vê-la novamente. Enquanto minha mão direita folheava os papéis, a esquerda se ajeitava na minha barriga, bem perto do meu ventre.
Dois bebês inocentes. Duas vidas jogadas fora. Duas pessoas que você assassinou, repetia meu coração em meus ouvidos. Eu sentia essa dor, mas eu nunca vou ter um filho. Nunca vou ter uma família. Família se vai. Filhos vão. E eu? Fico, como sempre.
Guardei aqueles papéis idiotas e fui dormir. Nada poderia piorar mais que aquele bendito dia. (...)
- Primeiro, eu gostaria de lhe ensinar uma coisa.
- Que coisa? -cruzei os braços.
- Homens gostam de seios.
- Eu odeio que toque nos meus, tire seu cavalinho da chuva.
- Qual a sua função nesse emprego? -o atrevido me questionou, com o queixo arrebitado- Obedecer seus clientes. -revirei os olhos, mesmo sabendo que era a mais pura verdade- Comece de agora, tire o sutiã.
- Qual o seu problema, hein garoto? -lhe incrédula para ele- Eu disse que ninguém toca meus seios.
- Por que?
- Da última vez que contei alguma coisa para você, você me levou para cama. Eu me recuso a confiar de novo.
- Você deveria investigar mais a vida dos seus clientes... -abraçou a minha cintura com um dos braços, enquanto me levava para a cama- E saber que pode confiar em alguns. -sussurrou em meu ouvido, fazendo minha pele se arrepiar.
- Então, quem é você?
- Além de ser seu cliente, sou vice-presidente da Carter's e psicólogo nas horas vagas. Sim, sou graduado pela Hawvardg.
- Muito mais do que eu esperava... -sussurrei, sendo jogada na cama por... bem, qual era o nome dele?
- Eu não vou mentir, não esperava outra reação. -passou a mão pelo meu corpo, abaixando a minha calçinha- Mas você não pode se deixar levar por qualquer um.
- Eu não sou o FBI. -cruzei os braços- Eu sou uma prostituta que sobrevive de sexo porque perdeu tudo que tinha na vida.
Levantei, vestindo a minha calçinha e indo para qualquer canto. Eu não queria mais olhar na cara dele. Não queria que ele me visse mexida. Eu não podia ter sentimentos, era o mínimo que a minha profissão exigia. Então ele me abraçou, encaixou a mão nas minhas costas com cuidado, me levando para mais perto dele.  Enlaçei meus braços na sua cintura e encaixei meu rosto em seu peito. Um encaixe perfeito. Um abraço desenhado para e por nós.
E os sentimentos vieram. Uma onda deles.  O que estava acontecendo comigo? Aliás, tudo acontecia depois que ele entrou na minha vida e bagunçou o meu eu idiota. Ele estava aos poucos, me tirando do meu foco de emprego, me prejudicando como podia. Como ele era capaz?!
- Perdoe-me por isso. -me afastei, e então vi que chorei- O senhor vai querer o que de mim hoje?
- Nada.
- Então posso ir? -desviei o olhar. Acho que eu não queria ir embora.
- Não. -respondeu, arrumando o cabelo. Nossa, que homem sexy... Não. Não o olhe assim.
- Então o que eu vou fazer aqui? Ficar te olhando? -perguntei irônica.
- Com certeza iria adorar ficar. -sorriu malicioso e meu estômago revirou de... felicidade?- Mas hoje eu quero te dar prazer. -a minha função, você quis dizer- Há quanto tempo não goza? Estou dizendo de verdade, mocinha.
- Desde quando... -baixei o olhar para os meus pés. Da última vez que eu cheguei a ter um orgasmo de verdade, fiquei grávida. Isso não podia acontecer- Eu prefiro não tocar nesse assunto.
- Mas eu quero que me fale. Você tem que me obedecer, chica.
Aquele sotaque espanhol... Ele... Ele não era dali então...
- Yo no puedo hablar.
- Você fala espanhol?!
- Do mesmo jeito que você. -olhei para ele, e vi aquelas duas esmeraldas cintilando. Ele... estava... surpreso!
- Pois então vai gozar hoje, querendo ou não.
- Não vou. Vou fingir. É isso que eu faço sempre. Já é normal para mim e você vai precisar fazer milagres para me ver gozar.
As duas vezes que eu cheguei ao céu e voltei, foram aos dezesseis anos. Eu ainda era muito nova, mal sabia como fazer sem ser pressionada, então deixei rolar. Veio a primeira gravidez. Os enjôos, as tonturas, náuseas durante um cliente... E o primeiro aborto. O homem com o qual eu tive um filho, tocou nos meus seios. A segunda vez foi com um rapaz, que, na época tinha a minha idade. Ele tocou nos meus seios. Ele me fez gozar e então veio tudo de novo. E o segundo aborto.
Eu sentia prazer nos meus seios. Era ali que eu me entregava, ali eu recarregava as minhas energias. Então eu não deixei com que eles fossem tocados. Eu não suportava chegar ao orgasmo e depois de um mês vir um bebê. Então eu evito.
- Eu consigo. Você vai gozar. -disse o rapaz atrevido. Então pagaremos para ver.
Sem que ele tocasse uma única vez na minha "área proibida", seus movimentos fizeram sair gemidos verdadeiros da minha boca. Ele conseguiu fazer com que eu fechasse os olhos e sentisse aquele entra e sai violento, ou as vezes um leve balanço entre as minhas pernas.
Dentre arranhões, puxões de cabelo, apertadas naqueles músculos, a moleza que eu senti nas minhas pernas foi o único sinal de que eu estava viva.
Minha coluna se arqueou toda para ele, exibindo com carinho o meu peito, farto. Meus olhos fechados, a contração da minha vagina, o coração acelerado e grito de prazer preso na garganta.
Ele percebeu o que tinha feito. Ele notou que eu não ia me entregar fácil assim. Ele sabia que eu ia gozar, mesmo não querendo.
Meu peito ameaçou sair do sutiã, mas eu o arrumei, e segurei firme nos lençóis. O meu cliente suava, estava tenso, exausto, mas mesmo assim, ele sentia o que eu sentia. Prazer.
Foi sem aviso prévio. Gemi alto, gemi de verdade, foi para ele. Gozei para ele, e puta merda! Isso é ir no céu e voltar várias e várias vezes. Ele se abaixou, chupou meu clitóris e me chupou.
- Eu fiz milagre? -disse com a voz rouca, com carinho, com... sentimento.
- Fez. -foi a única coisa que eu respondi, mesmo de olhos fechados, respiração descompassada, coração acelerado, cansaço e muito de mim que eu não conhecia.
- Eu merecia um beijo por isso.
Beijos. Eu adorava beijos.
Meu inconsciente tocou os lábios dele nos meus, durante três minutos. Era bom, gostoso, nosso.
Meu estômago estava agitado, como se existissem pequenas borboletas batendo suas asas dentro de mim. Mas eu acabei caindo no sono, contrariando meu próprio trabalho. Dormir na cama do cliente.
Tateei a cama as cegas, procurando pelo meu despertador, que não tocou naquela manhã. Abri meus olhos, e não reconheci onde eu estava. Não tinha despertador nenhum, aliás, tinha algo se despertando com o meu toque.
- Eu espero você acordar. Viu, como se faz?
- Senhor... -levantei assustada, envergonhada.
- Volte. -me puxou de volta para a sua cama, para seus braços- Meu nome é Eduardo. O seu é?
- Senhor, eu preciso ir.
- Não, você não vai. Não são nem nove da noite, e você reservou seu dia para mim. Devo usá-lo como eu preferir.
- Por favor, me deixe ir... -supliquei tal ação, acho que eu ia desabar a qualquer momento, e não podia ser na frente dele.
Eduardo me soltou, e eu me vesti rapidamente, pegando minha bolsa e dando um tchau baixinho e envergonhado para ele. Corri de volta para o meu apartamento, tomei o anticoncepcional, uma ducha e um chá. Finalmente em casa, pude avaliar a merda que eu tinha feito. Será que ele pensa que eu sou sucessível a ele agora? Que eu me entrego daquele jeito para qualquer um? Por que é pura mentira. Eu nunca fiz aquilo. Nunca foi daquele jeito. E eu ainda o beijei! BEIJEI! Como isso aconteceu?
Droga, droga, droooogaaa!
Parei em frente ao meu espelho e repeti a minha frase para que eu não saísse do rumo.
- Você é uma prostituta. Você precisa desse dinheiro. É assim que você vive.
Mas agora eu já não me convencia mais. Já não fazia mais sentido para mim. Mas eu precisava daquilo.
E foi assim o resto do mês. Muitos tapas, muitos caras, e descobri que fazer sexo com mulheres não é tão estranho. É bom! Elas sabiam meu ponto g, e não tinha nem a dor de uma penetração indesejada, o que acontecia na maioria das vezes.
O presidente da Carter's era mais velho, bem mais velho e me machucava sempre que podia. O sexo com ele era ruim porquê ele além de me ofender, me batia. Cancelei o contrato com ele, e paguei pelo meu cancelamento. Eu não queria mais. Aliás eu não queria mais aquela vida que eu levava.
- Oh, Jonh... você é tudo para mim... -disse Linda para o seu namoradinho- Não sabe o quanto lhe desejo... -campainha tocando.
Ué. Não me avisaram de ninguém subindo para me entregar alguma coisa. Pausei o filme, e fui atender. Era Eduardo. Seu sorriso animado, seu olhar brilhando e um buquê de flores imenso na minha porta.
- Oi... ATCHIN!
Ótimo, crise de espirros por conta de um buquê. Tá, eu tinha alergia à rosas. Eduardo jogou o buquê no chão e entrou, fechando a porta para que o cheiro ficasse do lado de fora.
Quando a alergia foi passando, minha voz ficou fanha por um tempo, até finalmente os espirros cederem.
- Desculpe não te procurar.
- Você não tem esse... atchin... dever.
- Tá. Chegou um envelope para você lá em baixo, me pediram para te entregar. -estendeu o envelope pardo.
- Como você sabe que eu moro aqui?
- Te segui aquele dia. -revirei os olhos- Não foi certo, mas eu queria vir te pedir desculpas pelo meu modo de agir com você aquela tarde.
- Sem problemas. -baixei a cabeça, abrindo o envelope e escondendo o roxo que estava na minha face.
- Eu queria que sua vida não fosse assim... -ele falou em um português, claro e limpo, como de um nativo brasileiro- triste e vazia.
- Hã? Como disse? -fingi de desentendida.
Quem ele realmente era? Ele falava português! Um estrangeiro não fala  português assim, nem tentando.
- Nada, sirena.
Minhas bochechas ganharam um tom avermelhado e um sorrisinho bobo surgiu no meu rosto.
- Eu... O que? Isso é ridículo! -eu disse, lendo o envelope- MERDA! -atirei o papel no chão, pisando e quase rasgando.
- O que foi?
- Ordem de despejo. Esqueci de pagar nesses últimos dias. Mas não deu muitos clientes esse mês... droga. -gemi, me largando pelo sofá.
- Olhe, minha casa tem um sofá macio disponível para você, mentira, tem um quarto.
- Você só pode estar louco. -eu ri- Clientes não podem se envolver com as suas prostitutas fora da cama. Aliás, você não devia nem ter vindo aqui. Me ligasse e eu ia até você.
- Não posso. Eu tinha que vir. Eu precisava te ver.
- O que você quer comigo? Mais sexo? Meus peitos? Me comer até eu cair desmaiada? Avise. Eu te dou. Tudo que quiser.
- Não, Liliana, eu quero você.

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