Eduardo é um traidor

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21° capítulo
- Arrasa, Lili. -Calvin disse.
Subi na passarela, dei o meu melhor, porém, na volta, aqueles flashes me deram a mesma sensação, de angústia. Entrei no camarim novamente, sentei, bebi água e respirei fundo.
- Lili, chega. -Alana falou, séria.
- O que?
- Você não vai desfilar nos próximos desfiles.
- O que?! -me alterei.
- Liliana, você não tem condições, não force seu bebê, nem seu corpo.
- Alana, é meu...
- Sua filha também é seu sonho. -acariciou meu rosto- Está na hora de você se dedicar à ela.
Sorri sem abrir os lábios, triste por ter que refazer as minhas malas. Aliás, eu saí de lá antes que qualquer pessoa me visse. Chorei, tanto que comecei a soluçar. Entrei no quarto correndo, peguei meu telefone e liguei para... o médico. Não, melhor não. Desliguei. Tentei Eduardo, mas deu telefone só dava caixa postal e Samuel devia estar nas nuvens com a Bia, tanto que nem tentei.
Peguei minha mala, arrumei do melhor jeito que pude, comprei uma passagem para daqui a meia hora. E fui. O táxi estava ali, na minha mão. Usei os quinze minutos que me restavam para fazer todas as burocracias e enfim, cheguei ao confortável assento no meu vôo.
Conectei meu fone na entrada do pequeno tablet, passei algumas músicas e pronto, desliguei o telefone e curti minha viagem de volta para a minha casa. Agi no impulso, mas eu estava com raiva de Alana, raiva por ter deixado mostrar que eu não estava nada bem.
- Você não está muito bem. -o rapaz tocou a minha testa.
- Dor...
Tanta dor, no peito, que acabei cedendo ao cansaço, caindo no sonho mais louco. (...)
No Brasil, era madrugada quando cheguei. Ainda bem que eu levava a chave de casa para qualquer lugar que eu ia, então nem precisei incomodá-los para abrirem a porta para mim.
Deixei a mala na sala e subi, passando pelo quarto de Samuel e ouvindo barulhinhos nem um pouco agradáveis... encostei a mão na maçaneta do meu quarto e gelei ao abrir apenas uma frestinha. Eduardo estava na cama com outra. Ah, aquilo sim doeu. Aquele cachorro...
- Você não sabe o quanto eu te amo... -falou a mulher.
- Eu te amo mais ainda... -respondeu o cachorro do meu ex-marido.
- Eu quero te dar o mundo, Dudu.
- Você já está me dando. -ele passou a mão sobre a barriga dela- É tudo que eu preciso.
E os dois voltaram a se comer como canibais. E eu assisti. Fechei a porta e desci para sala, ainda em choque, mas sem conseguir derramar uma lágrima sequer. Eu tinha perdido a Alana e o Eduardo num só dia.
Mais uma pontada... Mais outra...
Relaxei. Meu coração desapegou-se daquela menina na terceira pontada que levei. Como sempre, eu ia perder. Mas Eduardo já tinha conforto de um filho em outros braços. E eu, burra, tentando dar isso à ele igual uma idiota. Mudei meu corpo, mudei minha rotina, perdi meus desfiles... é, essa sou eu. Uma perdida na vida. Sem pai, sem mãe, sem irmão, sem amigos... nem Samuel eu tinha mais. Ainda me julgo por ter me entregado tanto ao Eduardo. E justo quando eu consegui perder meu medo de apenas falar um "amor", ele vem e acaba comigo de vez. Mas eu não ia deixar barato. Eu ia fazer Eduardo me contar quem era a mulher, e para isso, eu preciso de um plano muito, muito mirabolante para deixá-lo sem graça.
Na manhã seguinte...
Passei o resto da noite enfiada no banheiro das visitas. Escondi a minha mala no baú do sofá, um lugar que eu sei que ele nunca abriria, nem sentiria. Eu deixava uns biquínis extras aqui, portanto, não foi difícil ver um que comprei na Califórnia, que ele achou tão lindo, que transou comigo na praia mesmo. A transparência indecente era encantadora. Era umas oito da manhã, as empregadas estavam chegando e eu saí para ligar o aquecedor da piscina. A luz do sol já era boa, mas eu prefiria não pegar uma gripe.
Samuel e Bia desceram umas nove da manhã, tomaram café e eles logos vieram para a piscina. Bia pulou de susto e eu morri de rir, por dentro, por fora eu estava apenas soltando sorrisinhos. Mal pude esperar para entrar na sala de estar quando o cachorro e a vagabunda sentaram na minha mesa favorita. A reação de Eduardo... aah! Foi a melhor.
- Bom dia, meu amor. -falei, segurando as bochechas de Eduardo, começando um beijo quente, mas logo o soltei- Bom dia... -fiz uma cara de nojo.
- Thalia.
- Bom dia, Thalia. - respondi, dando a volta na mesa até ficar do lado dela- Se não sabe, este é o meu lugar.
Bem... Eu joguei a ambiguidade para o meu lado.
- Sim, claro, desculpe. -levantou correndo e sentou no lugar de Samuel.
- Querida, este é o lugar do meu filho, e como eu não a conheço... prefiro que se sente... Bem, ao meu lado! Perfeito para conversarmos.
A idiota realmente sentou ao meu lado.
- Liliana, o que está fazendo aqui? -o sorriso nervoso era claro.
- Nossa filha. Achei que quisesse passar essa fase com ela por perto, como me disse na vídeo chamada.
Samuel e Bia sentaram-se devagar.
- Ah, claro. -sorriu de lado- Nossa tão amada filha.
- Então, Thalia... tem filhos?
- Não, mas quero muito.
- Ah claro. Não sei o que fazia na minha casa, às nove da manhã, descendo dos quartos acompanhada do meu marido, mas acredito que você seja uma boa moça apenas precisando de um lugar para dormir.
- Liliana... - Eduardo começou.
- Eduardo! Estou sendo receptiva com a Thalia.
Samuel olhou para Bia. Ele sabia. Ele sabia e não tinha me dito nada.
- Acho que poderemos ser grandes amigas. -segurei na mão da vaca- Inclusive, quero que passe o dia conosco.
- Ah, não, não é necessário.
- Claro que é! -afirmei- Vamos nos divertir, juntas.
Se antes eu não socar a sua cara. Aliás, devia fazer isso com a do meu marido.
Eduardo estava nervoso, mais precisamente agitado. Eu, ansiosa. Minha barriga até tinha murchado. Sim, minha filha sabia muito bem quando precisava se esconder e me deixar com um corpão.
E o dia passou. Eu e a tal Thalia não nos desgrudamos, para que Eduardo sentisse muito ódio de mim. Mais do que quando nós brigamos pela última vez. À noite, só restou nós três. E como aquilo já estava entalado...
- Eu fico feliz de vocês terem noção, pelo menos. -falei- Só não esperava. Eu não ligo de levar chifre... só pensei que você não fosse fazer isso na minha cama.
- Lili... nosso casamento já tinha desgastado.
- Eu não corri atrás de outro. Você podia muito bem ter terminado comigo.
- Liliana... Eu não terminei com você, porque eu sabia que você estava grávida. Eu não queria te abandonar, não era justo. Quando você me contou, eu explodi. A Thalia já tinha me contado que estava esperando um filho meu, então, quando você me contou eu... já não queria mais.
- Eu li seu diário. Você disse que... -respirei fundo- Eduardo.
- Eu falei que eu queria esse filho que você está esperando. -olhou para mim- Eu sempre quis. Mas você não conseguia.
- E então você foi atrás de outra. -ele assentiu, e Thalia baixou os olhos- Outra que te desse o que eu nunca pude te dar, mas que agora está aqui... -coloquei a mão na barriga, que estava agitada- Eu te entendo, Eduardo. Eu sei que nunca disse um eu te amo, nem chamei você de amor, como você sempre fazia comigo... Eu sei que você queria alguém que demonstrasse seus sentimentos. Eu demonstrei. Só não com palavras, como a Thalia fez.
- Você ouviu? -ela perguntou.
- Eu vi. - Respondi e Eduardo afundou a cabeça na cadeira da mesa- Eu demonstrei em gestos, em tentativas que frustaram... E agora está dentro de mim... o único amor que eu consegui viver, intensamente, verdadeiramente.
Eduardo abaixou a cabeça, e Thalia reprimiu o choro.
- Eu sinto muito. - Eduardo disse.
- Não, você não sente. -falei- Você foi o meu amigo, o meu melhor amigo. O único que eu contei a minha vida toda, porque eu precisava de ajuda. O único com quem eu chorei. Ontem eu perdi a Alana... e hoje, você. - Eduardo começou a chorar- Eu quero te pedir perdão por ter tropeçado em você no elevador. Sinto muito por ter entrado na sua vida. -nós ficamos em silêncio por um tempo- Aliás, não tenho mais motivos para ficar aqui. -levantei, mas ele agarrou meu pulso, me fazendo sentar novamente.
- Liliana, eu não fiz porque eu quis, eu estava mal, e eu não queria descontar em você. Você já levou muitos problemas na sua mala, e eu não queria ser mais um. Só que eu me apaixonei pela Thalia... Foi tão intenso que eu me entreguei. Nós vamos ter um menino. E eu e você, uma menina.
- Nós podíamos ser três. É diferente, mas...
- O Eduardo não vai dar conta de nós duas. Então, nunca, nem em sonho. -tentei me levantar, mas ele me segurou novamente- Qual é, Eduardo?! -me alterei- Eu não tenho pra onde cair morta, ou você acha que eu vou ficar aqui? Vendo o casalzinho apaixonado criar o bendito menino enquanto eu me fodo com a minha filha pelo mundo? Não, eu tenho que procurar um lugar para ficar, pagar a porra de um aluguel, e viver bem longe de você. É isso que eu quero. Agora vê se me larga! -soltei da mão dele- E olha aqui, aquela merda de empresa ainda é minha. Não ouse tocar num documento do meu pai para dar tudo para esse garoto. -saí batendo os pés e arrumando as minhas malas, mas então eu percebi o quão burra eu estava sendo. Deixando a minha casa para uma vagabunda qualquer.
- Quer saber? -desci correndo- Some da MINHA casa! Vocês dois! Você tem a droga de um apartamento em Nova Iorque, leva ela para bem longe de mim. -me dirigi ao meu ex-marido- E eu quero o divórcio.
- Vou arrumar as minhas coisas.
Eduardo passou por mim para subir. Thalia chorava, mas eu não tinha pena. Aqueles dois acabaram com a minha vida, e o mínimo que eu faria era acabar com a vida deles. Eduardo demorou um pouco, mas desceu. Os pombinhos deram as mãos e saíram.
- Eu posso, pelo menos, vir ver meu filho e a minha filha?
- Pode. -segurei bem firme na maçaneta- Agora some.
Bati a porta, tranquei e escorreguei até cair no chão, chorando demais. Ele não merecia, eu sei, mas eu merecia. Merecia colocar para fora, tudo que eu sentia aqui dentro, sem que me doesse.
Peguei meu celular, vi as cinquenta chamadas perdidas da Alana e trinta do Calvin. Revirei os olhos e quis jogar meu telefone longe, mas eu somente retornei a ligação.
- Liliana? -a voz de Alana invadiu meus ouvidos- Ah! Até que enfim! Eu fui em todos os hospitais, todos os lugares que você me disse serem seus favoritos aqui e nada... sério Lili... onde você se enfiou? Nem suas coisas estão aqui! Mudou de hotel? Calvin está maluco atrás de você. Lili? -silêncio- Lili... -falou manhosa- desculpa. Eu não aguento mais ver você desse jeito, deprimida por perder seus bebês. Não quero que nada aconteça com essa menininha linda que está na sua barriguinha. Lili? -acabei fungando alto demais- Ai Liliana! Você está chorando! Amiga, onde você está? -senti a preocupação na sua voz- Lili? Irmã?
- Em casa. -por fim eu falei- Peguei o primeiro vôo, queria o abraço do Eduardo pois pensei que tivesse perdido você. Mas ai eu chego... Alana... -voltei a chorar- Alana eu peguei ele na cama com outra, Lana!
- Ai meu Deus, Lili! O que você fez? Você não pode se estressar...
- Eu vi tudo, cada segundo... até o eu te amo deles. Depois eu fechei a porta e esperei eles acordarem para fazer uma surpresinha. -falei irônica- Até o Samuel sabia, Lana! Até ele! -soquei a parede- Ele ainda teve coragem de me dizer que não tinha mais desejo comigo, que nosso casamento tinha se desgastado e que se apaixonou pela vagabunda da Thalia. Você acredita que eles vão ter um filho? É, pois é.
- Liliana! Lili, eu queria tanto poder te dar um abraço... eu não acredito que ele fez isso! Logo o Eduardo, que casou com você do nada... Vocês pareciam tão... Vocês combinavam, Lili.
- Passado, Lana. -respirei fundo- Vou cuidar da minha princesinha, ser tudo para ela, tudo que eu não pude ter.
- Sinto muito, Lili.
- Eu também. -suspirei- Voltei para o Brasil, talvez tenha sido bom. Descobri que meu marido me traí, e vai ser pai de outro. -deitei no sofá- Expulsei ele de casa e... tô sozinha. De novo.
- Amanhã eu volto para o Brasil, assim que acabar os desfiles. -falou tristonha- Só para socar a cara daquele bundão.
- Eu quero ver de camarote. -soltei um sorrisinho.
- Verás. Beijo, te amo mana.
- Também... te amo. -sorri comigo mesma- Tchau.
Nós desligamos juntas e eu afundei minha cabeça no sofá. Chorei até dormir, o que demorou bastante. Agora essa sou eu: Liliana Lovatti Hernani, solteira, grávida, e depressiva.

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