A liberdade é uma queda livre

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Me sinto essa criança distraída num balanço que pegou embalo demais, sem saber descer. Quase que em sequência, o vigor das coisas que me seguram sumiu, nesse ímpeto de querer achar a capa pra lidar com os dilemas do próprio nariz. Eis que as cores de sempre também desbotam, mas a gente não admite (ou não percebe). Quanto mais distante, mais difícil manter os pés no chão, os mesmos lugares já não soam tão familiares, a sensação boa de não se segurar em nada é passageira, e o hábito de “mudar” sempre nos mesmos cenários na verdade não nos prepara pra nada. Penso se valeu a pena não dormir outra vez por não saber lidar com novas perspectivas, se estar solto tem mesmo a leveza da autossuficiência (achava que sim). Mas determinados momentos não merecem o papel, assim como exageros, que, por outro lado, merecem intervalos; não tem problema estar despreparado pra cair na foça de “Free Fallin” uma hora ou outra, e escrever sobre ela, a liberdade abre esses espaços. Entre tantas outras reflexões essa é a que mais tem durado (como se eu conseguisse não tropeçar na consciência toda vez que ouço John), há dias não me encosto em conversas, escrever tem feito mais mal do que bem, mas me assusta a maneira em que algumas letras antecipam tantas fases, e como respondem ainda mais quando as vivencio. Não sei se isso vira relato, ou se são mais linhas que seguem a bagunça – que sou – mas voltei, pra cair. Sem resguardos, estar livre é correr o risco de não ter mais ninguém a quem culpar, caminho que estreita toda vez que a solidão aperta, não por acidente.

– Perina.

Carta Aberta Ao Meu (Quase) AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora